Porque o tráfico de drogas no Brasil chegou ao ponto que está? Esta pergunta tem sido respondidas das mais diversas formas nos ultimos dias nas Midias Sociais, especialmente no Twitter. Há um grupo que coloca boa parte da culpa no consumidor seguindo o antigo raciocínio que, se ninguém consumir não haverá trafico. É mais ou menos como se dizer: se ninguem aceitar a corrupção, não haverá corruptos. Ou pior ainda: se você encontrar sua mulher (ou seu marido) o (a) traindo no sofá da sala, venda o sofá que ele(a) não te trairá mais.
Acredito sim que o usuário tem parcela da culpa pela evolução do tráfico. Mas só uma parcela. E pequena. A família, a escola, e várias outras entidades têm também uma parcela de culpa, assim como o Estado que sequer possibilita em grande escala tratamento a quem o procurar. Houve um grande avanço ao se considerar o usuário de droga alguém que precisa de tratamento. Mas o fato dele não procurar por esse tratamento o coloca numa situação delicada. Mas será que procurar um tratamento é algo assim tão simples? Com certeza, não. Porque ninguém se entrega às drogas por nada. Há sempre um motivo que, por mais que não concordemos com ele, é um motivo válido para quem se transformou em usuário.

O problema é muito maior, e não pode ser abordado sem antes de analisar diversos aspectos, como o baixo salário dos policiais, que abordei aqui no segundo Olhar sobre a suposta Guerra Urbana do Rio. Mas há também a absoluta falta de fiscalização por parte do poder público. O Brasil é um grande produtor de maconha, mas não produz Coca, materia prima da cocaina. Na campanha José Serra usou como um dos motes de seu programa a fiscalização das fronteiras, porque 60% da cocaina consumida no Brasil seria produzida na Bolivia (o resto provavelmente vem da Colombia). Mas há um outro detalhe. Bolivia, principalmente, e Colombia, não têm um parque industrial químico para produzir, por exemplo, a acetona, utilizada no refino. Ou seja, não basta fiscalizar a entrada, mas é preciso também a produção dos componentes químicos, a maioria promovida no Brasil. Aí os interesses são muitos e impedem a fiscalização, como também são muitos os interesses que impedem um avanço pesado sobre a industria do alcool, este sim a grande droga, que abre as portas para todas as outras. A arrecadação de impostos, só os federais, no Brasil esse ano será superior a trilhão de dólares, e boa parte disso vem da industria do fumo e do alcool. Ou seja, para o governo federal, quanto mais viciados, maior a arrecadação.
A suposta guerra urbana que está se desenrolando no Rio tem raizes muito mais profundas que uma simples briga do bem contra o mal, como alguns afirmam. Ao Poder Publico não interessa aprofundar o debate porque a maior parte da culpa é mesmo dele, que, entre muitas coisas, não fiscaliza, não reprime onde deve reprimir, não paga salarios dignos a policiais para que eles pelo menos resistam um pouco mais à corrupção. não amplia a rede de tratamento para diminuir o número de usuários, ataca apenas os traficantes das favelas, do morros (que a midia se encarrega de dioturnamente de transformar no traficante mais procurado do país), mas não mexe com os verdadeiros chefões que moram no "asfalto" em apartamentos luxuozérrimos, que não cria politicas publicas para evitar que a criança desde cedo se envolva com o crime, começando como fogueteiro, passe pipeiro, passe a olheiro, se transforme em avião e morra logo depois bringando por um posto de Lugar Tenente na hierarquia do tráfico, já que pouquíssimos chegam a chefiar uma Boca.
Fica mais fácil também para todos nós, que támbém temos nossa parcela de culpa nessa situação, a aplaudirmos um espetáculo como o dos ultimos dias, considerando tudo como positivo, sem usarmos o sacrassanta ferramenta da dúvida cartesiana ou agostiniana, fingindo que agora tudo está resolvido. Não está. E infelizmente está longe de se resolver.