Maurelio Menezes
Pela segunda vez, uma decisão autocrática da Administração Superior da Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT- provocará um resultado altamente prejudicial aos estudantes de Mato Grosso e derrubará por terra o princípio e os estudos que há décadas norteiam a criação de universidades públicas.
Este princípio, criado a partir de estudos de especialistas de diversas áreas, define que uma universidade, para ser criada, precisa contemplar as necessidades, principalmente sociais e econômicas, da região onde esta universidade está sendo criada. Isso pressupõe que os profissionais formados por esta universidade vão trabalhar nesta região para desenvolvê-la, diminuir suas carências e principalmente suas injustiças sociais.
Ao determinar que o SISU seria a única forma de ingresso na UFMT (sim, porque o que houve foi uma determinação da Reitora para atender o desejo político partidário do governo federal), a Administração Superior abriu espaço para alunos de outras regiões estudarem aqui. Pode-se afirmar que essa é idéia da universalização democrática do acesso á universidade que, teoricamente, está no centro do SISU. Discurso puro. E pior, altamente prejudicial aos cofres públicos.
Uma simples avaliação de como estão os cursos hoje e se encontrará um quadro muito diferente do que havia antes. Nos chamados cursos de ponta, entre eles Medicina e Direito, alunos entrando seis meses depois de as aulas terem iniciado. No curso de Direito por exemplo, há casos de alunos que se matricularam no ano passado e nunca assistiram aula. Nos demais cursos, pelas informações que tenho, uma evasão muito maior que nos anos anteriores. É o caso da Pedagogia onde, de acordo com uma colega que também participou aqui em Natal do 34º Congresso da Associação Nacional de Pesquisadores em Educação, cerca de metade dos matriculados não irão concluir o curso.
Na segunda decisão sem consulta à comunidade acadêmica, a da cota para alunos oriundos de escolas públicas, mais uma vez os estudantes de Mato Grosso serão prejudicados. E o pior que, como não houve debate sobre o tema nem para se descobrir formas de resolver o problema na raiz, esses alunos foram manipulados com os velhos chavões como “pai de aluno de escola pública não pode pagar cursinho”, “qualidade do ensino público é muito ruim”, “escola publica não tem laboratório” e outras falácias do gênero. Qual o resultado disso tudo? Como o ensino médio tem uma qualidade bemmelhor que a de Mato Grosso nos grandes centros, e ai me refiro principalmente a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, alunos das escola publicas destas cidades, prestarão o SISU lá e virão para cá, alguns para fazerem matricula e nunca mais voltar e outros até para cursar, mas ao se formar arrumam as malas e voltarão para suas regiões.
Estes são apenas alguns dos efeitos colaterais destas decisões absolutamente antidemocráticas e pouco inteligentes, de acordo com o pensamento do Professor Doutor Eymard Mourão Vasconcellos, do GT Educação Popular do 34º Congresso da Associação Nacional dos Pesquisadores em Educação do qual participei aqui em Natal. Num minicurso ministrado por ele e outros três pesquisadores, Eymard comentou que tem uma divida de gratidão impagável àqueles que pensam de forma diferente dele, porque essas pessoas, sejam elas quem forem, o fazem pensar, avaliar posições e correr um risco muito menor de errar.
Pois é... Muita gente da UFMT deveria ter feito esse mini curso. Com certeza os efeitos colaterais não seriam tão desastrosos quanto estes.