O maior sucesso das telenovelas brasileiras nos últimos dez anos, tanto em audiencia quando em faturamento (nos seis meses que ficou no ar, a Rede Globo faturou mais de um bilhão de reais só em merchandising, aqueles comerciais inseridos na trama. Só no capitulo final havia mais de 500 anunciantes). Para o ex professor do curso de jornalismo da UFMT, hoje professor da UFRJ, Joaquim Welley Martins, a novela que teve "uma mistura até mesmo meio rocambolesca de Nelson Rodrigues, William Shakespeare, com pitadas de Freud, Aristóteles e Ágatha Cristhie, dentre muitos motivos foi boa para mostrar ao Brasil uma parte dele mesmo, que fica oculta e/ou ignorada por muitos"
João Emmanuel Carneiro |
Janete Clair |
Hoje, muitos não se lembram de Janete Clair (no Globo Repórter, logo após a novela, ela merecia uma lembrança. E no Jornal da Globo, onde a novela foi tema de quatro grandes reportagens, uma feita de Nova Iorque, mais o comentario de Arnaldo Jabor, ninguem se lembrou dela também), mas "Avenida Brasil" teve o o vai e vem dos personagens janetianos, a capacidade de despertar a um tempo o amor e o ódio ou como aconteceu no caso de Carminha, um ódio que no final se transformou em simpatia, quase amor. Uma pesquisa encomendada pela Globo revelou que 97 por cento das pessoas entrevistadas não queriam a morte dela.
Janete foi muitas vezes criticadas por intelectuais e pela intelligentzia, para quem as novelas escritas por ela e produzidas pela Rede Globo eram uma forma de dar circo a um povo que estava precisando de pão. Era um instrumento da "dominação imperialista" e outras bobagens do gênero. Hoje, muitos dos quais faziam essas criticas estavam sentado á frente de seus modernos aparelhos de TV. E em Salvador, chegou-se ao cúmulo de colocar um telão para que o público que fosse ao comício do candidato do PT, Nelson Pelegrino, não perdesse o ultimo capítulo da novela. No palanque estava inclusive a presidente Dilma Rousseff. Mas também ela, do alto de sua popularidade, rendeu-se e reconheceu sua incapacidade em concorrer com Carminha, Nina, Tufão, Cadinho e suas três mulheres, Adauto "chupetinha", Leleco e a turma do Divino. Talvez isso seja um recado: hoje, o povo prefere muito mais a ficção que a falsa realidade que estão querendo vender todos os candidatos nos palanques desse Brasil em tempos de eleição.
Aliás, um Brasil que Janete Clair já havia mostrado em Eu Prometo, outro de seus sucessos e que tinha em Franscisco Cuoco um politico com imagem de bom moço, familia, que se elegeu sempre por essa imagem, na verdade criada no imaginario das pessoas, mas acaba se apaixonando por uma fotografa´(interpretada por Renée de Vielmont). Como tantos politicos de todos os tempos, ele, na verdade, vendia uma imagem e tinha outra prática. Era como aqueles politicos que prometem muito antes da eleição e depois de eleitos se esquecem de tudo e fazem exatamente o contrario do que prometeram.
Mera coincidencia com os tempos de hoje? Não... Janete Clair tinha o dom de fazer a arte imitar a realidade como ninguem. A trama saida de sua cabeça, escrita em 1983 e 1984 (e finalizada por Gloria Perez, pois Janete morreu em novembro de 1983) ainda hoje é atualissima e os palanques pelo pais afora estão cheios de Lucas Cantomaia, o personagem de Cuoco. Até quando?