terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A MORTE DE KIM JONG-IL E O MITO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Maurelio Menezes




A morte do ditador norte coreano Kim Jong-Il e a reação a ela merece uma reflexão porque coloca em cheque o conceito de democracia. Pelo menos da democracia como praticada no Brasil.  Como sistema político criado pelos gregos ele era definido como um governo em que o poder era do povo, pelo povo e para o povo" ou seja, nele  o povo definiria o que quer e os governantes o atenderiam. No Brasil, um país que se diz  democrata por excelência, o povo quer saúde e não tem, quer segurança e não tem, quer educação publica e de qualidade e não tem, quer transporte decente e não tem, quer salários decentes e não tem, quer... qualidade de vida e não tem. Em compensação, não quer corrupção e tem de sobra.

As imagens do velório de Jong-Il mostram um sofrimento coletivo do povo norte coreano, um choro coletivo como foi definido pelos veículos ocidentais de comunicação. Para o jornalismo brasileiro, o choro demonstra bem o absoluto controle do Estado sobre a população. Será? Se não for um impossível teatro com milhões de atores, o povo chora pela morte dele porque sofre. E sofre por quê? Evidentemente que não é a troco de nada. Será que o que o povo quer aqui e não tem, eles não têm lá?
Jornais, sites e emissoras de TV daqui são unanimes em afirmar que são “imagens divulgadas pela TV estatal” como quem quer dizer que não são confiáveis. Mas comportamento de TV estatal não é o que mais temos aqui, com o poder publico sustentando a todas e a todos? Porque as de lá são suspeitas e as daqui não? Só as de lá manipulam?

Os jornais de hoje são catastróficos quanto ao futuro: a China teme uma desestabilização do comunismo, povo teme pelo futuro porque filho do ditador, que tem menos de 30 anos, pode colocar tudo a perder. Alias, como alguém pode colocar algo a perder se este algo já não existe, Pelo menos é isso que sempre afirmaram nossos veículos de comunicação, já que sempre pintaram a situação na Coréia do Norte como tétrica, absurda, irrespirável.

Há uma corrente de pensamento que defende a teoria segundo a qual de nada adianta você ter tudo se não tem liberdade. E por acaso no democrático Brasil temos liberdade? Criou-se a ilusão que vivemos numa democracia porque votamos nos governantes que aí estão. Alias liberdade de não votar temos. Mais ainda: os eleitos não cumprem nada dasquilo que levou o eleitor a votar neles e fica por isso mesmo. O atual governo (e os anteriores também) não dá ao povo seus desejos básicos: saúde, educação, transporte, segurança, enfim qualidade de vida, prometido nos palanques. E igualmernte fica por iosso mesmo. Onde está o exercício da democracia no sentido básico pensado pelos gregos?

Democracia aqui é um mito, é um eterno fingir, um faz de conta que só atende ao interesse de grupos social e politicamente hegemônicos, que manipulam e tratam o povo como bibelô, distribuindo a ele cestas básicas e outras empulhações.A decisão do Supremo Tribunal Federal praticamenete acabando com os poderes do Conselho Nacional de Justiça é a prova mais concreta disso. Juizes, desembargadores e ministros que vendem sentenças, que enriquecem bem mais que seus salários permitiriam vão continuar  livres, leves e soltos. 
Qual, enfim, a diferença dessa democracia da tão criticada ditadura sanguinária e manipuladora de Kim Jong-Il na Coréia do Norte?

domingo, 18 de dezembro de 2011

CONTO DE NATAL

Maurelio Menezes



Criação: André Comte-Sponville
- Mamãe! O que é felicidade?

Quando o menino fez a pergunta não fazia idéia que na resposta
estava o segredo da vida... Descalço, sentado no chão de terra batida, brincava, tranqüilo... 


- Vrrruuuummmm, vrum, vruuuuuuuummmmmm!!!!!

A mãe olhou para o filho. O rosto era de quem estava dirigindo um super conversível numa uma pista sem fim. Na mão, um pedregulho que, depois de anos e anos acariciado pela correnteza do rio, tinha um formato que até parecia um carrinho. Parecia...

- Felicidade, filho? Felicidade é... como vou te explicar.... 

- Deve ser muito complicado mesmo, mamãe, porque nunca vi nenhuma gente grande dizendo o que que é. Todo mundo fala o que que é um carro, o que que é uma casa, o que que é uma roupa, o que que é um sapato... vruuummm, vrum, vruuuumm... -e estacionou o carrinho.

- Sabe que é, filho.. A gente grande vive muito preocupada com essas coisas porque elas acabam sendo necessárias na vida. A gente precisa do sapato... precisa da casa...

- ..e não precisa da felicidade, mamãe?

- Precisa, filho... Precisa muito. É que desde muito tempo, quando chega numa fase da vida, nossos sonhos acabam sendo sufocados por essas necessidades... Nossas ilusões ficam esquecidas em alguma esquina da cidade... A gente deixa de olhar para as coisas mais simples da vida.. Só as crianças olham para elas...

- Por quê, mamãe? Gente grande não foi, um dia, gente pequena?

- Foi filho... Mas quando a gente cresce perde , como vou te explicar.... a inocência... 

- Eu sempre achei que ser inocente era uma boa coisa...

- É meu filho... Talvez seja a coisa mais importante da vida... Mas até o significado de inocente os adultos mudaram. Hoje, quando se fala em inocente logo se pensa no oposto, culpado. O sentido de pureza está meio que deixado de lado...

- Você não me disse ainda o que é felicidade. Eu posso dar mais umas voltinhas com meu carrinho antes de ir tomar banho?



Anônimo
- Pode, filho... Felicidade é poder brincar com um carrinho... Com esse carrinho.
felicidade, filho, é olhar pela janela e ver a vida em cada coisa... um passarinho na árvore... alguns peixinhos... duas tartaruguinhas... quatro sapinhos na grama... uma flor... uma criança que passa... um adulto que vai... Felicidade, filho, é a própria vida... é o respeito á vida. Sós as crianças percebem isso...


- Mas a gente não sabe o que é felicidade...

- Não sabe, mas sente, filho... Os adultos sabem, mas não sentem..

- Mas sempre foi assim, mamãe?

- Não filho... Houve uma época em que o homem era feliz. A vida dele se resumia a fazer aquilo que era necessário ser feito para que ele sobrevivesse..

- E porque tudo mudou?

- Ninguém sabe, filho, ninguém sabe...

- Olha, mamãe, uma estrela candente...


- Cadente, filho.. Vamos fazer um desejo.. Uma estrela igual a essa, há muitos anos, se transformou num símbolo de mudança... O homem aprendeu que o amor e o respeito ao próximo eram o caminho da felicidade...

- Parece que não adiantou muito, não é, mamãe? Ele se esqueceu de tudo de novo...

- É verdade, filho... Pior ainda... Se esqueceu e teima em não lembrar...

- Será que tem alguém seguindo a estrela cadente?

Papel de parede
- Tomara que sim... Pode ser alguém que, em vez de presentes, traga outros ensinamentos tão simples... Por exemplo, que todos somos diferentes... E que somente o respeito às diferenças é que vai evitar guerras, que vai aproximar os homens, vai mostrar o quanto é importante a convivência... O quanto é importante se eliminar não as diferenças de pensamento e de idéias, mas as diferenças econômicas e sociais...

- Quem sabe, mamãe, esses Reis ensinem a gente grande a olhar pela janela...

- Seria muito bom, filho, porque dois mil anos depois nós desaprendemos..... não estamos mais olhando pela janela...

- E vai adiantar, mamãe? Se a gente grande já desaprendeu uma vez vai desaprender de novo...

- Pode ser que não filho... Pode ser que daqui a dois mil anos tudo volte a ser como antes, quando o homem só matava os animais que precisava matar para sobreviver... Nunca pescava mais do que precisava... Só arava a terra que precisava arar... Só tirava da terra o que realmente necessitava... O homem lutava, mas não guerreava... Se o homem aprender mesmo a olhar pela janela, filho, vai ver que a vida só tem sentido a partir dessas coisas simples...
- Felicidade é uma coisa simples, mamãe?

- Não, filho, felicidade não é uma coisa simples... As coisas simples é que são a felicidade... Você já fez o seu pedido para a estrela?

Foto: Antonio da Silva Couto
- Já, mamãe... Eu quero que você, o papai, a vovó, o vovô, o titio, a titia, minha maninha e todo mundo nunca deixem de olhar pela janela e ver essas coisas simples. Eu quero que o mundo seja feliz, mamãe...

- Vai ser filho... Vai ser -disse a mãe olhando para a estrela cadente e para o filho que brincava com seu conversível último tipo numa pista sem fim.

sábado, 5 de novembro de 2011

SEO DOTÔ UMA ESMOLA PRA UM HOMEM QUE É SÃO...

Maurelio Menezes

Quando Luiz Gonzaga e Zé Dantas compuseram "Vozes da Seca" na década de 40 do século passado com certeza não imaginavam que a letra seria tão usada para se referir não só à ajuda dada pelos sulistas aos nordestinos na época da seca (que mais parecia uma esmola, porque os sulistas jamais se preocuparam em resolver o problema definitivamente), mas também a tantas outras situações muito parecidas.
Uma delas, agora na segunda década do seculo XXI:  a decisão de se reservar metade das vagas da UFMT para negros e brancos oriundos de escolas públicas. O problema central está, só não enxerga quem é cego ou finge não enxergar, na pessima qualidade do ensino publico que, feitas as devidas e honrosas exceções, não forma ninguem. Num passado relativamente recente quem estudava em escola pública entrava direto nas universidades de excelencia. Eu, como tantos de minha geração,  estudei num Grupo Escolar e numa Colégio Municipal e num Instituto Estadual de uma pequena cidade do interior paulista, Dracena. E sem cursinho entrei num curso que à epoca era muito concorrido na USP, o de Letras. Era uma aluno muito acima da média? Jamais o fui. Apenas tive minha formação em escolas públicas de qualidade. A partir dos anos 70, ainda no regime militar , com o movimento de entregar a educação para a iniciativa privada, o ensino publico começou a ser jogado às traças. E nenhum governo evitou essa deterioração. O de Lula com o FIES acabou de selar o "investimento" no ensino privado em detrimento do público. Há decadas o poder público não investe nem no aluno nem no professor. Tem razão a professora Amanda Gurgel ao afirmar que a educação há muitos anos não é prioridade nem dos governos municipal, nem dos estaduais e muito menos dos federais.
Hoje não se faz nada para se restabelecer um ensino de qualidade como ja tivemos no passado , mas se alimenta debates como o de cotas que nada mais são que as esmolas  poetadas por Gonzagão e Zé Dantas e cantadas por Gonzagão e tantos outros. Com esse debate pobre de conteudo, que só objetiva se desviar o foco, o governo e seus asseclas (aqueles que repetem tais quais papagaios o discurso do poder central) posam de progressistas,  incluidores, concretizadores do reparo de injustiças cometidas ao longo do tempo contra as "classes menos favorecidas".
Somente teremos um país menos injusto quando as injustiças forem corrigidas na raiz e de uma vez por todas. Nada contra politicas afirmativas, mas elas somente têm razão de ser se vierem acompanhadas de medidas que solucionem o problema na base e não sejam assumidas como um discurso demagógico.
Os governos do estado, responsável pelo ensino médio (que é um dos piores do país) e municipais (que não estão muito á frente) agradecem. Afinal a decisão, não da UFMT, mas de um grupo que reza a cartilha da administração superior (feitas as devidas e honrosas exceções) os desobriga de investir para se ter um ensino publico de qualidade. Pelo menos nos dez proximos anos que é o prazo estipulado para essa enganação.
Lamentável! E o que que mais me espanta é que cabeças aparentemente lúcidas comemoram essa aberração como se fosse a solução, a panacéia para todos os males. Não são. São apenas esmolas dadas a homens que são sãos e que, ou ficarão viciados com ela ou morrerão de vergonha. Lamentável mesmo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

EFEITO COLATERAL

Maurelio Menezes

Pela segunda vez, uma decisão autocrática da Administração Superior da Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT- provocará um resultado altamente prejudicial aos estudantes de Mato Grosso e derrubará por terra o princípio e os estudos que há décadas norteiam a criação de universidades públicas.

Este princípio, criado a partir de estudos de especialistas de diversas áreas, define que uma universidade, para ser criada, precisa contemplar as necessidades, principalmente sociais e econômicas, da região onde esta universidade está sendo criada. Isso pressupõe que os profissionais formados por esta universidade vão trabalhar nesta região para desenvolvê-la, diminuir suas carências e principalmente suas injustiças sociais.

Ao determinar que o SISU seria a única forma de ingresso na UFMT (sim, porque o que houve foi uma determinação da Reitora para atender o desejo político partidário do governo federal), a Administração Superior abriu espaço para alunos de outras regiões estudarem aqui. Pode-se afirmar que essa é idéia da universalização democrática do acesso á universidade que, teoricamente, está no centro do SISU. Discurso puro. E pior, altamente prejudicial aos cofres públicos.

Uma simples avaliação de como estão os cursos hoje e se encontrará um quadro muito diferente do que havia antes. Nos chamados cursos de ponta, entre eles Medicina e Direito, alunos entrando seis meses depois de as aulas terem iniciado. No curso de Direito por exemplo, há casos de alunos que se matricularam no ano passado e nunca assistiram aula. Nos demais cursos, pelas informações que tenho, uma evasão muito maior que nos anos anteriores. É o caso da Pedagogia onde, de acordo com uma colega que também participou aqui em Natal do 34º Congresso da Associação Nacional de Pesquisadores em Educação, cerca de metade dos matriculados não irão concluir o curso.

Na segunda decisão sem consulta à comunidade acadêmica, a da cota para alunos oriundos de escolas públicas, mais uma vez os estudantes de Mato Grosso serão prejudicados. E o pior que, como não houve debate sobre o tema nem para se descobrir formas de resolver o problema na raiz, esses alunos foram manipulados com os velhos chavões como “pai de aluno de escola pública não pode pagar cursinho”, “qualidade do ensino público é muito ruim”, “escola publica não tem laboratório” e outras falácias do gênero. Qual o resultado disso tudo? Como o ensino médio tem uma qualidade bemmelhor que a de Mato Grosso nos grandes centros, e ai me refiro principalmente a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, alunos das escola publicas destas cidades, prestarão o SISU lá e virão para cá, alguns para fazerem matricula e nunca mais voltar e outros até para cursar, mas ao se formar arrumam as malas e voltarão para suas regiões.

Estes são apenas alguns dos efeitos colaterais destas decisões absolutamente antidemocráticas e pouco inteligentes, de acordo com o pensamento do Professor Doutor Eymard Mourão Vasconcellos, do GT Educação Popular do 34º Congresso da Associação Nacional dos Pesquisadores em Educação do qual participei aqui em Natal. Num minicurso ministrado por ele e outros três pesquisadores, Eymard comentou que tem uma divida de gratidão impagável àqueles que pensam de forma diferente dele, porque essas pessoas, sejam elas quem forem, o fazem pensar, avaliar posições e correr um risco muito menor de errar.

Pois é... Muita gente da UFMT deveria ter feito esse mini curso. Com certeza os efeitos colaterais não seriam tão desastrosos quanto estes.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DEMAGOGIA BARATA OU NECESSIDADE SOCIAL?

Maurelio Menezes

O CONSEPE -Conselho Superior de Ensino e Pesquisa- da UFMT, a toque de caixa, vai votar a adoção de cotas para alunos oriundos do ensino público. Estão previstas duas votações para que a medida entre em vigor já a partir do próximo ano letivo. Estranho, muito estranho, pois em momento algum a administração superior da universidade debateu, nem mesmo entre os integrantes da administração, essa possibilidade.

A tomada de decisões sem se ouvir a comunidade acadêmica tem se tornado uma perigosa regra na universidade, apontando para um viés autoritário, incompatível com os tempos pós modernos e com o próprio discurso da administração, hoje.

Quando adotou o ENEM como única forma de ingresso na UFMT a reitora, professora Maria Lucia Cavalli Neder, ingenuamente ou não, confessou que o fez por determinação do Ministério da Educação que se comprometera a liberar mais verbas para universidade. À época houve protestos e o resultado foi uma calamidade. Cursos que nunca tiveram vagas ociosas estão até hoje, dois anos depois com “alunos de menos” ou com vagas preenchidas por matrículas, mas com os alunos jamais tendo assistido aulas. Isso sem contar os cursos que na metade do ano ainda estavam fazendo chamadas. Medicina, por exemplo, teve 13 chamadas.

A novidade da cota para alunos de escola pública está cheirando a mais uma determinação. Com ela adotada poder-se-á afirmar que esse é um país que inclui, que combate as injustiças. O triste é que não se analisa porque alunos de escolas públicas têm menos condições de ingressar em cursos de ponta como Medicina e Direito. Isso é fato. Aliás, nestes dois cursos alunos de escolas particulares também têm dificuldades. E muito. É só fazer uma análise de quantos alunos destas escolas prestam vestibular para estes cursos e quantos entram.

Mas este é apenas um dos argumentos para não se concordar com o que pretende a administração superior agora. Um dos diretores da UBES, que defende a medida afirma que nas escola publicas não existem laboratórios, computadores, acesso a cultura, livros, cinema e teatro . E o que a UBES tem feito para mudar essa situação? Há manifestações contra o fim da meia passagem, mas nunca vi ninguém invadir o gabinete do governador ou fazer greve exigindo essas melhorias para o ensino médio, responsabilidade do Estado. Assim esta posição está parecendo muito mais um golpe de oportunismo do que uma preocupação social, da mesma forma que a posição da administração superior da UFMT parece muito mais um lance demagógico para atender a ordem de Brasília. Pode até não ser. Mas se não é, porque não debater com a comunidade acadêmica? Porque não amadurecer democraticamente esta idéia por meio do debate, da analise desprovida de interesses provavelmente inconfessáveis?

Quando Hillary Clinton esteve no Brasil, ao conversar com estudantes na UNB comentou que quando a política de cotas foi implantada nos Estados Unidos, foram adotadas diversas medidas para que o motivo que justificava a adoção não fizesse dela um política permanente. Mas e aqui? O que está se fazendo agora neste sentido?

A questão da política de cotas é polemica. Todos concordam com isso. Mas como está sendo adotada aqui, com a “tropa de choque” da administração superior convocada para comoarecer em oeso na sessçao do CONSEPE dia 3, não vai resolver nada.
O ingresso universal na universidade publica só será resolvido quando a educação fundamental for tratada com seriedade. E isso é responsabilidade de todos nós. O governo do estado teve dinheiro para comprar maquinários e desviar, de acordo com o Ministério Público, 44 milhões de reais. Será que não tem algum para montar os tais laboratórios que estariam faltando (embora em muitas escolas eles existam e sejam melhores até que os das particulares).
Se a UFMT quer mesmo corrigir uma injustiça, porque não assume uma luta de melhorar o ensino fundamental por meio de projetos e, quem sabe, até mesmo a oferta de cursos de extensão mos moldes co Cuiabavest, criado pelo ex prefeito Wilson Santos e do MTvest criado nos mesmos moldes.?
Qualquer outra medida que não seja essa é empulhação pura, algo como um FIES para a UFMT, No FIES, as particulares arrumam vagas para alunos de escolas publicas e o governo libera verbas para elas. Agora provavelmente troca as vagas da UFMT por mais verba, verba alias, que poderia ser aplicada na melhoria do ensino fundamental. Mas isso seria uma politica séria de educação e politica séria para educação nao faz parte da cartilha do atual governo

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MORRE UM POUCO DO JORNALISMO APAIXONADO

Maurelio Menezes

Quem é meu aluno no curso de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso certamente já ouviu esta história. Ela faz parte do meu Planejamento de Curso porque, para mim, representa um jornalismo que, infelizmente, a cada dia está mais esquecido.
Mauro Costa, então repórter de policia do Correio da Manhã do Rio de Janeiro desceu logo de manhã para comprar pão na padaria que ficava ao lado do predio onde morava, em Niterói. Na padaria ficou sabendo de um crime envolvendo o filho do prefeito de São Pedro Da Aldeia, cidadezinha que fica na Região dos Lagos. Ali mesmo começou a dar telefonemas para suas fontes depois de pedir ao jornal que lhe enviasse um fotógrafo e um carro. Quando os dois chegaram sairam direto para o local do crime, Mauro, inclusive usando camiseta regata e com várias anotações feitas no papel de embrulhar pão. No dia em que nos contou essa passagem da vida do Mauro, Dona Neusa, sua esposa, nos disse "O pão e o leite estou esperando até hoje, mas a notícia estava na primeira página do Correio no dia seguinte".
Mauro faz parte de minha história como jornalista. Minha e de tantos outros profissionais da melhor qualidade. Com ele nos dirigindo participamos das principais coberturas jornalisticas do periodo áureo da Rede Manchete. Sob a direção dele assumi algumas vezes a Editoria Nacional do Jornal da Manchete (quando o Paulinho da Luz ia para o exterior coordenar coberturas internacionais como Olimpiadas e Copa do Mundo). Todas as grades coberturas da Rede Manchete transpiravam a paixão do Mauro. Aliás, ele era tão apaixonado que algumas pessoas brincavam que o "M" gigante que existia em cima do predio da sede da emissora era de Mauro de não de Manchete.
Foi ele quem me levou para a o SBT (juntamente com a Márcia Marsillac e com o Paulinho da Luz) onde fui fazer parte da equipe que criou o "Aqui e Agora", cujo projeto concebido e parido pelo Amaury Soares nada tinha a ver com o programa que foi para o ar e que somente se tornaria realidade quando alguns anos depois, já na Globo, Amaury colocou no ar o SP Já embrião do tipo de jornalismo que a Globo passou a fazer no seu Praça Primeira Edição.
Mauro foi Chefe de Reportagem na Rede Globo nos tempos de Armando Nogueira, Alice Maria, Luiz Edgar de Andrade (o melhor texto da história do telejornalismo e que ele levaria para a Manchete anos depois), Edson Ribeiro e outros profissionais sem os quais o jornalismo da Globo jamais alcançaria o nível de hoje.
Quando saiu da Globo, Mauro voltou para o jornalismo impresso. E mudou o jornal O Fluminense, que havia sido o principal jornal do antigo estado do Rio e que perdera muito espaço com a fusão do estado com a Guanabara. Mauro fez dele o terceiro jornal do novo estado. Foi ele quem abriu as portas do jornal para Cidinha Campos,apresentadora do principal programa do radio carioca de então, de cuja coluna fui redator por oito anos (depois eu passaria a assinar a coluna e a fazer reportagens especiais para o jornal).
O Mauro Costa que morreu hoje tinha faro pela notícia. Isso até parece lugar comum. Mas não há nada que o defina melhor, acredito. Não deixou um herdeiro no jornaismo (o Maurinho, seu filho, é musico) mas sem dúvida deixou muitas lições de como fazer jornalismo de forma apaixonada, honrada, ética, profissional. Muitos a aproveitaram a aproveitam ainda hoje.
Como registrou no Facebook há pouco uma de suas mais completas criações, a editora do Jornal Nacional Angela Garambone,depois de escrever sobre a importancia dele em sua vida profissional, "Vamos rezar pra que ele fique bem e em paz!"
Que assim seja. Sempre.

sábado, 17 de setembro de 2011

SAUDE MAL DAS PERNAS... SÓ A SAÚDE?

Maurelio Menezes

Dia desses Gabriel Nóvis escreveu um lúcido texto sobre a situação da saúde e a baixa remuneração dos médicos. É mesma absurda a situação dos médicos que estão em campanha para que a UNIMED lhes pague por consulta pelo menos o que é pago hoje pela hora técnica de um desses profissionais do momento, ligados a tecnologia.
Concordo. Afinal, um médico estuda cerca de 15 anos só para poder começar a clinicar. E tem que estudar a vida inteira se quiser se manter atualizado e não cometer erros, que são considerados crimes. Mas além dessa, tenho outra proposta: que alguns médicos que não respeitam o paciente devam ser sumariamente banidos até para não conspurcar a imagem dos colegas.
Escrevo isso porque as duas últimas vezes que estive num consultório saí muito preocupado. Numa delas mais que preocupado, saí assustado. Na primeira a médica me recebeu pegou o resultado de um exame, disse: “Não gostei. Vou aumentar a dosagem do remédio, você vai fazer outro exame e que quero te ver daqui a 50 dias.” Em seguida já foi se levantando, esticando a mão e praticamente me dizendo: “Saia logo que vem outro paciente ai”. Tempo da consulta: 2 minutos. Quando cheguei em casa comentei com Dona Cida, uma amiga que já foi empregada e que hoje nos ajuda sempre. Ela, bem humorada, disse “Xiii. Acho que o senhor deve procurar o SUS. Lá pelo menos não se paga e a consulta dura cinco minutos”. E caiu na risada.
Se os médicos gastarem em media cinco vezes mais o tempo da minha medica em cada consulta e a categoria conseguir o que reivindica, serão seis consultas por hora, ou 460 reais por hora.
O resto da conta cada um pode fazer como quiser...
O outro encontro com médicos me assustou. Não de imediato, mas depois. Há alguns dias amanheci com uma dor sem tamanho no calcanhar. Foi até a Clínica Genus e ai começou um mini calvário. Pedi um pronto atendimento. Meia hora depois dos procedimentos burocráticos e nada. Fui até o recepcionista interno, falei de minha dor, pedi informação sobre o Pronto Atendimento e ele me disse que o médico tinha acabado de “entrar num procedimento cirúrgico”. Fiquei estático. Eu ali com uma dor sem tamanho, o médico ia pra cirurgia e eles não transferiam os pacientes de emergência para outro. Mais reclamação e ai uma coordenadora garantiu que iria me colocar no ambulatório. Garantiu e cumpriu. Mudaram minha ficha de atendimento, mas eis que de repente aquele que tinha acabado “de entrar num procedimento cirúrgico” aparece. Pensei comigo: “Vai ver que aqui os procedimentos cirúrgicos duram o mesmo tempo da consulta que tive com minha médica”. Radiografia na mão ele disse que eu estava com uma inflamação “no encontro dos tendões”. Prescreveu um antiinflamatório, uma analségico mais forte e outro mais fraco, pediu uma ressonância magnética e disse que assim que o exame fosse feito, queria me ver novamente.
Na própria clinica marcaram a ressonância. Em casa percebi que haviam marcado para uma clinica que fica a cinco quilômetros dali. Liguei desmarcando e marquei para o Hospital São Matheus. Na sexta feira fui fazer o exame e depois de toda a burocracia, a atendente me disse: “Vamos lá, ressonância no pé esquerdo..” Eu assustei e disse: “Não... É no pé direito...” Ela disse que nós tínhamos um problema porque o médico pedira a ressonância no pé esquerdo. A primeira imagem que me veio foi eu entrando num centro cirúrgico para amputar o pé direito, mas com recomendação do médico para amputar o esquerdo, que estava bom. Ou para retirar um rim, mas com a recomendação do médico para retirar o fígado. Ou precisando retirar o apêndice, mas com a recomendação do médico para...
As outras combinações cada um pode fazer como quiser.
Ai uma pergunta: quanto será que merecer ganhar por consulta médicos como esses?
Cada um da a resposta que quiser...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A UNIVERSIDADE QUE EU NÃO QUERO – Segunda Parte

Maurelio Menezes


A universidade que eu não quero (e acredito que todos os professores, técnicos e alunos do bem também) tem autoridades (?) que desrespeitam em nome sabe-se lá de que, decisões dos órgãos colegiados superiores e criam regras próprias para administrar (?) Departamentos, Institutos e Faculdades, e a própria Universidade.
A cada dia ouve-se mais histórias contadas por professores submetidos a regras criadas por esses Chefes. E o pior é que, no caso dos Departamentos, eles presidem o Colegiado, que, quase sempre acata os absurdos apresentados nas reuniões. A ultima foi uma obrigação que inventaram e apresentaram a uma professora: quem não tem projeto de pesquisa é obrigado a assumir quatro disciplinas. É a velha política da quantidade em vez da qualidade vomitada de cima pra baixo e engolida por esse professores sem o menor constrangimento.
A resolução 158 de 29 de novembro de 2010, aprovada pelo CONSEPE, ela própria representando a preocupação com a quantidade, é clara, como de resto são as decisões do CONSEPE. Um professor que, por exemplo, coordene um projeto de pesquisa devidamente registrado terá cumprido 10 horas das 40 que é obrigado a cumprir se esse for seu contrato. Mais, “apenas”, três disciplinas de 60 horas e estará livre de todas as demais obrigações que teria e que pode exercer caso queira, mas sem computação de horas em seu PIA. Da mesma forma uma professora que tenha cinco orientações precisará ministrar “apenas” mais três disciplinas de 60 horas para se livrar do resto.
A impressão que fica é que o CONSEPE é apenas um Conselho figurativo. Lá se decidem as normas que devem reger o ensino a pesquisa e a extensão na UFMT. Aí esse tipo de chefe, usando sempre, ou quase sempre, o argumento que é determinação da administração superior, cria ele próprio a regra que lhe interessa não se sabe para atender a interesse de quem.
A Universidade que eu vivi e que gostaria que sobrevivesse a esse tipo de gente foi uma Universidade em que os Departamentos tinham brigas sadias com a administração superior em busca do que deveria ser o objetivo geral: uma educação realmente pública e de qualidade. Desses embates, regra geral, saiam soluções consensuais em que, também regra geral, quem ganhava era a sociedade, que, diga-se de passagem, paga o salário de todos.
O interessante é que tanto os Chefes, quanto Coordenadores de Curso (muitos dos quais compactuam com os Chefes), os Diretores, como também a Reitora e seu vice, foram democraticamente eleitos pelos votos da comunidade acadêmica. No caso dos Departamentos e Coordenações explica-se: ninguém quer pegar o que chamam de abacaxi e assim, feitas as devidas e honrosas exceções, coloca-se qualquer um no posto, para alívio dos demais. De qualquer forma já passou da hora de se debater este pequeno detalhe (para a atual administração –continuidade da anterior- a saída é tirar o sofá da sala, ou seja, acabar com os departamentos).
A Universidade que está aí é a que eu não quero. E repito: professores, técnicos e alunos do bem também não. Nem como professor nem como cidadão, que é sufocado por uma carga tributária desumana, para entre outras coisas custear o que todos nós, junta e honestamente, respeitando decisões que foram tomadas por Conselheiros também democraticamente eleitos, poderíamos conseguir.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

NUMEROS PARA REFLEXÃO

Maurelio Menezes

O texto abaixo foi postado no Blog do Luiz Nassif (que pode ser acessado no original a partir do link http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-piora-no-salario-dos-professores-das-federais ) Há outras comparações que poderiam ser feitas sobre, por exemplo, o que leva o governo a abrir concurso para outras áreas pagando bem mais para candidatos com curso médio do que se propõe a pagar para um doutor de universidade federal. Mas um detalhe salta aos olhos e confirma a insensatez do atual governo, reprodução piorada do que foram os anteriores: a oferta de reajuste para os dois proximos anos é bem inferior á inflação prevista apenas para esse ano. Ou seja, se proõe a reajustar abaixo da inflação e nem toca nas perdas que impos aos professores nos ultimos anos. Ô Raça!

Salários dos Professores das Federais já estão piores do que no Governo FHC

Por Pierre Lucena

Durante o ano de 2011, as representações docentes se reuniram com o Governo Dilma com o objetivo de reorganizar a carreira, conforme foi pactuado no segundo Governo Lula. A ideia geral era de equilibrar a carreira docente com outras semelhantes no Governo Federal, a exemplo da carreira de pesquisador do Ministério da Ciência e Tecnologia e da carreira de pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Este texto se propõe a comparar os salários destas carreiras, desde o ano de 1998 até 2011, dentro de sua principal referência, que é o salário inicial de um pesquisador/professor com doutorado.

Metodologia
Para esta comparação, foram utilizados dados obtidos junto ao Relatório intitulado “Tabela de Remuneração dos Servidores Públicos Federais”, disponibilizado pelo Governo Federal em sua página do servidor.
Foram comparados dados de três carreiras distintas:
· Professor Adjunto 1 em Dedicação Exclusiva com Doutorado, das Universidades Federais, estando este na ativa e recebendo a Gratificação de Estímulo a Docência (GED);
· Pesquisador do IPEA;
· Pesquisador do Ministério de Ciência e Tecnologia, com doutorado.
Todas as carreiras tiveram como base o salário inicial, com as gratificações a que os servidores possuem direito, como a GED, durante o Governo Fernando Henrique. Esta gratificação foi incorporada posteriormente.
Para o cálculo da inflação foi utilizado o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), do IBGE, obtido junto ao banco de dados do IPEA.
O ano de 1998 foi escolhido como base pelo fato de ser o primeiro ano com o lançamento do caderno com os salários do Governo Federal.

Resultados
O que se vê no gráfico 1, com o salário nominal das três carreiras, é certa equivalência, estando inicialmente o pesquisador da carreira de Ciência e Tecnologia com salário abaixo das demais. O professor adjunto era o que percebia a maior remuneração em 1998 (R$ 3.388,31), quando calculado com a GED cheia (140 pontos).
Gráfico 1 – Salário nominal das carreiras, desde 1998.
Quando observada a evolução salarial das carreiras, verifica-se que os docentes das universidades federais tiveram seus salários reajustados bem abaixo das demais. O pesquisador do IPEA recebe em 2011, de salário inicial, aproximadamente R$ 13 mil, enquanto os docentes com doutorado pouco mais de R$ 7,3 mil. Os pesquisadores do MCT recebem pouco mais de R$ 10,3 mil. Quando calculado o percentual de distorção, verifica-se que para equiparar-se aos salários do MCT, seria preciso um reajuste no salário dos docentes por volta de 41,1%, e para equiparar-se aos do IPEA, seria necessário um reajuste de 76,7%.
Esta distorção se mostra ainda mais evidente quando descontada a inflação pelo IPCA, com base em 1998.
Gráfico 2 – Salário real das carreiras, descontada a inflação, desde 1998.
Verifica-se que houve perda salarial dos professores quando descontada a inflação do período. O salário real do professor é 2,8% inferior ao primeiro ano da série (1998). As outras duas carreiras tiveram ganhos reais dentro deste período.
Quando colocado em Base 100, descontada a inflação do período, a distorção fica ainda mais evidente, como pode ser verificado no Gráfico 3.
Gráfico 3 – Salário real das carreiras com Base 100, descontada a inflação desde 1998.
Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal e do IPEA.
Dada a proposta do Governo de reajuste de 4% no próximo ano e posterior congelamento do vencimento, com discussão apenas em 2013, a perda em relação à 1998 é significativa, considerando a previsão de inflação de 6,5% para o ano de 2011 e 5% para os anos de 2012 e 2013. Caso a categoria aceite esta proposta, o Professor Adjunto 1 deverá receber por volta de 86% do que recebia em 1998, já descontada a inflação pelo IPCA, conforme pode ser visto no Gráfico 4.
É possível verificar certa estabilidade nos vencimentos dos professores, desde o ano de 1998. Não há ganho significativo do salário em nenhum momento, apenas a reposição da inflação, seja no Governo FHC, seja no Governo Lula.

Gráfico 4 – Previsão de salário real das carreiras até 2014 na hipótese de aceitação da proposta do Governo, com Base 100, descontada a inflação desde 1998.
Fonte: organizado pelo autor, com dados do Governo Federal e do IPEA.








Conclusão
A proposta oferecida pelo Governo Federal, além de não atender ao que teria sido acertado, de equiparação com a carreira do Ministério da Ciência e Tecnologia, ainda representa enorme perda potencial durante o Governo Dilma.
Os resultados mostraram que a realidade hoje é ainda pior do que em 1998, quando foi concedida a GED, para aqueles que a recebiam em sua totalidade, quando alcançado os 140 pontos.

Referências
IPEADATA – www.ipeadata.gov.br
Dados do Servidor – www.servidor.gov.br

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A UNIVERSIDADE QUE EU NÃO QUERO - I

Maurelio Menezes

“Precisamos debater a universidade que queremos”. Provavelmente não há ninguém na academia que jamais tenha ouvido esta frase, que é apenas uma frase porque raramente este debate toma mais que alguns minutos nos encontros e assembléias. Eu confesso que não sei, com todos os detalhes, que universidade eu quero, mas tenho certeza qual a universidade que eu não quero.
Não quero, por exemplo, uma universidade que não respeite os portadores
de qualquer tipo de deficiência, ou seja lá como se diz isso hoje, de acordo com o vocabulário politicamente correto do momento, porque a mesma universidade que cria termos que teoricamente significam respeito a esses cidadãos, na prática os discrimina, os desrespeita e faz absolutamente tudo para dificultar suas vidas como se elas já não fossem dificultadas o suficiente pela própria vida.
Há algum tempo vem sendo travado um debate sobre o que fazer com o portão que dá acesso à Universidade Federal de Mato Grosso pela Avenida Fernando Correa da Costa. Até alguns anos havia ali uma catraca daquelas que alguém com uns quilinhos a mais não conseguia passar. Havia também um caminho tortuoso com degraus desnivelados. Para se chegar ao Instituto de Linguagens, Instituto de Educação e “adjacências” era uma aventura igualmente tortuosa até mesmo para quem não portava nenhum tipo de necessidade especial. Com isso, um cadeirante precisava dar uma volta de alguns quilômetros para chegar até seu local de aula.
Seguindo uma política de inclusão, e com verba própria, o Instituto de Linguagens, dirigido pela professora Rosangela Cálix, reformou tudo: instalou um portão largo o suficiente para permitir o acesso sem dificuldades dos cadeirantes, construiu uma rampa com inclinação mínima, e até instalou sinalizadores para facilitar a caminhada dos portadores de deficiencia visual, aqueles que antigamente eram chamados de cegos.
Agora em nome de uma segurança que não existe, querem voltar com a catraca e construir um portão para os cadeirantes, portão que ficará fechado a cadeado. Mas quem abrirá este portão para eles? "O guarda", dizem os defensores do fechamento. Mas e quando o guarda não estiver ali? Sim, porque o guarda atende a três Institutos e fica a maior parte do tempo circulando. "Bem aí o cadeirante espera". Assim, se ele der sorte, ficará apenas umas duas ou três horas esperando.
No mundo inteiro as soluções hoje são pela acessibilidade, mas na
Universidade Federal de Mato Grosso a opção parece ser pela inacessibilidade, pelo desrespeito ao Ser Humano, especialmente àqueles que sofreram algum tipo de infortúnio físico. Essa universidade de < cegos, definitivamente, eu não quero. Também não quero uma universidade que privilegia a construção de prédios em detrimento da contratação de servidores. Mas isso é assunto pra outro dia.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A GREVE QUE PODERIA SER EVITADA

Maurelio Menezes

Na quarta-feira os professores da UFMT entram em greve. É uma greve que poderia ser evitada se não fosse a arrogancia e a incompetencia do governo federal. Na campanha de 2002 Lula afirmou que iria acabar com as perdas impostas aos professores pela incompetencia e insensibilidade dos governos anteriores. Na época essas perdas eram de 75 por cento. Oito anos de engodo se passaram e hoje essas perdas, de acordo com alguns cálculos, são de 152 por cento, mas de acordo com outros são superiores a 180 por cento. Ou seja, o governo dele foi mais incompetente e mais insensivel que os anteriores.
O resultado desta incompetencia e insensibilidade está na constatação da deterioração do ensino superior público. Não há atrativo algum em se seguir a carreira de docente. Dia desses, uma colega de Departamento comentou comigo que um taxista brincou com ela: "A senhora, doutora, estudou tanto pra ganhar isso. Eu que nunca estudei nada ganho muito mais na praça". Nada contra o taxista "ganhar mais na praça", aliás, eles deveriam ganhar até mais.Mas tudo contra se ganhar o que ganha um professor.
Além de tudo, o salário é apenas a ponta visível do iceberg (ou caberia melhor "o Titanic"?) em que se transformou o ensino superior público. O atual governo (e a atual administração superior da UFMT reproduz isso, ai sim com competencia) está destroçando a olhos vistos as universidades. Em uma de minhas disciplinas, essencialmente prática, não há técnico há varios anos, o que significa que há varios anos, os alunos não têm, como deveriam,a prática. Já fiz de tudo, inclusive liberei os alunos e tornei público essa deficiencia por meio aqui de nosso Espaço Aberto, depois de enviar corresondencia á reitora e à Pro Reitora de Ensino e Graduação. O que ambas fizeram? Resolveram o problema? Não. Exigiram, pelo que informou a Chefe de Departamento que eu prestasse contas sobre minha decisão.
Enquanto não investe na universidade pública, o governo financia o ensino privado via Prouni, o que faz com que as universidades privadas recebam, para preencher vagas ociosas, muito mais dinheiro que as públicas recebem como
orçamento. Há outra saida que não a greve? E a decisão foi tomada numa assembléia bastante participativa, com apenas cinco votos contrários e outras cinco abstenções.
Com a greve perdem todos. Ou quase todos. Perdem os alunos, que terão um atraso em suas vidas academicas,além do descontrole de seus calendários pessoais. Perdem os professores que terão o desgaste natural de um movimento reinvindicatório, além, igualmente, do desncontrole de seus calendários pessoais, do planejamento que fizeram. Perde a sociedade, que paga impostos para, entre outras coisas, financiar a produção de conhecimento que deve ser revertido em beneficio dela própria. Só não perde o governo federal (e, por extensão, a administração superior da UFMT), que não têm a menor preocupação com alunos, professores e sociedade.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

E POR FALAR EM ELEIÇÕES...

Maurelio Menezes


Ano que vem tem eleições municipais... Sites e outros veículos de comunicação estão divulgando as primeiras pesquisas sobre intenções de votos. Em Brasília discute-se a reforma política e algumas previsões não são nada animadoras. Uma delas é a lista fechada, para mim, uma aberração. Vai, na verdade, significar uma economia para candidatos corruptores: nos moldes de hoje eles compram votos dos eleitores. Com a lista fechada vão gastar dinheiro apenas com os convencionais. O voto vai continuar sendo obrigatório, o que, no meu olhar é discutível. Entendo que o brasileiro ainda não tem maturidade para ser livre para votar ou não. Mas quando terá? Votar é como andar: só se aprende no exercício do fazer, ou seja, andar se aprende andando, votar se aprende votando, da mesma forma que amar só se aprende amando.

Antes das eleições do ano que vem, entretanto, para nós aqui em Mato Grosso outra vai mexer com muitas coisas: a do Conselho Regional de Odontologia, uma área sempre colocada em segundo plano, que não provoca grandes discussões e que é, talvez, a mais importante na área de saúde publica. As eleições do CRO, como a própria atividade de seus profissionais, sempre foram uma espécie de feudo, sem discussão pública. Nós, pobres mortais, nunca fomos chamados a dizer o tipo de odontologia que queremos. Mais do que isso, nunca se viu, que eu saiba, um debate entre candidatos em que suas propostas não apenas para a classe, mas especialmente para a sociedade, sejam colocadas em julgamento.

Três grupos concorrem ao comando do CRO e eu já tomei partido: A situação tem duas “chapas” A UM, comandada por Dalter Favarete, e a DOIS, que é uma espécie de dissidência, comandada por Gustavo Oliveira, atual presidente, com a “Valorização”. Pelas propostas expostas no blog, estão preocupados apenas com a categoria. Fica difícil concordar. Já passou do momento de se apresentar propostas mais amplas, que beneficiem diretamente a sociedade.

A chapa TRÊS tem Alba Medeiros à frente. Ela é a primeira mulher na história do CRO a se candidatar ao cargo. Enfermeira, cirurgiã dentista, professora da UFMT, especialista em saúde publica, integrante do Grupo de Pesquisa comandado por Julio Muller é, para mim, das três, a que mais transparentemente apresenta as propostas e a mais preocupada com a construção de uma odontologia que sirva ao dentista, mas tenha também a sociedade como prioridade. As propostas da chapa TRÊS estão em http://www.inovacaocromt.com.br/ . Alba propôs um debate entre os três candidatos e até agora nenhum adversário se dispôs a isso.

Aliás, a ADUFMAT poderia prestar um serviço à cidadania tomando para si a responsabilidade de promover e organizar esse debate, que poderia ser transmitido ao vivo por emissoras de rádio e até de TV. Afinal, é por meio de eleições como essa do CRO, que não têm o mesmo destaque das municipais, estaduais e nacionais, que conseguiremos construir um país de verdade já que as reformas começam pela base, pelas entranhas, e não pelo cume, pelo visível.



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segunda-feira, 14 de março de 2011

SENHOR BOM JESUS DO CUYABURACO

Maurelio Menezes

Todo ano, nessa época, é a mesma história. Cuiabá deixa de ter ruas com buracos e passa a ter buracos com alguns pedaços muito pequenos de rua. Os argumentos são, entra ano sai ano, os mesmos. Com a chuva fica complicado porque os servidores da Secretaria de Infra Estrutura vão na frente tampando e a chuva vem atras destampando... Ou a culpa é do asfalto feito em administrações anteriores sem drenagem.

Mas, acredito, nunca antes na história dessa cidade, houve tantos buracos. Dia desses, um tuiteiro brincou em seu perfil afirmando que "Cuiabá está com tanto buraco que tem buraco na calçada esperando a vez dele ir pra rua". É verdade. Pior ainda, O Japão vai se reconstruir, se livrar de todas as consequencias da tragédia pela qual está passando e ainda estaremos sofrendo com os buracos nas ruas da cidade. A situação está tão feia por aqui que tem buraco até em quebra molas (na pista da Miguel Sutil, no trevo do Centro de Eventos do Pantanal".
A responsabilidade da Prefeitura é maior ainda porque como essa buraqueira está colocando em risco vidas e não raro provocam acidentes. Além disso, há os prejuizos. Ontem à noite, ainda na Miguel Sutil, proximo ao viaduto da Rodoviária, uma fila de carros, com seus motoristas trocando pneus. esses são os prejuizos mais simples. E quando o buraco afeta algum mecanismo que precise de oficina? Ai o motorista fica com o prejuizo maior, além de ficar sem carros por alguns dias, enquanto o conserto é realizado.

A buraqueira está espalhada por todas as avenidas e ruas num momento delicado para a Prefeitura: o da cobrança do IPTU. O Secretário de Finanças, Guilherme Muller, numa entrevista ao MTTV 2ª Edição informou que se houver o mesmo número de pagadores do ano passado, a arrecadação vai dobrar. Mas já tem muita gente se questionando: será que vale a pena pagar?  Na campanha do IPTU, são enumerados diversos serviços que teriam sido feitos com o dinheiro arrecadado. Mas o que a população quer é o que está próximo dela e isso ela não tem tido, especialmente no que diz respeito ao cuidado com a cidade.
Já passou da hora de fazer um trabalho preventivo e definitivo. O recapeamento das principais avenidas da cidade, se bem feito, teria, a médio prazo, um menor custo que o tapa buraco. Mas será que há interesse nisso? Aparentemente não. É como o caso do estádio do Maracanã, no Rio. Nos ultimos dez anos ele já foi reformado umas cinco vezes. Em cada reforma gasta-se quase o que se gastaria para construir um estádio novo. Quem ganha com isso? O contribuinte com certeza não.
Se não planejarem uma solução definitiva, ou pelo menos duradoura, a sugestão aos motoristas é simples: recorrer co PROCON. Uma enxurrada de ações contra a Prefeitura, obrigando-a a pagar pelos estragos nos carros, vai obrigá-la a tomar alguma providência. Se nem assim resolver, aí é partir mesmo para a desobediência civil.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

MOACYR SCLIAR

Maurelio Menezes

Sempre tive para mim que a morte de um corpo nada mais é que a certeza do não encontrá-lo jamais. O mais, são representações que dela se fazem. Quando morre um corpo como o de Moacir Scliar, fico imaginando que além da certeza de não encontrá-lo jamais, todos nós corremos o risco de não encontrar alguém que faça da vida uma doação como ele sempre fez.


Desde seu primeiro livro no final dos anos 60, quando lutávamos contra um estado que não interessava a nossos sonhos de país (na verdade ele já escrevera antes, mas não considerava "escritos profissionais") até o ultimo, lançado no ano passado, tres meses antes do "derrame cerebral" que acabaria por matá-lo hoje de madrugada, Scliar foi intenso e denso.

Não se contentou apenas com o escrever esse oficio que, de acordo com Rainer Maria Rilke só se deve exercer se ele for necessário à vida, se ele for o oxigênio que impede a morte. Talvez tenha sido um dos principais educadores na área de saude, num país onde educação e saúde são tão abandonados. Quando ele foi para Israel fazer pós graduação em saude comunitária, foi pensando que apenas o teclado não seria suficiente para ajudar esse pais a se tornar, pelo menos, um país menos injusto.Tinha razão.

Criou personagens maravilhosamente reais, como o João Mortalha, de "A Majestade do Xingu", um grileiro do Xingu que pretendia se tornar proprietario de terras indigenas dizimando os donos originais. Chega a planejar distribuir roupas infectadas com virus da varíola aos indios, mas seus planos são abortados pelo sanitarista Noel Nutels, que acabara de chegar a Mato Grosso e vacinado os indios da região. Quantos "Joões Mortalhas" existem hoje, não?

Hoje e amanhã vamos ouvir e ler muito o mais comum dos lugares: "A literatura brasileira está mais pobre", "O Brasil amanheceu mais pobre". Esses lugares comuns também são verdadeiros. Eu, por minha vez, estou com um pouco mais de medo. Medo que a cada Scliar que morra não surja outro para se doar como ele o fez, que seja capaz de fazer do dia a dia uma ferramenta para melhorar esse país, uma obrigação de todos nós, mas que nem todos assumimos como nossa.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PABLO CAPILÉ E OS PRIMEIROS PASSOS DA NOVA MINISTRA DA CULTURA, ANA DE HOLLANDA

Maurelio Menezes

Pablo Capile, produtor cultural
Ontem postei aqui  a análise do produtor cultural e  ex secretario municipal de cultura de Cuiabá, Mario Olimpio, que você pode ler logo abaixo deste post. Há pouco no Twitter, Pablo Capilé, outro dos importantes produtores culturais de Mato Grosso,  fêz uma análise do que poderá ser a gestão da nova ministra Ana de Hollanda, a partir de seu primeiro discurso oficial. Ele não gostou, no que foi seguido por outros tuiteiros. Abaixo, a série de tweets postados por ele que, no geral, exprimem seu pensamento. Como o de Mario Olimpio, é uma visão que deve ser levada em consideração porque Pablo é essencialmente do ramo. Para quem não o conhece, Pablo  é o gestor do Circuito Fora do Eixo em Cuiaba, Diretor da Abrafin- Associação Brasileira de Festivais, ativista da Rede Musica Brasil e um dos responsáveis pela criação da moeda Cubocard que tem como base a economia solidária.

03 de jan 18:12 A ministra vai começar a falar nesse momento.
03 de jan 18:17 Não é má vontade com a ministra, mas já no primeiro parágrafo falar de mudança, de novidade, de imprimir sua marca é preocupante.
03 de jan 18:34  falou dos pontos e do vale, mas faltou a nova LDA (lei de direitos autorais), a cultura digital, as redes, as ouvidorias, as confer~encias. Muito Macro. Não gostei!
03 de jan 18;35 primeiro discurso da o norte, gera compromissos, indica a gestão e sinceramente, nesse sentido o começo do novo ministério foi bem ruim.
03 de jan 18:38  retomar essa perspectiva artistocentrica colocando o artista no centro do debate cultural é reducionista, equivocado e descontextualizado!
03 de jan 18:40 a estamos cansados de secretarias de arte pelo pais e acredito que não queremos agora um ministério de arte.
03 de jan 18:40 (retuitando @pdralex)  foi um discurso mais poético do que prático... fico com receio de gente boazinha demais nos discursos, parece sem convicção
03 de jan 18:42 (retuitando @pdralex novamente) sobrou fofura e faltou pauderescencia.)) As pautas antropologicas sumiram e as artisticas sobraram. O Minc não é a Funarte!!.)
03 de jan 18:44 (retuitando @blazeh_) Apesar de tudo, de certa é o primeiro dia de trabalho. Acho q não devemos iniciar c/ este pessimismo. Esperar ações p/ julgar.
03 de jan 18:44 (retuitando @graffos) pois é pablo, a organizar as forças para termos um MINC mais do nosso jeito. Ou seremos atropelados pelo reducionismo.
03 de jan 18:45 (respondendo a @blazeh_) não é pesimismo é clareza de que não podemos retroceder nas pautas. Esse discurso da ministra serve pra Funarte e não pro Minc.
03 de jan 18:47 Acredito que o movimento cultural já esteve fortemente na base nos ultimos 8 anos. Agora é hora de cobrar, marcar, não da pra retroceder.

@MariOlimpio enviou ao meu perfil pessoal, @MaurelioMen e ao do Pablo, @PabloCapile, a análise dele sobre o discurso. Foi curto e objetivo:"Foi um discurso bem PSDB. É o que digo, liberal desenvolvimentista. RT @MaurelioMen @PabloCapile"

O jogo está jogado. Alias, foi jogado no dia 31 de outubro. Agora é se adaptar a ele ou adaptar o jeito dele ao que for mais correto para o setor como um todo. Talvez o meio termo seja o ideal: nem tanto artistico nem tanto antropológico. Mas aí seria ser muralista demais, ou seja peessedebista demais.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O OLHAR DE MARIO OLIMPIO SOBRE AS NOVAS GESTOES CULTURAIS DE MATO GROSSO E O BRASIL

Maurelio Menezes

Malheiros, novo Sec Est de Cultura-MT

Ana de Hollanda, nova Ministra da Cultura
 O ex Sec. Mun. de Cultura de Cuiabá, Mario Olimpio, publicou hoje em seu Blog uma análise do que poderão ser as gestões culturais em Mato Grosso, com o Secretário João Malheiro, e no pais com a ministra Ana Hollanda.
É uma opinião que deve ser levada em consideração pelo que o ex Secretario representa para o setor cultural na capital, tendo sido o responsável, por exemplo, pela quintuplicação do orçamento para Cultura em Cuiabá. Por isso reproduzo aqui o texto postado no Blog http://www.mariolimpio.wordpress.com/ . Se você preferir ir direto a fonte é só clicar aqui.

MALHEIROS E O BONDE
*Mario Olimpio


Quero desenhar aqui nestas mal traçadas linhas a minha perspectiva quanto ao desempenho do deputado João Antonio Cuiabano Malheiros no cargo de Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso, com algumas observações sobre a relação interdisciplinar com o Ministério de Cultura de Ana Buarque de Hollanda.

Primeiro quero cutucar um mito. Tenho lido que o deputado não tem afinidades com a cultura e que seria melhor alguém do “meio”. Isto é besteira. A afinidade que um gestor precisa ter é com as políticas públicas do setor e as suas sistematizações. No caso da cultura, esta sistematização está sendo construída exatamente agora. Só no final de 2010 o Plano Nacional de Cultura foi aprovado e sancionado, transformando-se em Lei Federal. Portanto, Malheiros terá facilidade para se familiarizar e atuar nesta construção.

Quanto às afinidades com o caráter simbólico da cultura, ora, esta todos nós seres humanos as temos. A cultura é a nossa própria existência. Antropologicamente, todas as pessoas estão prontas para serem secretárias de cultura.

Saindo da antropologia, o problema que Malheiros e Hollanda vão enfrentar é bem mais material que simbólico: a falta de dinheiro. O investimento da Função Cultura no Orçamento Geral do Governo do Estado de Mato Grosso, desde a criação da Secretaria, nunca chegou a pelo menos 0,5% do bolo estatal. Mas, esta não é uma realidade local. Dos 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal, apenas dois ou três chegam a 1%. Mato Grosso está entre os últimos. Veja aqui a pesquisa do investimento dos governos estaduais na cultura. 

Só prá comparar, até o final do 5º Bimestre de 2010, o Governo do Estado tinha arrecadado quase 7,5 bilhões de reais e aplicado em cultura pouco mais de 12,7 milhões de reais, que significam 0,17% do bolo, um dos índices mais baixos da história da Secretaria de Cultura. Para o ano de 2011 de uma receita prevista de 11 bilhões de reais, o governo pretende investir 21 milhões, portanto 0,18% mantendo a linha decrescente do investimento no setor cultural.

Este é o cenário que Malheiros encontra: pouco dinheiro e demanda crescente – os projetos que são apresentados ao Conselho Estadual de Cultura para pleitear os recursos do estado somam anualmente mais de 200 milhões reais e apenas 5% desta demanda é atendida -, com a declaração do governador Silval Barbosa de que 2011 será um ano de ajuste fiscal, mais os entraves burocráticos, o deputado terá que usar de toda a sua experiência política para conseguir avançar.

No Congresso Nacional, tramita a PEC (Projeto de Emenda a Constituição) nº 150, que prevê, a exemplo da Saúde e Educação, a vinculação de receitas para a cultura nos orçamentos dos três níveis de governo. Pelo projeto a federação investiria em cultura um mínimo de 2%, estados 1,5% e municípios 1%. Caso aprovada, haveria um crescimento de mais de 300% de dinheiro público na cultura. Seria um bom começo. No entanto, a PEC tramita no Congresso há mais de 5 anos e eu duvido muito que ela seja aprovada.

Eu acredito mesmo é na rapaziada. Como diz a professora Aline Figueiredo, o bonde está passando! E o bonde é a Copa do Mundo 2014. Todo o setor cultural, e não apenas o poder público, precisa estar preparado. Senão o bonde passa. Encontrar uma alternativa de financiamento, onde poder público, mercado e sociedade civil organizada trabalhem em consonância, operando um modelo híbrido, reconhecendo as limitações e as possibilidades, a diversidade e as diferenças, experimentando novas tecnologias, reformando o modelo vigente de distribuição de recursos, passa a ser agora meta de todos nós, que queremos embarcar neste bonde. O que eu quero dizer é que o problema não é só do Malheiros. É de todos nós.

*Mario Olimpio é produtor cultural, advogado e especialista em planejamento e gestão cultural (UNIC).