quinta-feira, 21 de agosto de 2014

UMA REFORMA QUE NÃO ESTARÁ NA CAMPANHA POLITICA

Maurelio Menezes


Quando milhões de brasileiros foram às ruas no ano passado, um dos descontentamentos deixados claro pelos manifestantes foi o tipo de político que temos no Brasil, o “Político Gerson” aquele que gosta de levar vantagem em tudo.

Pois agora, com o horário eleitoral no ar, seria o caso de um destes candidatos à Câmara ou ao Senado seria uma reforma política, mas não uma qualquer e sim uma que contemplasse o que as ruas pediram. Alguns pontos, como sugestão.

1.    Todo político, após acusação e apresentação de provas a serem definidas, será afastado automaticamente do cargo sem direito a remuneração. Se for inocente receberá os proventos retidos e reassumirá o cargo;

2.    Candidatos eleitos para um cargo não podem abandoná-lo no meio do caminho para se candidatar a outro. Aqui em Cuiabá, por exemplo, sempre tivemos vários vereadores que na eleição seguinte tentaram se eleger deputado. E muitos conseguiram;

3.     O sistema político seria alterado para o voto distrital. Por ele o eleitor só pode votar em candidatos de seu distrito eleitoral. Isso baratearia o custo da eleição e evitaria o que já aconteceu diversas vezes: candidatos se elegerem com votos em todo o estado e não fazerem nada por região nenhuma;

4.    Ninguém poderá se candidatar a um mesmo cargo por mais de duas vezes. Com isso ficaria garantida a renovação no Legislativo.

5.    Ninguém poderá se candidatar mais de cinco vezes a um cargo se não conseguir se eleger pelo menos uma vez. Isso evitaria aqueles casos em que pessoas se candidatem para arrecadar fundos ou para vender apoio;

6.    Todos os partidos são obrigados a lançar candidatos nas eleições majoritárias para o primeiro turno. Não muda muito, mas diminuiria bem o número de partidos de aluguel; e

7.    Nas eleições para cargos do Executivo, prefeitos, governadores e o (a) presidente seriam obrigados a se desincompatibilizar do cargo. Com isso diminuiria bastante o uso da máquina e evitaria crimes eleitorais como a Presidente Dilma tem cometido, visitando obras e dando entrevistas em prédios públicos.

O Brasil não seria um paraíso se medidas como estas fossem tomadas. Mas um dos gritos nas Jornadas de Junho seria atendido. Quem sabe com diálogo transparente com a sociedade as coisas não melhorassem neste país injusto.
Mas não há vontade política para se fazer reformas. Estão ocupados com arranjos nada republicanos e acabarão sendo eleitos os mesmos de sempre, inclusive alguns que deveriam deixar de vez a política, para que não tivéssemos a volta dos que não foram.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

REFORMA POLÍTICA: O QUE AS RUAS GRITARAM

Maurelio Menezes

Nas “Jornadas de Junho”, como definem alguns analistas, um dos pedidos da Voz das Ruas era a Reforma Política. A Presidente Dilma fingiu que pretendia atender ao pedido e preparou um rascunho de uma coisa que não caberia a ela apresentar. O Congresso fez o mesmo com uma proposta que todos sabiam não seria colocada em prática. Andaram tomando algumas posições saneadoras, mas só de mentirinha. Para eles, o povo não passa de um bando de idiotas que esquece tudo um mês depois que cobrou.

A semana é rica em comprovações desta teoria deles. A denúncia da revista Veja no final de semana, segundo a qual os depoentes da CPI da Petrobrás sabiam com antecedência quais perguntas lhes seriam feitas é um destes argumentos. Ai está a a explicação do fato de no inicio o governo querer que fosse instalada apenas a CPI do Senado onde ele manda e desmanda. E não adianta se afirmar que a denúncia da Veja é para tirar o foco do caso do Aeroporto que envolve o outro candidato à presidência, porque uma reportagem como a da revista não se monta em um, dois dias e a denuncia contra Aécio surgiu agora. Em São Paulo, Fernando Haddad nomeou Secretário pela terceira vez um vereador condenado por improbidade administrativa.  

Aqui em Cuiabá vereadores são candidatos a deputado estadual. Pressupõe-se que eles foram eleitos depois de assumirem diversos compromissos com eleitores. Pouco mais de um ano depois de tomarem posse já estão dispostos a abandonar o cargo por outro que paga melhor e lhes dá outra possibilidade. Mas com certeza não cumpriram nada do que prometeram na campanha. Não foi esse comportamento que a voz das ruas pediu. Pelo contrário.

A forma de se fazer política no Brasil não mudou e mudança radical é o que a sociedade quer. Políticos que ficam saltando daqui prá ali estão traindo seus eleitores. Deveria ser criado um mecanismo que impedisse mais de uma reeleição para cargos do Legislativo. Políticos como os senadores que fraudaram a CPI do Senado deveriam ser cassados sumariamente. Uma das coisas que as ruas pediram foi a reavaliação do mandato do político. Dois anos depois ele seria reavaliado e se não conseguisse um percentual xis dos votos da eleição seria demitido a bem do serviço público.

Mas há o outro lado disso tudo: todas essas coisas estão às claras, Cabe ao eleitor negar seu voto àqueles que traíram a confiança de quem nele votou em eleições anteriores. Vá pra urna, como canta Carlinhos Brown, mas leve consigo a consciência do que é preciso fazer para mudarmos tudo.

 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

OS LEGADOS DA COPA

Maurelio Menezes*

 Acabou-se o que era doce. Foram-se os dias de alegria e nem mesmo ficou o que seria o legado da Copa: obras de infraestrutura que melhorariam a mobilidade urbana em todo o país.

Em Cuiabá foram inauguradas quatro ou cinco obras de qualidade duvidosa, especialmente depois que desabou o viaduto em Belo Horizonte, que uma das obras daqui uma semana depois da inauguração apresentou infiltração e em outra, o asfalto já precisou ser remendado. A cidade foi maquiada nos dias em que aqui houve jogos e agora volta a ser um canteiro de obras, mas num ritmo muito mais lento do que antes. Em algumas destas obras há meia dúzia de trabalhadores pegando no pesado. As ruas estão cheias de buracos a sinalização errada em vários pontos.

Em época de eleição o governo tira o dele da reta e afirma a todo momento: “O dinheiro é federal, mas a responsabilidade pela execução é das prefeituras e dos estados. Em outras palavras “Nossa candidata não tem nada a ver com isso”. Ou “A incompetência é local e não federal”.

Mas a Copa deixa outros legados. Descobriu-se que o brasileiro tem um pouco de cuiabanidade, pois todos os turistas que passaram pelo país elogiaram a forma como foram tratados. Isso é bem do cuiabano que sempre recebeu bem quem por aqui passou e quem aqui veio e fez de Cuiabá sua terra. Os quatro jogos que foram realizados aqui foram uma grande festa. Chilenos, australianos, russos, colombianos, nigerianos, coreanos, japoneses e bósnios sentiram-se em casa.

O grande legado, afirmam alguns jornalistas, seria a policia conseguir provar que a FIFA faz parte da máfia dos cambistas, parcialmente desbaratada no Rio. Não está muito longe disto já que a empresa que esta sendo acusada de repassar ingressos para cambistas tem como um dos acionistas o sobrinho do presidente da FIFA, que nega tudo. E não era de se esperar outra coisa.

Outro legado foi o crescimento das mídias sociais na cobertura da Copa. Debateu-se sobre sua inutilidade, sobre os jogos, sobre o absurdo de se torcer para esta ou aquela seleção, fez se muitas piadas e falou-se de muita coisa séria, o que característica própria da internet, que dá ao cidadão o poder de expor seu pensamento sem censura ou patrulhamento de quem quer que seja.

Um legado que ainda não ficou foi o brasileiro dirigir a energia que despendeu na Copa para uma transformação radical no país. O que está ai não serve e isso precisa ficar claro. Recorro mais uma vez às sábias palavras do Professor Geovani Semeraro: “Em nenhum pais o sistema fez tão mal quanto vem fazendo ao Brasil”. Em outubro teremos eleições e será uma boa oportunidade para se dar inicio a esta mudança, primeiro riscando os oportunistas que se elegem para um cargo e um ano depois do mandato já estão concorrendo a outro que certamente lhe trará mais proveito. E exigindo as mudanças pelas quais fomos às ruas em junho/julho do ano passado. E essa cobrança tem que começar já.

Sobre a derrota que para muitos foi vexatória para a Alemanha, nada demais. O país de Ângela Merkel ganha do Brasil de goleada em todos os quesitos que você quiser. Na educação tem um projeto pedagógico de fazer inveja ao nosso. A Alemanha investe cerca de 10 mil dólares/ano por aluno. O Brasil investe 2 mil, ou seja, na educação a g0leada é de 10 a 2. Mas tem outros detalhes. O salário de um professor da educação básica no Brasil é pouco mais de 500 dólares mês (embora, com qualificação cheque a dois mil dólares). Na Alemanha é de 30 mil dólares. Na saúde a comparação é mais triste ainda. Lá não se vê ninguém morrendo em porta de hospital, muito menos quando se passa mal na frente deste hospital.

Em termos de ciência, a maioria das escolas brasileiras não tem laboratório próprio. Na Alemanha, todas têm. O resultado é que nos últimos anos os alemães registraram 20 vezes mais patentes que os brasileiros. Ou seja, a goleada aqui foi de 20 a 0. E se pensarmos sem termos de prêmio Nobel, a goleada é mais vergonhosa ainda: 103 a 0.

Pensando bem, este outro legado da Copa, os supostos vexatórios 7 x 1 no Mineirão, até que ficaram barato.    

quarta-feira, 9 de julho de 2014

DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS TODOS

Maurelio Menezes
 
* Pergunta de uma senhora, na Estação do Pão, terça-feira, inicio da noite: “Será que eles pensam que nós somos idiotas tentando nos convencer que aquele ex Secretário foi assassinado por ciúmes?” Realmente é de se estranhar que menos de 24 horas depois da descoberta do corpo, a polícia já tenha resolvido o caso e, como disse o delegado, “está descartada qualquer outra hipótese como queima de arquivo”. É bem possível. Afinal, para o Poder Público, o brasileiro sempre acreditou em Papai Noel e em Coelhinho da Páscoa.

* Sobre Brasil e Alemanha, interessante a entrevista do David Luiz depois do jogo “Eu queria muito dar essa alegria ao povo tão sofrido, tão maltratado, tão... [...]”. O problema dessa Copa é que ela nasceu errada, como um projeto político partidário. O grande legado que ela nos deixará, como afirmou o petista Juca Kfouri, “é ter desmascarado a FIFA como integrante de uma grande máfia envolvida até na venda de ingresso por cambistas”. Mas nem isso até agora foi conseguido porque a apuração da polícia segue seu trâmite normal. E não vai ser resolvida de um dia pro outro, como num passe de mágica.

* Nas Mídias Sociais rolou de tudo. Posts engraçados, outros nem tanto, alguns sérios, outros sérios, mas um pouco exagerados. Alguns deles:

* “Isso representa mais que um simples jogo. Representa a vitória da competência sobre a malandragem. [...] O grande legado dessa copa é o exemplo para gerações futuras. [...] Amar a Pátria num jogo de futebol e no outro dia sair roubando, matando por ai ou cometendo pequenos delitos, seja ele qual for, furando fila, fazendo uma gambiarra, dando, enfim, o jeitinho brasileiro, vai nos manter sempre como estamos, sem possibilidade de construirmos um país melhor”

* “Não vou sair no quintal. É que tenho um pastor alemão e quando me ver em vez de latir, vai rir”

* Sobre uma foto da Dilma “A Copa tava comprada. Vocês me vaiaram e eu sustei o cheque”.

* “Por isso prefiro o UFC. Lá, quando alguém esta apanhando muito, o juiz interrompe.”

* “Urgente, Advogado do Fluminense vai entrar com um recurso para anular o jogo. De acordo com ele o alvará do Mineirão é para jogos de futebol e não para bailes”

* “Na moral... A Alemanha não destrói um país assim desde a segunda guerra mundial”

* “Espero que todos nós, brasileiros, sejamos tão patriotas nas urnas quanto o hino cantado lindamente pela torcida. Aliás, a minha torcida não é pelo futebol e sim pelo país. Cresce, Brasil! Cresce!!!” (Eduardo Mahon)

*Vergonha não é perder jogo ou campeonato. Vergonha é o índice de nosso IDH, a taxa de criminalidade em nossa sociedade e os níveis de corrupção do País. Vergonha é viaduto cair antes de ser inaugurado, pacientes deitados no chão em corredores de hospitais, crianças em escolas sem condições, professores mal preparados e mal remunerados! Isso sim é vergonha!” (Luiza Volpato)

Em 1982, no dia seguinte da derrota daquela seleção mágica para a fraca Itália, o poeta Carlos Drummond de Andrade, usou a primeira página do Caderno B do Jornal do Brasil para uma crônica maravilhosa, ilustrada por um passarinho ferido, com a bandeira nas costas (a musica “Voa, Passarinho Voa” embalava a seleção de Telê Santana que tinha Toninho Cerezo, Zico, Eder, Falcão, Sócrates, Junior e companhia). Drummond se referindo ao inicio do ano em que o brasileiro nada construíra porque o carnaval estava chegando e depois continuou sem construir à espera da vitória da seleção que jogava por música. E encerrava perguntando: “Que tal se agora começássemos a trabalhar porque já estamos no meio do ano?”

Pois é... Que tal se agora começássemos a trabalhar? Afinal estamos no meio do ano e que se começássemos por mostrar ao Poder Público que não acreditamos em Papai Noel e em Coelhinho da Páscoa?

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A VOZ DAS RUAS, UM ANO DEPOIS


Maurelio Menezes

 

Há quem diga que a partir do final da Copa as manifestações nas ruas vão se intensificar. Evidentemente que por trás delas haverá interesses inconfessáveis. Em São Paulo atingir o governo tucano, no Rio  o peemedebista. Em outros estados, atingir os governos petistas (e seus aliados) e em especial o governo federal. Aqui em Mato Grosso, por exemplo, o alvo será, sem dúvida o PMDB que, no apagar das luzes, fez um acerto com o PT para apoiar Lúdio, candidato do PT.

Com isso dançou o ex Juiz Federal Julier que foi convencido a se filiar ao partido para ser seu candidato ao Governo. Acreditou e dançou como já dançara antes o dono do grupo Gazeta, Dorileo Leal.

Em São Paulo, Maluf, deu asas ao candidato do PT, Alexandre Padilha, posou para foto com ele e o candidato petista chegou a, numa entrevista a dizer que não há como se fazer uma omelete sem quebrar ovos, referindo-se ao apoio do PP de Paulo Maluf à sua candidatura, empacada nos 4 por cento nas pesquisas. Maluf. No ultimo dia das convenções, deu o golpe e sabe-se lá por quais argumentos, bandeou-se para o PMDB de Paulo Skaf, ex- presidente da FIESP.

Essas amarrações (ou ficaria melhor armações?) políticas são resolvidas às escondidas, por uma meia dúzia de iluminados e as convenções se transformam em puras encenações.

Agora com os jogos da Copa ficou ainda mais fácil. Sábado, durante  o jogo (ou logo depois dele) vários desses caciques se reuniram pelo país afora, fizeram os acertos. Depois na segunda feira, reuniram os convencionais e apresentaram a eles a chapa pronta e fechada. A maior parte de mídia aqui em Mato Grosso noticiou que o PMDB era cortejado por diversos partidos, mas preferiu o PT e ainda emplacou a Deputada Tetê Bezerra como candidata a vice de Lúdio Cabral.  Na verdade a candidatura da deputada foi imposta como condição para o apoio, que significa um bom tempo na TV. Tudo foi decidido na sede do PR, outro aliado, no sábado, logo depois do jogo da seleção.

Essa foi um dos gritos nas ruas em junho do ano passado: acabar com essa política do toma lá dá cá, da negociação nada republicana, da enganação. E isso não mudou nada. O grito foi em vão. Ou não entenderam o que as ruas pediam ou fingiram que não entenderam porque na eleição que vem por aí os métodos serão os mesmos de tantas outras que levaram nosso país e instituições como o Congresso ao que eles são hoje. O Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras de Vereadores têm tão pouca credibilidade que até o ex presidente Sarney disse ao anunciar que não vai se candidatar mais a cargo publico algum que vai continuar na política mas não quer exercer mais cargo público porque a política está desestimulante.

A mini reforma política aprovada pelo Congresso, sem ouvir o povo, não valerá para a eleição de outubro. Não há interesse que ela valha. Eles querem continuar a fazer da coisa pública um brinquedo e uma forma de enriquecimento ilícito.

O Congresso e a Assembléia que aí estão não nos representam, gritamos todos nas ruas há exatamente um ano. E o que será eleito continuará a não nos representar. O governo por sua vez continua a dar dinheiro aos empresários e finge estar acabando com a pobreza no país. Só com o Imposto Sobre Produtos Industrializados que deixou de receber das revendedoras deixou de arrecadar ate agora mais de 15 bilhões de reais, dinheiro que poderia ser investido em educação e saúde, outro grito das ruas há um ano. Mas o governo prefere, como um Silvio Santos da vida, jogar dinheiro para um auditório seleto.

A saúde continua como estava ou pior. Na educação a novidade foi a aprovação do PNE, que estava tramitando há três anos e que não mexe no essencial: o financiamento da educação pública e principalmente o projeto político pedagógico da educação brasileira, uma educação que, como já escrevi aqui, tem o objetivo de manter o poder hegemônico como está.

Não é uma educação transformadora porque não cria no aluno o espírito crítico que ele, como cidadão, precisa ter para transformar a sociedade e impedir que algumas das falcatruas citadas acima não se repitam. Quando isso vai acontecer? Quando nós nos posicionarmos contra o que ai está, quando sairmos do estado de anomia em que vivemos, essa quase passividade que nos transforma a todos em simples subalternos.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

SÁBADO PRÓXIMO, UM DIA PRA NÃO SE ESQUECER

Maurelio Menezes

Não... O título deste artigo não é uma referência à participação da Seleção Brasileira nas oitavas de final da Copa do Mundo num jogo contra o Chile, que pode esconder uma desagradável surpresa para todos nós. O que não se pode esquecer é que num dia 28 de abril, há exatos cem anos, começou o que viria ser chamada de Primeira Grande Guerra Mundial, que matou alguns milhões de pessoas e que teve, nas entrelinhas, várias razões inconfessáveis para que ela estourasse.

O motivo oficial (sempre há um prá tudo) foi o assassinato do herdeiro do trono da Áustria, o Arquiduque Francisco Ferdinando, em Saravejo, capital da Bósnia. O assassino era ligado ao grupo Mão Negra, da Sérvia, e por isso a Áustria declarou guerra à Sérvia. A Rússia ficou do lado da Sérvia e o resultado foi a declaração de guerra pela Alemanha contra a Rússia. E aí houve um efeito dominó.

O verdadeiro motivo, entretanto, foi outro. Nos anos anteriores, especialmente a partir de 1870, o mundo vivia uma euforia que ficou conhecida como Belle Époque, com um grande avanço no campo econômico e tecnológico. E os países ricos tinham certeza que se imporiam aos países pobres. Em outras palavras, havia no ar um desejo de imperialismo tomando conta do campo político. E havia.também, um claro sentimento que uma guerra seria inevitável para que as pretensões dos países ricos fossem alcançadas. Por isso França e Inglaterra assinaram um acordo que ficou conhecido como Entente Cordiale (Entendimento Cordial) com um protegendo o outro em caso de agressão. A Rússia aderiu e o acordo passou a ser chamado de Tríplice Entente. Do outro lado estava a Tríplice Aliança, formada por Alemanha, Itália (que demoraram muito a se unificar, a Alemanha no final do Séc. XIX e a Itália no inicio do Séc. XX) e Império Austro Húngaro.

África e a Ásia haviam sido divididas por França e Inglaterra que viam nos dois continentes importantes pontos para se produzir ou simplesmente recolher as matérias primas que suas indústrias necessitavam.

Aí surgiu uma clara Torre de Babel. A Alemanha, invadiu a África do Sul, que pertencia ao Império Britânico. Como conseqüência, a Nova Zelândia invadiu Samoa que era apoiada pela Alemanha. O Japão, que nesta Guerra apoiava a Inglaterra, atacou portos chineses que abasteciam a Alemanha de carvão. Resultado: em pouco tempo todos os postos alemães no Pacífico estavam sob controle da Tríplice Entente.

A Primeira Guerra ficou conhecida também pela tecnologia de morte que criou. Foi nela que surgiram os tanques de guerra (1916, inventado pelos britânicos), gás venenoso usado pela primeira vez pelos alemães em 1915 na invasão da Bélgica. Os submarinos também foram utilizados como arma e guerra pela primeira vez pelos alemães, em 1915. No ano anterior, os aviões já estavam sendo utilizados para matar.

Os equipamentos de proteção eram pouco eficazes e isso levou a um avanço da medicina especialmente no que diz respeito a enxertos porque os soldados voltavam para casa mutilados. Com os homens na linha de frente, as mulheres foram para o mercado de trabalho, como motoristas, entregadoras de carvão ou operárias em fábricas, especialmente as de munição.

Os Estados Unidos somente entraram na guerra em 1917 e foram fundamentais para o final do conflito. O que levou os americanos a entrarem foi a saída da Rússia.  O motivo foi a vitoria dos Bolcheviques na Revolução Russa, que derrubou o regime dos Czares. E como os EUA tinham acordos milionários especialmente com Inglaterra e França, não havia outra saída. Aos poucos, os aliados dos alemães foram abandonando a guerra deixando o país sozinho e envolvido por uma série de conflitos internos. No dia 9 de novembro de 1918 o Imperador alemão Guilherme II foi derrubado e substituído por um governo provisório que assinou o tratado de paz, acabando o conflito.

Sábado, dia 28 terão se passado 100 anos do conflito que matou mais de 10 milhões de pessoas, deixou milhões inúteis para sempre, destroçou centenas de milhares de famílias, e com seus antecedentes com certeza mudou para pior o rumo que o mundo poderia ter tomado.

Sábado no Brasil, não vai se falar em outra coisa. Não sobre a guerra, mas sobre Brasil X Chile pelas Oitavas de Final da Copa do Mundo. Sobre a Primeira Guerra a mídia vai dedicar alguns segundos. Afinal, pra que dar ao brasileiro pão e conhecimento na forma de uma análise profunda do conflito se o circo está aí para ele se divertir à vontade?  

terça-feira, 8 de abril de 2014

A CUIABA DE ONTEM E DE HOJE

Maurelio Menezes

Hoje na Folha do Estao de Mato Grosso, tanto na Edição Impressa quanto na Diigital meu olhar sobre os 295 anos de Cuiabá, uma menina que está sendo muito maltratada exatemente por quem deveria enchê-la de cainho.



ERA UMA VEZ...    UMA MENINA

Quando ela nasceu, era um daqueles bebês apaixonantes que só nascem um em vários séculos. À sua volta os rios e riachos corriam fazendo aquele barulho gostoso que faz bem aos ouvidos e à alma. As flores e as árvores pareciam guardar seus passos. No solo a imensidão do verde. No céu a imensidão do azul. O destino dela estava traçado. Seria, em poucos anos, a mais atrativa do país. O ano era 1719 e logo a fama da riqueza daquela menina correu léguas e mais léguas. Em pouco tempo nela havia 30 mil pessoas, aventureiros em busca de parte de suas riquezas... A corrida ao encontro dela foi tão grande que decidiram que ela seria a capital de São Paulo. Nada mais justo, porque àquela altura, 1723, ela já era a cidade mais populosa do país.
Depois, como chegaram eles se foram... Restavam poucos E os contatos com a capital, que voltara a ser São Paulo, era feito via bandeirantes desbravadores. Eles saiam navegando pelo Tietê, aquele mesmo que alguns séculos depois foi transformado pelo homem num grande esgoto, viravam à esquerda no rio Paraná, entravam pelo rio Paraguai, navegavam até o encontro de suas águas com as do Cuiabá e vinham até o Porto, atracando às  margens da Prainha, um córrego lindo, cuja nascente alguns quilômetros acima ela bonita de se ver. No Porto ficavam as embarcações maiores e nas menores eles traziam até o encontro da Rua de Cima com a Rua de Baixo e a Rua do Meio, víveres, que trocavam por ouro e pedras preciosas...
Os anos se passaram... As margens da Prainha jovens mancebos com seus corpos queimados passavam o tempo envolvidos na pesca, especialmente do pintado, que abundava no córrego, que tinha em alguns lugares águas profundas. “Era ali –lembrou certa vez a professora Dunga Rodrigues- que as jovens da sociedade iam passear.” O passeio, é claro era uma desculpa.  Do outro lado do córrego, as lavadeiras, que tudo sabiam, que tudo falavam...
Eram tempos em que após as grandes chuvas, a criançada saia catando ouro nas ruas. E sempre achavam. Eram tempos de “cajiú”, de pixé, de cururu e siriri. Mas a modernidade acabou com isso. O Córrego da Prainha ganhou primeiro, paredes, depois foi coberto, escondido, porque era vergonhoso ver no que ele se transformara: um grande esgoto, um Tietê em miniatura.
295 anos depois, é triste, muito triste, lembrar como a história conta como foi essa menina, uma menina, com um coração sem tamanho, capaz de receber nele de forma aberta todos que até ela chegam. E chegam pelos mais diversos motivos. Chegam porque anteveem uma nova oportunidade. Chegam porque são obrigados por transferências compulsórias, chegam para “assuntar” o ambiente. Chegam por chegam. Chegam porque onde estavam se tornara impossível de viver. Chegam e ficam, a maioria. Chegam e vão embora, a minoria.
Hoje, aquela menina que nasceu em 1719, não está mais rodeada de verde. Seus rios e riachos foram transformados em esgotos ou quase esgotos. Muitos sumiram, deixaram de ser perenes porque suas nascentes foram assassinadas pela ação destruidora do homem. Os serviços que a cada ano tornaram-se mais necessários porque a menina cresceu, melhoraram muito, mas só na propaganda. Na realidade estão a cada dia piores.
Não existe um sistema de saúde digno para aqueles que vivem com a menininha de 295 anos. Não existe uma educação que privilegie o crescimento do ser humano como Ser Humano. Transporte nem se fala. Não existe estrutura para nada. Um chuvisco de cinco minutos e tudo está alagado. Com certeza, ao nascer, aquela menina não imaginava que um dia passaria por isso. Nem ela, nem ninguém.
De qualquer forma, menina, parabéns pelos seus 295 anos. Que cada um de nós façamos uma autocrítica sobre o que, feitas as devidas e honrosas exceções, estamos fazendo com você, que se abriu para nós e tem recebido em troca, em vez de flores e afagos, apenas o abandono.