quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O PAPO HOJE NA FOLHA DO ESTADO É SOBRE O PAPA E O MARXISMO

Maurelio Menezes

Desde que assumiu o pontificado o Papa Francisco vem externando posições claras em defesa da mudança do sistema econômico de forma a torná-lo mais desigual. Faz isso não apenas nas palavras mas nun documento que recemente lançou como lpider maior da Igreja Católica. Isso levou alguns conservadores americanos a taxá-lo de "marxista", como se isso fosse uma ofensa ou o diminuisse. A resposta veio  calmamanente numa entrevista a um dos principais jornalis italianos, tema do assunto do artigo publicado nesta quinta-feira, dia 19, na Folha do Estado de Mato Grosso. Voce tem acesso a ele na versão impressa do jornal, ou aqui no meu blog.


O Papa Francisco e o Marxismo



O Papa Francisco respondeu no domingo numa entrevista exclusiva ao jornal La Stampa, de forma educada, aos conservadores americanos que o “acusaram” de ser marxista. De acordo com ele, literalmente, “A teoria marxista está equivocada, mas ao longo da vida conheci muitos marxistas que eram boas pessoas, logo não me sinto ofendido em ser chamado de marxista”.

As “acusações” surgiram quando Sua Santidade em seus pronunciamentos começou a criticar não o capitalismo, mas a forma como ele está funcionando hoje no mundo, a fome que ele faz aumentar, as desigualdades que ele provoca, a distancia entre os que têm muito e os que nada têm que só faz aumentar. Quando esteve no Brasil, o Papa foi claro: “os políticos deveriam ouvir as vozes das ruas”.

Posteriormente, numa analise da economia mundial, Francisco chamou atenção para o fato de o capitalismo estar se transformando numa nova tirania, no que também foi criticado. Ao La Stampa, o Papa disse que estava apenas apresentando um olhar sobre o que está acontecendo no mundo com a solidificação de uma economia de exclusão e desigualdade.

A posição do Papa lembra uma afirmação na década de setenta do Cardeal brasileiro Dom Helder Câmara. Quando foi questionado sobre suas posições políticas disse algo como “Quando dou comida e moradia (foi ele quem construiu, no Leblon, a Cruzada, para os desabrigados da Favela do Pinto, que fora incendiada) para os pobres dizem que eu sou um santo padre. Mas quando pergunto por que essas pessoas são pobres me taxam de comunista”.

Durante os protestos no Brasil, diversos analistas afirmaram que as manifestações não eram especificamente contra o capitalismo, embora em alguns cartazes e palavras de ordem estivessem estampados os protestos contra ele. As manifestações sempre foram contra o funcionamento do sistema, que privilegia uns em detrimento de outros.

Antes das manifestações, numa Seminário Temático, aqui em Cuiabá, o italiano Geovanni Semeraro, professor da Universidade Federal Fluminense, afirmou que em nenhum dos países que ele conhecia (e ele conhece muitos) o capitalismo foi tão perverso quanto no Brasil.

Referindo-se às manifestações brasileiras, em entrevista a O Globo, o francês Pierre Levy afirmou que surgiu uma nova consciência entre os brasileiros e que os resultados não seriam imediatos. E porque alertas como os do Papa não podem despertar esse tipo de consciência também?

Há algumas suspeitas em relação às ações do Papa. A verdade é que na Europa, ao mesmo tempo em que o capital ganhou força, Deus foi aos poucos morrendo. Hoje, as igrejas são muito mais templos de visitação e admiração por turistas, que lugares para reflexão. Já na América Latina, o catolicismo perdeu espaço na mesma proporção que cresceu a pobreza. Desta forma, O Papa estaria atirando no que realmente existe, mas para recuperar o terreno perdido para a teologia da prosperidade.

O que parece fora de qualquer principio de bom senso é que cento e vinte anos após a morte de Marx ainda haja quem pense que o mundo se divide em marxistas e não marxistas. A questão é bem outra: é a falta de interesse dos políticos em investir. O governo federal comemora recorde de arrecadação, quando deveria comemorar recorde de investimento em setores essenciais. Mas o que se vê é o contrário: por ser impedido pela justiça de aumentar o IPTU em São Paulo o prefeito Fernando Haddad decidiu cortar investimento na Educação, logo ele que foi Ministro da Educação. E no Orçamento Federal, o governo cortou 3 bilhões do PAC, um programa criado para diminuir a falta de saneamento básico no pais. O problema não é ser ou não marxista. Ser ou não capitalista. O problema é querer que a miséria permaneça. Por muito tempo. Infelizmente. Esse é o monstro que os Movimentos Sociais têm obrigação de combater.

 

 

 

 

 

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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

UM OLHAR SOBRE AS REVOLUÇÕES DE MANDELA

Maurelio Menezes

Já está na Folha Digital (http://www.folhadoestado.com.br/manutencao/) o artigo desta quinta no qual falo um paralelo entre as estratégias revolucionarias apresentadas por Antônio Gramsci, a Guerra de Posição e a Guerra de Movimento, e a atuação de Nelsona Mandela na luta que levou ao fim do absurdo regime do Apartheid na África do Sul...Voce pode analisa-lo na edição impressa desta quinta na Folha do Estado - MT ou aqui no Blog.


MANDELA, O HOMEM DAS DUAS GUERRAS GRAMSCIANAS...

 
Antonio Gramsci definiu dois tipos diferentes de estratégias revolucionárias para se chegar ao poder: a guerra de movimento e a guerra de posição. Traduzindo de uma forma bem simples, a primeira é aquela em que o enfrentamento é necessário. E a segunda é aquela em que vai se conquistando espaço, posições para futuramente se conseguir mudar o poder hegemônico. Para Gramsci a guerra de movimento era algo próprio de países do Oriente. Já no Ocidente a única possível seria a de posição, ou seja, a conquista de espaços. Para o pensador italiano, quem faz a revolução tem que analisar muito bem qual estratégia adotar, pois se não o fizer, certamente estará fadado a perder.

Na semana passada foi realizada na UFMT o Seminário Temático “Os Movimentos Sociais em Diálogo com a Educação”. Na participação da representante do MST em uma das mesas de debate, ficou claro que os Sem Terra, no Brasil, usam as duas estratégias. Quando partem para o confronto com invasões, ou “trancam” rodovias país afora estão numa guerra de movimento, muitas vezes condenada, como previra Gramsci. Ela foi questionada se não era um contra senso, ao mesmo tempo que agiam desta forma e tinham um modelo próprio de educação, no qual o militante se torna sujeito social na luta, eles disputam vagas nas universidades tradicionais. Lucinéia Freitas disse que não havia contra senso porque, ao mesmo tempo em que o MST  julga necessário o confronto para atingir seus objetivos, sabe que é necessário se conquistar espaços para, aos poucos, fazer sua defesa e até divulgar suas ações. De acordo com ela, o que a mídia mostra em relação ao MST é sempre o que eles classificam de negativo, como as invasões e as interrupções das estradas. Mas nunca mostram o sistema de educação, as “cirandas” e outras ações que também compreendem a luta do movimento.

Analisando a vida e a luta de Mandela, pode-se concluir que também ele aplicou os dois tipos de guerra identificados por Antônio Gramsci. Em 1952, quando Mandela já era personagem central na historia da luta contra o Apartheid, criado oficialmente três anos antes, ele deu Início a uma guerra de movimento sem precedentes na história do país. Criou a “Campanha do Desafio” com um dia de protesto em que os negros foram convocados a usarem os espaços reservados exclusivamente aos brancos. No ano seguinte, em Sophiatown, fez um discurso forte em que afirmou que “os tempos da resistência passiva haviam passado”.

Menos de dez anos depois, já haviam criado o MK, braço armado do Congresso Nacional Africano -CNA-. Foi a fase mais violenta da luta contra o regime do Apartheid. No livro “Nelson Mandela, conversas que tive comigo”, lançado há três anos no Brasil pela Editora Rocco, ele afirma que “Nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas condições.”

Depois de 27 anos de prisão, periodo durante o qual se recusou diversas vezes a negociar com os segregacionistas, Mandela tentava convencer o Presidente Botha a anunciar o fim do Apartheid e afirmava que ele é quem deveria renunciar a violência. Quando Bhota foi atingido por uma doença séria, Frederick de Clerk assumiu o poder e Mandela viu nele as condições para uma negociação como haviam tentado décadas antes. Aí ele retomou a  guerra de posição que acabaria com Apartheid e que devolveria a África do Sul aos sulafricanos de uma vez por todas.

No domingo o corpo dele será enterrado. Mas o que a mídia tem dito nos ultimos dias a seu respeito é apenas parte da história. Há mais, muito mais, inclusive de negativo, mas um negativo que não chega a manchar o que ele foi: a mais completa tradução da luta pela liberdade do poder opressor.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MANIFESTAÇÕES ATINGEM UCRANIA E TAILANDIA... ESTE É NOSSO PAPO HOJE NA FOLHA DO ESTADO

Maurelio Menezes
Ucrania e Tailandia estão no centro de meu artigo publicado hoje na Folha do Estado -MT. Por motivos diferentes, milhares de manifestantes tem saido às ruas lutando por aquilo em que acreditam.  É mais uma demonstração que a Primavera Árabe foi apenas o estopim, nçao apenas para o Norte da África e Oriente Médio, mas para todo o mundo.  Vove pode ler o artigo na página 4 da  Folha , http://www.folhadoestado.com.br/manutencao/  ou abaixo:



TAILANDIA E UCRANIA, AS BOLAS DA VEZ...
Por motivos diferentes, ucranianos e tailandeses foram às ruas nas ultimas semanas e enfrentaram a violência policial. Evidentemente que há interesses políticos por trás dos protestos em um e em outro país. Mas em ambos os casos o que interessa é a decisão da população de contestar medidas contrarias a seu interesse, algo como mudar as regras com o jogo em andamento.

No caso da Ucrânia, o motivo da revolta foi a desistência do Presidente Viktor Yanukovich em assinar um acordo que permitiria ao país entrar na União Europeia. A assinatura seria no ultimo dia 21, mas na véspera Yanukovich anunciou o recuo, provocado pela pressão do presidente russo Vladimir Putin. O Primeiro Ministro ucraniano, Mykola Azarov, reconheceu que houve a pressão e embora tenha afirmado que não houve condição alguma imposta, fala-se que Moscou ameaçou cortar o fornecimento de gás russo à Ucrânia e a proibição de entrada de produtos ucranianos em território russo.

À frente das manifestações estão, mais uma vez, jovens que se comunicam e se convocam pela internet. Os partidos de oposição assumiram a luta iniciadas por estudantes como Alexandra Prissiajniouk, de 19 anos,  que numa das manifestações afirmou que na eleição a postura do presidente era outra e que a população estava ali para dizer que se sentiam europeus.

No domingo os ânimos se acirraram, houve confrontos e os manifestantes tomaram o prédio da prefeitura de Kiev, onde montaram o que chamam Quartel da Resistência. Para o Presidente russo, o que está havendo é que querem derrubar um governo legitimamente eleito. Mas a cada dia parece ficar mais claro que ser legitimamente eleito não basta para a população. Lá, como cá, queremos mais. Muito mais que isso. Ou como diz a canção: “A gente não quer só comida/ a gente quer comida / diversão e arte/ A gente não quer só comida a gente quer saída / pra qualquer parte /A gente não quer só comida a gente quer bebida / diversão, balé / A gente não quer só comida / a gente quer a vida como a vida quer”

Na Tailândia, o foco é a corrupção. Os manifestantes, entre eles muitos ligados a partidos de oposição, acusam a Primeira Ministra Yingluck Shinawatra, eleita há dois anos, de usar a maioria parlamentar que possui para criar leis que levem à anistia do irmão dela, Thaksin Shinawatra, também legitimamente eleito, mas acusado de corrupção, derrubado por um golpe há sete anos e exilado do país. Para os lideres da oposição Thaksin continua a governar o país, inclusive distribuindo dinheiro a parlamentares para que eles aprovem as medidas de seu interesse.

Analisando politicamente, há uma diferença muito grande entre os dois casos, especialmente porque a Tailândia é um país onde golpes de estado são quase corriqueiros: nos últimos 80 anos houve 18 deles, ou seja uma média de um a cada seis anos. Já na Ucrânia, apesar de negociações estarem em andamento há seis anos, o presidente afirma que as regras são muito duras e iriam prejudicar as camadas mais pobres da população. O que pode parecer estranho é que só agora com a pressão de Putin, ele tenha percebido isso.

O que parece estar claro é que a Primavera Árabe, o primeiro movimento social no qual a internet teve participação fundamental,  mais que mudanças no Oriente Médio e Norte da África, serviu como um estopim para uma situação que analistas identificam em todos os lugares: as mudanças são necessárias e precisam ser realizadas urgentemente. Ninguém está feliz com o que recebe e muito menos com o que vê acontecer no centro do poder.

E ao pensar em mudanças, me veio à cabeça um post de minha amiga dos tempos de TV Bandeirantes, Luciana Savaget, dia desses no Facebook, citando Fernando Teixeira de Andrade: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

 

domingo, 1 de dezembro de 2013

PAGANDO UMA DÍVIDA: MEU ARTIGO NA FOLHA DO ESTADO DE QUINTA FEIRA PASSADA

Maurelio Menezes

Como viajei meio às pessas no final de semana, acabei não publicando aqui no Blog meu artigo veiculado na Folha do Estado de Mato Grosso. Desta vez o paapo foi sobre o olhar do pensador espanhol Manuel Castelles sobre os movimentos de rua no Brasil... Agora pago esta dívida:



O OLHAR DE MANUEL CASTELLS SOBRE O BRASIL DAS RUAS

 

Em maio, quando as manifestações de ruas começaram a ganhar corpo no Brasil, Manuel Castells, considerado o principal pensador da atualidade  sobre a sociedade em rede e os movimentos sociais que dela nascem, veio ao Brasil para preparar o lançamento de seu novo livro Network of Outrage and Hope, que traduzido no Brasil seria lançado na Bienal do Livro no Rio, no final de agosto, inicio de setembro pela Zahar Editores, com o  titulo  Redes de Indignação e Esperança – Os Movimentos Sociais na Era da Internet. No livro ele fazia uma análise de movimentos sociais recentes, como a Primavera Árabe, a revolta dos Indignados na Espanha e o Occupy nos Estados Unidos.

Nos vinte dias que passou aqui entre debates e entrevistas, as manifestações cresceram tanto que ele e os editores brasileiros decidiram acrescentar um Posfácio com analise dos protestos no Brasil e antecipar o lançamento do livro para julho, para que ele chegasse às livrarias ainda no calor do grito nas ruas.

Neste Posfácio Castells começa escrevendo “Aconteceu também no Brasil e sem que ninguém esperasse”, E termina afirmando que “Pois o que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens que tudo o que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados.”

Castells bate na tecla de que a alegria de o Brasil sediar mais uma vez uma Copa do Mundo transformou-se “num negócio mafioso de corrupção em grande escala da qual participam empresas de construção, federações nacionais e internacionais e administrações publicas de diversos níveis [...]”.

Para o sociólogo espanhol, que é professor em duas universidades americanas, o grito que ganhou as ruas saiu das entranhas de um país onde há anos adotou-se um modelo de vida que ignora as dimensões humanas e ecológicas do desenvolvimento. Esse modelo, de acordo com ele, que é “centrado no crescimento a qualquer custo”, não assume a nova cultura de dignidade e de vida que não seja baseada no consumo desenfreado.

Ele não passa ao largo da educação, também, e repete uma das lutas dos professores de instituições publicas de ensino superior ao realizarem a maior greve da historia, que parou as universidades por 127 dias: esse modelo não entende que a “escolarização sem uma verdadeira melhoria do ensino não é educação, mas armazenamento de crianças [...]”.

Para Castells, as manifestações que começaram na Tunísia e se estenderam por diversos países, derrubando governos ou fazendo com que eles se mexessem, é um mundo que a “gerontocracia dominante não entende, não conhece e que não lhe interessa [..]” mas que a apavora quando vê seus filhos se comunicando via internet, tomando posições e deixando claro que o poder está saindo do controle deles e migrando para  a juventude.

Quando escreveu o Posfácio, em julho passado, Castells identificou como o mais significativo nas manifestações brasileiras as reações das instituições políticas (e consequentemente daqueles que as defendem ou vivem delas), que classificaram os protestos como demagógicos, golpistas e irresponsáveis. Verdade, mas essas classificações não foram apenas dos empoderados do momento. A oposição torcia quieta para que tudo acabasse logo, porque também ela defende esse modelo, um modelo que não coloca o ser humano como centro das ações a não ser quando se torna necessário usá-los para se atingir algum objetivo político eleitoreiro.  

Castells quando escreveu o Posfácio deixou claro ser uma questão em aberto se as manifestações levariam a uma interação real entre a política das ruas e a política das instituições.

A impressão que se tem hoje, quase cinco meses depois, é que os políticos continuam a agir como se não precisassem prestar contas a ninguém, como alguém que “vê os votos como se fossem seus, seus cargos públicos como direito próprio e suas decisões como indiscutíveis. [...} A democracia foi reduzida a um mercado de votos em eleições realizadas de tempos em tempos, mercado dominado pelo dinheiro, pelo clientelismo e pela manipulação midiática”