sábado, 5 de novembro de 2011

SEO DOTÔ UMA ESMOLA PRA UM HOMEM QUE É SÃO...

Maurelio Menezes

Quando Luiz Gonzaga e Zé Dantas compuseram "Vozes da Seca" na década de 40 do século passado com certeza não imaginavam que a letra seria tão usada para se referir não só à ajuda dada pelos sulistas aos nordestinos na época da seca (que mais parecia uma esmola, porque os sulistas jamais se preocuparam em resolver o problema definitivamente), mas também a tantas outras situações muito parecidas.
Uma delas, agora na segunda década do seculo XXI:  a decisão de se reservar metade das vagas da UFMT para negros e brancos oriundos de escolas públicas. O problema central está, só não enxerga quem é cego ou finge não enxergar, na pessima qualidade do ensino publico que, feitas as devidas e honrosas exceções, não forma ninguem. Num passado relativamente recente quem estudava em escola pública entrava direto nas universidades de excelencia. Eu, como tantos de minha geração,  estudei num Grupo Escolar e numa Colégio Municipal e num Instituto Estadual de uma pequena cidade do interior paulista, Dracena. E sem cursinho entrei num curso que à epoca era muito concorrido na USP, o de Letras. Era uma aluno muito acima da média? Jamais o fui. Apenas tive minha formação em escolas públicas de qualidade. A partir dos anos 70, ainda no regime militar , com o movimento de entregar a educação para a iniciativa privada, o ensino publico começou a ser jogado às traças. E nenhum governo evitou essa deterioração. O de Lula com o FIES acabou de selar o "investimento" no ensino privado em detrimento do público. Há decadas o poder público não investe nem no aluno nem no professor. Tem razão a professora Amanda Gurgel ao afirmar que a educação há muitos anos não é prioridade nem dos governos municipal, nem dos estaduais e muito menos dos federais.
Hoje não se faz nada para se restabelecer um ensino de qualidade como ja tivemos no passado , mas se alimenta debates como o de cotas que nada mais são que as esmolas  poetadas por Gonzagão e Zé Dantas e cantadas por Gonzagão e tantos outros. Com esse debate pobre de conteudo, que só objetiva se desviar o foco, o governo e seus asseclas (aqueles que repetem tais quais papagaios o discurso do poder central) posam de progressistas,  incluidores, concretizadores do reparo de injustiças cometidas ao longo do tempo contra as "classes menos favorecidas".
Somente teremos um país menos injusto quando as injustiças forem corrigidas na raiz e de uma vez por todas. Nada contra politicas afirmativas, mas elas somente têm razão de ser se vierem acompanhadas de medidas que solucionem o problema na base e não sejam assumidas como um discurso demagógico.
Os governos do estado, responsável pelo ensino médio (que é um dos piores do país) e municipais (que não estão muito á frente) agradecem. Afinal a decisão, não da UFMT, mas de um grupo que reza a cartilha da administração superior (feitas as devidas e honrosas exceções) os desobriga de investir para se ter um ensino publico de qualidade. Pelo menos nos dez proximos anos que é o prazo estipulado para essa enganação.
Lamentável! E o que que mais me espanta é que cabeças aparentemente lúcidas comemoram essa aberração como se fosse a solução, a panacéia para todos os males. Não são. São apenas esmolas dadas a homens que são sãos e que, ou ficarão viciados com ela ou morrerão de vergonha. Lamentável mesmo.