segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PABLO CAPILÉ E OS PRIMEIROS PASSOS DA NOVA MINISTRA DA CULTURA, ANA DE HOLLANDA

Maurelio Menezes

Pablo Capile, produtor cultural
Ontem postei aqui  a análise do produtor cultural e  ex secretario municipal de cultura de Cuiabá, Mario Olimpio, que você pode ler logo abaixo deste post. Há pouco no Twitter, Pablo Capilé, outro dos importantes produtores culturais de Mato Grosso,  fêz uma análise do que poderá ser a gestão da nova ministra Ana de Hollanda, a partir de seu primeiro discurso oficial. Ele não gostou, no que foi seguido por outros tuiteiros. Abaixo, a série de tweets postados por ele que, no geral, exprimem seu pensamento. Como o de Mario Olimpio, é uma visão que deve ser levada em consideração porque Pablo é essencialmente do ramo. Para quem não o conhece, Pablo  é o gestor do Circuito Fora do Eixo em Cuiaba, Diretor da Abrafin- Associação Brasileira de Festivais, ativista da Rede Musica Brasil e um dos responsáveis pela criação da moeda Cubocard que tem como base a economia solidária.

03 de jan 18:12 A ministra vai começar a falar nesse momento.
03 de jan 18:17 Não é má vontade com a ministra, mas já no primeiro parágrafo falar de mudança, de novidade, de imprimir sua marca é preocupante.
03 de jan 18:34  falou dos pontos e do vale, mas faltou a nova LDA (lei de direitos autorais), a cultura digital, as redes, as ouvidorias, as confer~encias. Muito Macro. Não gostei!
03 de jan 18;35 primeiro discurso da o norte, gera compromissos, indica a gestão e sinceramente, nesse sentido o começo do novo ministério foi bem ruim.
03 de jan 18:38  retomar essa perspectiva artistocentrica colocando o artista no centro do debate cultural é reducionista, equivocado e descontextualizado!
03 de jan 18:40 a estamos cansados de secretarias de arte pelo pais e acredito que não queremos agora um ministério de arte.
03 de jan 18:40 (retuitando @pdralex)  foi um discurso mais poético do que prático... fico com receio de gente boazinha demais nos discursos, parece sem convicção
03 de jan 18:42 (retuitando @pdralex novamente) sobrou fofura e faltou pauderescencia.)) As pautas antropologicas sumiram e as artisticas sobraram. O Minc não é a Funarte!!.)
03 de jan 18:44 (retuitando @blazeh_) Apesar de tudo, de certa é o primeiro dia de trabalho. Acho q não devemos iniciar c/ este pessimismo. Esperar ações p/ julgar.
03 de jan 18:44 (retuitando @graffos) pois é pablo, a organizar as forças para termos um MINC mais do nosso jeito. Ou seremos atropelados pelo reducionismo.
03 de jan 18:45 (respondendo a @blazeh_) não é pesimismo é clareza de que não podemos retroceder nas pautas. Esse discurso da ministra serve pra Funarte e não pro Minc.
03 de jan 18:47 Acredito que o movimento cultural já esteve fortemente na base nos ultimos 8 anos. Agora é hora de cobrar, marcar, não da pra retroceder.

@MariOlimpio enviou ao meu perfil pessoal, @MaurelioMen e ao do Pablo, @PabloCapile, a análise dele sobre o discurso. Foi curto e objetivo:"Foi um discurso bem PSDB. É o que digo, liberal desenvolvimentista. RT @MaurelioMen @PabloCapile"

O jogo está jogado. Alias, foi jogado no dia 31 de outubro. Agora é se adaptar a ele ou adaptar o jeito dele ao que for mais correto para o setor como um todo. Talvez o meio termo seja o ideal: nem tanto artistico nem tanto antropológico. Mas aí seria ser muralista demais, ou seja peessedebista demais.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O OLHAR DE MARIO OLIMPIO SOBRE AS NOVAS GESTOES CULTURAIS DE MATO GROSSO E O BRASIL

Maurelio Menezes

Malheiros, novo Sec Est de Cultura-MT

Ana de Hollanda, nova Ministra da Cultura
 O ex Sec. Mun. de Cultura de Cuiabá, Mario Olimpio, publicou hoje em seu Blog uma análise do que poderão ser as gestões culturais em Mato Grosso, com o Secretário João Malheiro, e no pais com a ministra Ana Hollanda.
É uma opinião que deve ser levada em consideração pelo que o ex Secretario representa para o setor cultural na capital, tendo sido o responsável, por exemplo, pela quintuplicação do orçamento para Cultura em Cuiabá. Por isso reproduzo aqui o texto postado no Blog http://www.mariolimpio.wordpress.com/ . Se você preferir ir direto a fonte é só clicar aqui.

MALHEIROS E O BONDE
*Mario Olimpio


Quero desenhar aqui nestas mal traçadas linhas a minha perspectiva quanto ao desempenho do deputado João Antonio Cuiabano Malheiros no cargo de Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso, com algumas observações sobre a relação interdisciplinar com o Ministério de Cultura de Ana Buarque de Hollanda.

Primeiro quero cutucar um mito. Tenho lido que o deputado não tem afinidades com a cultura e que seria melhor alguém do “meio”. Isto é besteira. A afinidade que um gestor precisa ter é com as políticas públicas do setor e as suas sistematizações. No caso da cultura, esta sistematização está sendo construída exatamente agora. Só no final de 2010 o Plano Nacional de Cultura foi aprovado e sancionado, transformando-se em Lei Federal. Portanto, Malheiros terá facilidade para se familiarizar e atuar nesta construção.

Quanto às afinidades com o caráter simbólico da cultura, ora, esta todos nós seres humanos as temos. A cultura é a nossa própria existência. Antropologicamente, todas as pessoas estão prontas para serem secretárias de cultura.

Saindo da antropologia, o problema que Malheiros e Hollanda vão enfrentar é bem mais material que simbólico: a falta de dinheiro. O investimento da Função Cultura no Orçamento Geral do Governo do Estado de Mato Grosso, desde a criação da Secretaria, nunca chegou a pelo menos 0,5% do bolo estatal. Mas, esta não é uma realidade local. Dos 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal, apenas dois ou três chegam a 1%. Mato Grosso está entre os últimos. Veja aqui a pesquisa do investimento dos governos estaduais na cultura. 

Só prá comparar, até o final do 5º Bimestre de 2010, o Governo do Estado tinha arrecadado quase 7,5 bilhões de reais e aplicado em cultura pouco mais de 12,7 milhões de reais, que significam 0,17% do bolo, um dos índices mais baixos da história da Secretaria de Cultura. Para o ano de 2011 de uma receita prevista de 11 bilhões de reais, o governo pretende investir 21 milhões, portanto 0,18% mantendo a linha decrescente do investimento no setor cultural.

Este é o cenário que Malheiros encontra: pouco dinheiro e demanda crescente – os projetos que são apresentados ao Conselho Estadual de Cultura para pleitear os recursos do estado somam anualmente mais de 200 milhões reais e apenas 5% desta demanda é atendida -, com a declaração do governador Silval Barbosa de que 2011 será um ano de ajuste fiscal, mais os entraves burocráticos, o deputado terá que usar de toda a sua experiência política para conseguir avançar.

No Congresso Nacional, tramita a PEC (Projeto de Emenda a Constituição) nº 150, que prevê, a exemplo da Saúde e Educação, a vinculação de receitas para a cultura nos orçamentos dos três níveis de governo. Pelo projeto a federação investiria em cultura um mínimo de 2%, estados 1,5% e municípios 1%. Caso aprovada, haveria um crescimento de mais de 300% de dinheiro público na cultura. Seria um bom começo. No entanto, a PEC tramita no Congresso há mais de 5 anos e eu duvido muito que ela seja aprovada.

Eu acredito mesmo é na rapaziada. Como diz a professora Aline Figueiredo, o bonde está passando! E o bonde é a Copa do Mundo 2014. Todo o setor cultural, e não apenas o poder público, precisa estar preparado. Senão o bonde passa. Encontrar uma alternativa de financiamento, onde poder público, mercado e sociedade civil organizada trabalhem em consonância, operando um modelo híbrido, reconhecendo as limitações e as possibilidades, a diversidade e as diferenças, experimentando novas tecnologias, reformando o modelo vigente de distribuição de recursos, passa a ser agora meta de todos nós, que queremos embarcar neste bonde. O que eu quero dizer é que o problema não é só do Malheiros. É de todos nós.

*Mario Olimpio é produtor cultural, advogado e especialista em planejamento e gestão cultural (UNIC).