quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O RISCO A SE EVITAR III - O Exemplo de Benazir Bhutto

Maurelio Menezes

No terceiro Olhar sobre mulheres que, como Dilma Roussef, foram as primeiras a assumir o comando de seus países em regimes republicanos, depois de viajar pelas histórias de Golda Meier e de Isabelita Perón, a personagem de hoje é a paquistanesa Benazir Bhutto. Essas e outras mulheres sobre cujas histórias apresentarei aqui meus Olhares, como escrevi antes,  em comum têm um pequeno detalhe: na campanha nenhuma delas se apresentou como candidata das mulheres ou se preocupou em apresentar propostas especificas para humanização das condições de saúde, educação, emprego, enfim, de qualidade de vida das mulheres. Ela têm em comum, também, o fato de ao longo da vida nenhuma delas ter se destacado como representante legítima das mulheres, até por fazerem política num mundo dominado por homens e sua falta de sensibilidade, sua quase tosca relação com a vida, ou seja, biologicamente são mulheres, mas ideologicamente não o foram como por exemplo foram, entre tantas outras, Voltarine de Cleyre e Margaret Sanger no final do sec. XIX, Simone de Beauvoir, Betty Friedan em meados do século passado ou as brasileiras Nisia Floresta e Pagu. Em comum a essas mulheres mais um detalhe, este triste e lamentável: todas, em maior ou menor grau, apesar conquistas, com certeza involuntariamente, fizeram muito mal a seus países e acabaram, de uma forma ou de outra, sucumbindo.

Benazir Bhutto foi a típica lider forjada na academia e na resistência a um regime supostamente autoritário e, num determinado momento, foi vista como a grande possibilidade de modernização do pensamento numa região eternamente caracterizada como atrasada e extremamente patriarcalista. Depois de estudar em Harvard e Oxford, duas das principais universidades do mundo, se viu, aos 24 anos, obrigada a voltar para o Paquistão quando seu pai, o Primeiro Ministro Zulfikar Ali Bhutto foi deposto e preso por um golpe militar comandado pelo General Muhamad Zia Ul-Haq. Ao lado da mãe Benazir assumiu o comando do Partido Popular do Paquistão, o PPP. Dois anos depois, em 1979, o pai dela foi executado e ela presa, torturada e em 1984, expulsa do país.

No exilio no Reino Unido, com acesso à midia internacional, assumiu o comando da resistência ao regime de Zia, forçando reformas que incluiram o fim do toque de recolher no país e o reconhecimento dos partidos políticos de oposição. Em 1988, oito meses após retornar do exilio, o PPP conseguiu uma consagradora vitória nas urnas, com apoio especialmente das classes menos abastadas,  ela se tornou a primeira mulher a se transformar em chefe de governo de um Estado muçulmano. Saudada pela comunidade internacional que, pela sua beleza e importancia,  a chamava de Sherazade do Sec. XX, como um símbolo de liberdade e de modernidade, acabou se transformando num fiasco. Seu primeiro governo durou pouco menos de dois anos.

Em agosto de 1990 foi destituida pelo Presidente Ghulam Ishaq Kahn sob acusação de nepotismo, corrupção, desvio de verbas públicas e abuso de poder. A consequencia do governo dela foi uma derrota vexatória do PPP nas eleições gerais. Com isso ela voltou a fazer oposição ao governo, voltando a ser estilingue.

Três anos bastaram para que ela conseguisse convencer a população que fora vítima de um grande complô internacional que envolvia, inclusive, a Índia, país com quem o Paquistão trava uma guerra milenar pela posse de territórios. Em 1993, voltou a assumir pela segunda vez o cargo Primeira Ministra. Novas denuncias, desta vez mais graves. Além das anteriores, corrupção, nepotismo, desvio de dinheiro público e abuso de poder, Benazir foi acusada de autorizar assassinatos extra judiciais de opositores  e de outros detentos comuns e deposta pelo então Presidente Farook Leghari.

A partir daí, embora tenha não tenha abandonado a política e mantivesse milhões de seguidores, sua vida se transformou numa ida e vinda a tribunais, inclusive intrernacionais, pois foi processada na Suiça acusada de ter recebido cerca de 12 milhões de dólares de duas empresas suiças como propina para que elas vencessem licitações no Paquistão. Em seu país foi considereda culpada de todas as acusações imputadas a ela. Antes para tentar escapar dos processos se auto exilara em Londres.

Anistiada pelo presidente Pervez Musharraf, voltou mais uma vez ao Paquistão. No dia de sua volta um atentado matou cerca de 150 pessoas, mas ela saiu ilesa. Tornou-se mais uma vez lider da oposição e se recusou a participar de um governo de coalização no qual ocuparia mais uma vez o cargo de Primeira Ministra.

A conturbada história da Sherazade Moderrna acabou de forma trágica. Foi assassinada em 27 de dezembro de 2007 tendo sido atingida no peito e no pescoço por um homem bomba que após atingi-la detonou o explosivo proximo ao carro em que ela acenava para a multidão, matando outras vinte pessoas. Ainda hoje há quem afirme que ela foi vítima por tentar mostrar o valor da mulher fazendo política num mundo dominado pelos homens e suas insensibilidades.

Amanhã, a história mais moderna dessas mulheres, a de Angela Merkel, da Alemanha.

2 comentários:

  1. Olá Maurelio,

    Belo texto de excelente conteúdo. Benazir viveu e morreu como uma incógnita. Culta e avançada demais para uma mulher paquistaneza devia mesmo causar "preocupações" aos "machos" de sua região, em sua grande parte não tão preparados culturalmente e com pouca desenvoltura no ocidente.
    Além do mais tinha uma plástica admirável. E isto conta também, Você sabe.
    Abraços.
    Carlos Alberto

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  2. Esperamos que o futuro da Dilma não seja semelhante aos das mulheres apontadas por você.
    Agora que ela foi eleita, temos que torcer para que obtenha sucesso.
    Se o sucesso foi de todo impossível, que governe de forma transparente, sem escândalos de corrupção, etc.
    Bjs
    Luciana

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