Maurelio Menezes
Hoje você vai conhecer um novo Olhar meu sobre mulheres que, como Dilma Roussef, foram as primeiras a assumir o comando de seus pais. Como escrevi ontem, ao abrir essa série falando de Golda Meir, em comum todas têm um pequeno detalhe: na campanha nenhuma delas se apresentou como candidata das mulheres ou se preocupou em apresentar propostas especificas para humanização das condições de saúde, educação, emprego, enfim, de qualidade de vida das mulheres. Em comum também, que ao longo da vida nenhuma delas se destacou como representante legítima das mulheres, até por fazerem política num mundo dominado por homens e sua falta de sensibilidade, sua quase tosca relação com a vida, ou seja, biologicamente são mulheres, mas ideologicamente não o foram como por exemplo foram, entre tantas outras, Voltarine de Cleyre e Margaret Sanger no final do sec. XIX, Simone de Beauvoir, Betty Friedan em meados do século passado ou as brasileiras Nisia Floresta e Pagu. Em comum a essas mulheres mais um detalhe, este triste e lamentável: todas, em maior ou menor grau, apesar conquistas, com certeza involuntariamente, fizeram muito mal a seus países e acabaram, de uma forma ou de outra, sucumbindo.
O segundo governo dessas mulheres sobre o qual vou apresentar meu olhar é o de Isabelita Perón, 42ª Presidente da Argentina, que assumiu o cargo depois da morte do marido, Juan Perón, de quem era vice, eleita por uma chapa que ficou conhecida como Perón-Peron.
A presidencia da Argentina caiu de páraquedas nos braços da bailarina Maria Estela Martinez, a Isabelita Perón, que não tinha a menor relação com o país. Conhecera Juan Perón num clube no Panamá, com ele se casara em 1961 e o acompanhara em seu exilio na Espanha (Peron fora deposto pelos militares em 1955, se exilara no Paraguai e posteriormente se mudou para Espanha). Em 1973 voltou para a Argentina com o marido e se elegeu vice presidente na chapa encabeçada por ele que ,para chegar a seu terceiro mandato como Presidente, conseguiu 60% dos votos. Menos de um ano depois, em 1º de julho de 1974, Juan Perón morreu em consequencia de um infarte e Isabelita tomou posso no mesmo dia, dando inicio a um dos governos mais desastrosos não só da Argentina, como da América Latina.
Fraca, exatamente por não ter representatividade política e por ter sido eleita à sombra de Perón, ele sim um líder carismático, Isabelita se apoiou em José Lopez Rega, a quem nomeara Ministro do bem Estar Social e que acabou se transformando na eminencia parda de seu governo. Lopez rega desviou dinheiro público para financia a Triple A, Aliança Anticomunista Argentina, que tinha por objetivo principal exterminar os inimigos da ala peronista a que Isabelita pertencia. Foi uma época em que atentatos, sequestros, tortura e assassinatos eram diariamente manchetes nos jornais argentinos. Para abafar a corrupção e calar a voz de opositores, deu-se início a uma repressão sem precendentes, decretando intervenção em diversas provincias, em universidades, sindicatos, e em canais de TV privados e intensificando ainda mais a censura a jornais e revistas.
Mas corrupção e o desrespeito a liberdades individuais à livre manifestação do pensamento não foram os únicos gargalos do governo Isabelita. A economia praticamente se desintegrou, a inflação alcançou numeros inimagináveis e, para complicar ainda mais a situação, o Mercado Comum Europeu interrompeu a importação de carne argentina, levando o pais literalmente à bancarrota, com a dívida externa aumentando incontrolavelmente.
Diante do aumento das contestações à sua administração, que era absolutamente caótica, e do fracasso dos planos economicos criados pelos seus ministros, especialmente Celestino Rodriguez, colocado no cargo por Lopez Rega, Iabelita decidiu aceitar mudar os ministros das três armas, dando poder incalculável ao general Jorge Rafael Videla. Ele deu inicio a mais suja das guerras travadas na Argentina, com fechamento de meios de comunicação contrários ao governo, mais sequestros e assassinatos. Pressionada a renunciar, Isabelita se negou a fazê-lo, mas acabou derrubada por um golpe de estado comandado por Videla.
Na Argentina, os crimes cometidos no governo de Isabelita foram considerados como crimes contra a humanidade, tese rejeitada há dois anos pelo Supremo Tribunal Espanhol, que recusou sua extradição. Entre esses crimes, além do desvio de milhões de dólares, há outros contra a vida, como nos casos do
desaparecimento de Hector Aldo Fagetti e a prisão do menor´Jorge Valentín Beron, que ficou na cadeia até os primeiros meses de 1977 quando o governo militar lhe deu liberdade.
Analistas afirmam que Isabelita era tão inexpressiva eleitoralmente que se não fosse pela sombra de Perón não conseguiria se eleger nem mesmo deputada provinciana e que seu governo foi o responsável pela perda da maioria das conquistas que haviam sido conseguidas no país nas décadas anteriores e que até hoje o país ainda paga pelo obscurantismo a que foi submetido por ela e pelos militares que a sucederam, com a desculpa que o endurecimento era necessário para se colocar o país novamente no rumo certo.
Amanha, a mulher da vez sera Benazir Butho.
Amurelio
ResponderExcluirParabéns. Uma verdadeira aula de história política e sociologia. Aprendi muito e lembrei de algumas passagens.
Carlos Alberto
Muito bom mesmo, você tem umpoder de síntese muito bacana.
ResponderExcluirA PRIMEIRA ESPOSA DO EX-PRESIDENTE PERÓN FOI A PROFESSORA AURÉLIA TIZÓN DE PERÓN! EVITA FOI A SEGUNDA E, A EX-PRESIDENTE ISABELITA FOI A TERCEIRA ESPOSA! ELE FICOU VIÚVO DAS DUAS PRIMEIRAS ESPOSAS@!
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