quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DEMAGOGIA BARATA OU NECESSIDADE SOCIAL?

Maurelio Menezes

O CONSEPE -Conselho Superior de Ensino e Pesquisa- da UFMT, a toque de caixa, vai votar a adoção de cotas para alunos oriundos do ensino público. Estão previstas duas votações para que a medida entre em vigor já a partir do próximo ano letivo. Estranho, muito estranho, pois em momento algum a administração superior da universidade debateu, nem mesmo entre os integrantes da administração, essa possibilidade.

A tomada de decisões sem se ouvir a comunidade acadêmica tem se tornado uma perigosa regra na universidade, apontando para um viés autoritário, incompatível com os tempos pós modernos e com o próprio discurso da administração, hoje.

Quando adotou o ENEM como única forma de ingresso na UFMT a reitora, professora Maria Lucia Cavalli Neder, ingenuamente ou não, confessou que o fez por determinação do Ministério da Educação que se comprometera a liberar mais verbas para universidade. À época houve protestos e o resultado foi uma calamidade. Cursos que nunca tiveram vagas ociosas estão até hoje, dois anos depois com “alunos de menos” ou com vagas preenchidas por matrículas, mas com os alunos jamais tendo assistido aulas. Isso sem contar os cursos que na metade do ano ainda estavam fazendo chamadas. Medicina, por exemplo, teve 13 chamadas.

A novidade da cota para alunos de escola pública está cheirando a mais uma determinação. Com ela adotada poder-se-á afirmar que esse é um país que inclui, que combate as injustiças. O triste é que não se analisa porque alunos de escolas públicas têm menos condições de ingressar em cursos de ponta como Medicina e Direito. Isso é fato. Aliás, nestes dois cursos alunos de escolas particulares também têm dificuldades. E muito. É só fazer uma análise de quantos alunos destas escolas prestam vestibular para estes cursos e quantos entram.

Mas este é apenas um dos argumentos para não se concordar com o que pretende a administração superior agora. Um dos diretores da UBES, que defende a medida afirma que nas escola publicas não existem laboratórios, computadores, acesso a cultura, livros, cinema e teatro . E o que a UBES tem feito para mudar essa situação? Há manifestações contra o fim da meia passagem, mas nunca vi ninguém invadir o gabinete do governador ou fazer greve exigindo essas melhorias para o ensino médio, responsabilidade do Estado. Assim esta posição está parecendo muito mais um golpe de oportunismo do que uma preocupação social, da mesma forma que a posição da administração superior da UFMT parece muito mais um lance demagógico para atender a ordem de Brasília. Pode até não ser. Mas se não é, porque não debater com a comunidade acadêmica? Porque não amadurecer democraticamente esta idéia por meio do debate, da analise desprovida de interesses provavelmente inconfessáveis?

Quando Hillary Clinton esteve no Brasil, ao conversar com estudantes na UNB comentou que quando a política de cotas foi implantada nos Estados Unidos, foram adotadas diversas medidas para que o motivo que justificava a adoção não fizesse dela um política permanente. Mas e aqui? O que está se fazendo agora neste sentido?

A questão da política de cotas é polemica. Todos concordam com isso. Mas como está sendo adotada aqui, com a “tropa de choque” da administração superior convocada para comoarecer em oeso na sessçao do CONSEPE dia 3, não vai resolver nada.
O ingresso universal na universidade publica só será resolvido quando a educação fundamental for tratada com seriedade. E isso é responsabilidade de todos nós. O governo do estado teve dinheiro para comprar maquinários e desviar, de acordo com o Ministério Público, 44 milhões de reais. Será que não tem algum para montar os tais laboratórios que estariam faltando (embora em muitas escolas eles existam e sejam melhores até que os das particulares).
Se a UFMT quer mesmo corrigir uma injustiça, porque não assume uma luta de melhorar o ensino fundamental por meio de projetos e, quem sabe, até mesmo a oferta de cursos de extensão mos moldes co Cuiabavest, criado pelo ex prefeito Wilson Santos e do MTvest criado nos mesmos moldes.?
Qualquer outra medida que não seja essa é empulhação pura, algo como um FIES para a UFMT, No FIES, as particulares arrumam vagas para alunos de escolas publicas e o governo libera verbas para elas. Agora provavelmente troca as vagas da UFMT por mais verba, verba alias, que poderia ser aplicada na melhoria do ensino fundamental. Mas isso seria uma politica séria de educação e politica séria para educação nao faz parte da cartilha do atual governo

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MORRE UM POUCO DO JORNALISMO APAIXONADO

Maurelio Menezes

Quem é meu aluno no curso de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso certamente já ouviu esta história. Ela faz parte do meu Planejamento de Curso porque, para mim, representa um jornalismo que, infelizmente, a cada dia está mais esquecido.
Mauro Costa, então repórter de policia do Correio da Manhã do Rio de Janeiro desceu logo de manhã para comprar pão na padaria que ficava ao lado do predio onde morava, em Niterói. Na padaria ficou sabendo de um crime envolvendo o filho do prefeito de São Pedro Da Aldeia, cidadezinha que fica na Região dos Lagos. Ali mesmo começou a dar telefonemas para suas fontes depois de pedir ao jornal que lhe enviasse um fotógrafo e um carro. Quando os dois chegaram sairam direto para o local do crime, Mauro, inclusive usando camiseta regata e com várias anotações feitas no papel de embrulhar pão. No dia em que nos contou essa passagem da vida do Mauro, Dona Neusa, sua esposa, nos disse "O pão e o leite estou esperando até hoje, mas a notícia estava na primeira página do Correio no dia seguinte".
Mauro faz parte de minha história como jornalista. Minha e de tantos outros profissionais da melhor qualidade. Com ele nos dirigindo participamos das principais coberturas jornalisticas do periodo áureo da Rede Manchete. Sob a direção dele assumi algumas vezes a Editoria Nacional do Jornal da Manchete (quando o Paulinho da Luz ia para o exterior coordenar coberturas internacionais como Olimpiadas e Copa do Mundo). Todas as grades coberturas da Rede Manchete transpiravam a paixão do Mauro. Aliás, ele era tão apaixonado que algumas pessoas brincavam que o "M" gigante que existia em cima do predio da sede da emissora era de Mauro de não de Manchete.
Foi ele quem me levou para a o SBT (juntamente com a Márcia Marsillac e com o Paulinho da Luz) onde fui fazer parte da equipe que criou o "Aqui e Agora", cujo projeto concebido e parido pelo Amaury Soares nada tinha a ver com o programa que foi para o ar e que somente se tornaria realidade quando alguns anos depois, já na Globo, Amaury colocou no ar o SP Já embrião do tipo de jornalismo que a Globo passou a fazer no seu Praça Primeira Edição.
Mauro foi Chefe de Reportagem na Rede Globo nos tempos de Armando Nogueira, Alice Maria, Luiz Edgar de Andrade (o melhor texto da história do telejornalismo e que ele levaria para a Manchete anos depois), Edson Ribeiro e outros profissionais sem os quais o jornalismo da Globo jamais alcançaria o nível de hoje.
Quando saiu da Globo, Mauro voltou para o jornalismo impresso. E mudou o jornal O Fluminense, que havia sido o principal jornal do antigo estado do Rio e que perdera muito espaço com a fusão do estado com a Guanabara. Mauro fez dele o terceiro jornal do novo estado. Foi ele quem abriu as portas do jornal para Cidinha Campos,apresentadora do principal programa do radio carioca de então, de cuja coluna fui redator por oito anos (depois eu passaria a assinar a coluna e a fazer reportagens especiais para o jornal).
O Mauro Costa que morreu hoje tinha faro pela notícia. Isso até parece lugar comum. Mas não há nada que o defina melhor, acredito. Não deixou um herdeiro no jornaismo (o Maurinho, seu filho, é musico) mas sem dúvida deixou muitas lições de como fazer jornalismo de forma apaixonada, honrada, ética, profissional. Muitos a aproveitaram a aproveitam ainda hoje.
Como registrou no Facebook há pouco uma de suas mais completas criações, a editora do Jornal Nacional Angela Garambone,depois de escrever sobre a importancia dele em sua vida profissional, "Vamos rezar pra que ele fique bem e em paz!"
Que assim seja. Sempre.

sábado, 17 de setembro de 2011

SAUDE MAL DAS PERNAS... SÓ A SAÚDE?

Maurelio Menezes

Dia desses Gabriel Nóvis escreveu um lúcido texto sobre a situação da saúde e a baixa remuneração dos médicos. É mesma absurda a situação dos médicos que estão em campanha para que a UNIMED lhes pague por consulta pelo menos o que é pago hoje pela hora técnica de um desses profissionais do momento, ligados a tecnologia.
Concordo. Afinal, um médico estuda cerca de 15 anos só para poder começar a clinicar. E tem que estudar a vida inteira se quiser se manter atualizado e não cometer erros, que são considerados crimes. Mas além dessa, tenho outra proposta: que alguns médicos que não respeitam o paciente devam ser sumariamente banidos até para não conspurcar a imagem dos colegas.
Escrevo isso porque as duas últimas vezes que estive num consultório saí muito preocupado. Numa delas mais que preocupado, saí assustado. Na primeira a médica me recebeu pegou o resultado de um exame, disse: “Não gostei. Vou aumentar a dosagem do remédio, você vai fazer outro exame e que quero te ver daqui a 50 dias.” Em seguida já foi se levantando, esticando a mão e praticamente me dizendo: “Saia logo que vem outro paciente ai”. Tempo da consulta: 2 minutos. Quando cheguei em casa comentei com Dona Cida, uma amiga que já foi empregada e que hoje nos ajuda sempre. Ela, bem humorada, disse “Xiii. Acho que o senhor deve procurar o SUS. Lá pelo menos não se paga e a consulta dura cinco minutos”. E caiu na risada.
Se os médicos gastarem em media cinco vezes mais o tempo da minha medica em cada consulta e a categoria conseguir o que reivindica, serão seis consultas por hora, ou 460 reais por hora.
O resto da conta cada um pode fazer como quiser...
O outro encontro com médicos me assustou. Não de imediato, mas depois. Há alguns dias amanheci com uma dor sem tamanho no calcanhar. Foi até a Clínica Genus e ai começou um mini calvário. Pedi um pronto atendimento. Meia hora depois dos procedimentos burocráticos e nada. Fui até o recepcionista interno, falei de minha dor, pedi informação sobre o Pronto Atendimento e ele me disse que o médico tinha acabado de “entrar num procedimento cirúrgico”. Fiquei estático. Eu ali com uma dor sem tamanho, o médico ia pra cirurgia e eles não transferiam os pacientes de emergência para outro. Mais reclamação e ai uma coordenadora garantiu que iria me colocar no ambulatório. Garantiu e cumpriu. Mudaram minha ficha de atendimento, mas eis que de repente aquele que tinha acabado “de entrar num procedimento cirúrgico” aparece. Pensei comigo: “Vai ver que aqui os procedimentos cirúrgicos duram o mesmo tempo da consulta que tive com minha médica”. Radiografia na mão ele disse que eu estava com uma inflamação “no encontro dos tendões”. Prescreveu um antiinflamatório, uma analségico mais forte e outro mais fraco, pediu uma ressonância magnética e disse que assim que o exame fosse feito, queria me ver novamente.
Na própria clinica marcaram a ressonância. Em casa percebi que haviam marcado para uma clinica que fica a cinco quilômetros dali. Liguei desmarcando e marquei para o Hospital São Matheus. Na sexta feira fui fazer o exame e depois de toda a burocracia, a atendente me disse: “Vamos lá, ressonância no pé esquerdo..” Eu assustei e disse: “Não... É no pé direito...” Ela disse que nós tínhamos um problema porque o médico pedira a ressonância no pé esquerdo. A primeira imagem que me veio foi eu entrando num centro cirúrgico para amputar o pé direito, mas com recomendação do médico para amputar o esquerdo, que estava bom. Ou para retirar um rim, mas com a recomendação do médico para retirar o fígado. Ou precisando retirar o apêndice, mas com a recomendação do médico para...
As outras combinações cada um pode fazer como quiser.
Ai uma pergunta: quanto será que merecer ganhar por consulta médicos como esses?
Cada um da a resposta que quiser...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A UNIVERSIDADE QUE EU NÃO QUERO – Segunda Parte

Maurelio Menezes


A universidade que eu não quero (e acredito que todos os professores, técnicos e alunos do bem também) tem autoridades (?) que desrespeitam em nome sabe-se lá de que, decisões dos órgãos colegiados superiores e criam regras próprias para administrar (?) Departamentos, Institutos e Faculdades, e a própria Universidade.
A cada dia ouve-se mais histórias contadas por professores submetidos a regras criadas por esses Chefes. E o pior é que, no caso dos Departamentos, eles presidem o Colegiado, que, quase sempre acata os absurdos apresentados nas reuniões. A ultima foi uma obrigação que inventaram e apresentaram a uma professora: quem não tem projeto de pesquisa é obrigado a assumir quatro disciplinas. É a velha política da quantidade em vez da qualidade vomitada de cima pra baixo e engolida por esse professores sem o menor constrangimento.
A resolução 158 de 29 de novembro de 2010, aprovada pelo CONSEPE, ela própria representando a preocupação com a quantidade, é clara, como de resto são as decisões do CONSEPE. Um professor que, por exemplo, coordene um projeto de pesquisa devidamente registrado terá cumprido 10 horas das 40 que é obrigado a cumprir se esse for seu contrato. Mais, “apenas”, três disciplinas de 60 horas e estará livre de todas as demais obrigações que teria e que pode exercer caso queira, mas sem computação de horas em seu PIA. Da mesma forma uma professora que tenha cinco orientações precisará ministrar “apenas” mais três disciplinas de 60 horas para se livrar do resto.
A impressão que fica é que o CONSEPE é apenas um Conselho figurativo. Lá se decidem as normas que devem reger o ensino a pesquisa e a extensão na UFMT. Aí esse tipo de chefe, usando sempre, ou quase sempre, o argumento que é determinação da administração superior, cria ele próprio a regra que lhe interessa não se sabe para atender a interesse de quem.
A Universidade que eu vivi e que gostaria que sobrevivesse a esse tipo de gente foi uma Universidade em que os Departamentos tinham brigas sadias com a administração superior em busca do que deveria ser o objetivo geral: uma educação realmente pública e de qualidade. Desses embates, regra geral, saiam soluções consensuais em que, também regra geral, quem ganhava era a sociedade, que, diga-se de passagem, paga o salário de todos.
O interessante é que tanto os Chefes, quanto Coordenadores de Curso (muitos dos quais compactuam com os Chefes), os Diretores, como também a Reitora e seu vice, foram democraticamente eleitos pelos votos da comunidade acadêmica. No caso dos Departamentos e Coordenações explica-se: ninguém quer pegar o que chamam de abacaxi e assim, feitas as devidas e honrosas exceções, coloca-se qualquer um no posto, para alívio dos demais. De qualquer forma já passou da hora de se debater este pequeno detalhe (para a atual administração –continuidade da anterior- a saída é tirar o sofá da sala, ou seja, acabar com os departamentos).
A Universidade que está aí é a que eu não quero. E repito: professores, técnicos e alunos do bem também não. Nem como professor nem como cidadão, que é sufocado por uma carga tributária desumana, para entre outras coisas custear o que todos nós, junta e honestamente, respeitando decisões que foram tomadas por Conselheiros também democraticamente eleitos, poderíamos conseguir.