quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O ABSURDO DOS DESMANDOS NA UFMT

Maurelio Menezes

Reproduzo abaixo uma Carta Aberta escrita por um professor da Universidade Federal de Mato Grosso que, como tantos outros ao longo dos anos, vem sendo desrespeitado por uma junta médica (ou seria de torturadores, como afirma o professor?).  A denuncia é gravissima. Essa carta Aberta foi distribuida a vários professores da UFMT e, após sua distribuição, gerou um sem número de depoimentos d eoutros professores que passaram por situação semelhante. Justiça seja feita esse desmando não é exclusividade da atual administração.  Mas denuncias como essa nunca foram tão constantes, o que é lamentável sob todos os aspectos.


Carta Aberta à Magnífica Reitora da Universidade Federal de Mato Secretaria Cultura Mato Grosso
Profª Drª Maria Lúcia Cavalli Neder

CABES: sala das torturas?
Eu tenho câncer. Este diagnóstico é avassalador na vida de qualquer um de nós. Tanto o portador da doença quanto a sua família e amigos próximos são atingidos. Do dia para a noite temos de aceitar essa verdade e as limitações que ela passa a nos impor. Todos os nossos planos são repensados; passamos por procedimentos médicos de nomes impronunciáveis e assustadores; tantos sobressaltos, dúvidas. Tanto medo de morrer...
Desde que recebi o diagnóstico já fui submetido a uma cirurgia que extirpou minha tireóide, acompanhada de um esvaziamento cervical. Suportei dores. Tive momentos de tristeza, mas nunca de desânimo. Na etapa inicial do tratamento, fui assisitido por dois jovens oncologistas formados pela Faculdade de Medicina desta UFMT, que agiram com absoluta competência. Na segunda fase serei assistindo por um médico aposentado (pela mesma Faculdade). Todos me transmitem muita confiança de cura.
O tratamento corria muito bem até receber o telefonema de um técnico do CABES. Em comunicado imperativo informava: A sua perícia médica foi marcada para quarta feira e esteja aqui às 8 horas. Contrargumentei: acabo de passar por uma cirurgia. Resposta: encontre alguém que te traga aqui professor. Pedi ajuda a um amigo e no dia aprazado lá estavámos. O atendimento começou às 9 hs. Afinal, as pessoas que ali vão para serem periciadas gozam de absoluta saúde e podem esperar.
Na sala de espera, o tom das conversas que ouvia foi me intrigando. Todos tinham reclamações de um senhor, e olhavam temerosos para uma porta. Ao mesmo tempo um senhor muito sizudo abria e fechava portas; fazia entrar as pessoas numa saleta, tudo sem nos dar ao menos "bom dia". Ao meu lado, um professor aposentado por problemas cardíacos dizia que seu emocial não estava bem, e temia o que podia lhe acontecer. Já tivera negado uma vez seu pedido de não mais recolher imposto de renda, direito assegurado em lei.
Fui chamado pelo senhor sizudo e conduzido à saleta, onde recebi a ordem: sente-se!. Ele saiu para logo depois voltar. Silêncio. Na sala, três homens, que depois vim saber eram médicos. Nenhum se apresentou. Você fica sem saber com quem vai conversar e quais os procedimentos serão ali adotados. Intimidação? Descaso com o outro?
Na saleta, há duas mesas e quatro cadeiras. Alguém, que supus fosse um médico, ocupava a mesa mais afastada e assumia um ar distante. Ao redor da outra mesa, três cadeiras: a do periciado, a do perito, que fazia as perguntas, e ao computador outra pessoa que me pareceu técnico escrevente; tudo muito próximo. Ameaçador. Não sei se por estar fragilizado pela doença, em mim o inquérito que se seguiu, comandado de modo agressivo, em tom autoritário e arrogante, pelo senhor sizudo, teve efeito mais avassalador do que a notícia de me saber portador de um câncer.
Tudo eram desconfianças. Eu havia preparado um relato historiando desde a supeita da doença até a cirurgia, com cópias dos Exames Anátomo Patológico, Biópsia de linfonodo cervical, que detectou o câncer, e o Resumo Clínico: Carcinoma papilifero de Tireóide que confirma a retirada da tireóide, do tumor e o esvaziamento cervical. Para além disso tenho, uma cicatriz recente de 10 cm no pescoço. O senhor inquisidor de tudo duvidava. Tentava me confundir com perguntas capciosas. Ele estava à espreita!
Dei respostas firmes. O senhor de ar até então distante fez o papel de moderador, e o senhor inquisidor diminuiu o tom agressivo. No entanto, o estrago emocial que ele podia me causar já estava feito. Pela primeira vez em minha vida fui exposto a uma situação que creio pode ser chamada de assédio (i)moral. Eu me sentia acuado e sob suspeição.
Ao final do interrogatório, ambos (o senhor distante e o meu algoz) do alto dos poderes que eles julgam que seus cargos de funcionários públicos lhes facultam, proferiram a sentença: vamos dar a ele 120 dias.
Que generosos! Não é mais a lei que nos ampara. Tampouco a necessidade e as limitações físicas que importam. O atestado emitido pelo médico que me assiste sequer foi lido, quanto mais considerado. Também se permitiram decidir sobre o tempo de meu tratamento sem ao menos ler um único exame. Parece-me que não há nessa atitude respeito pelo paciente e sequer ética médica.
Concluí que a violência de ser tratado como alguém passível de inventar estar com câncer, pode ser chamada no mínimo de imperícia médica. Como resultado de ser exposto a atendimento médico tão indígno e desrespeitoso, ao chegar em casa tive febre, dores de cabeça, vomitei e, pela primeira vez, desde que recebi a notícia e iniciei o tratamento contra o câncer fiquei prostrado e deprimido.
Venho de público fazer esta denúncia por que vou lutar contra estes dois tipos de câncer: o Carcinoma papilifero de tireóide e o tipo de tratamento que me foi dispensado naquela breve sessão de tortura chamada de perícia médica. E vou vencer. Eu juro.
Como carta aberta, espero que esta denúncia seja absorvida pelo Ministério Público Federal e pelo Conselho Regional de Medicina, secção Mato Grosso e pela representação estadual do Ministério da Previdência Social. De tais instituições anseio ser ouvido e obter respostas. Alguém há de responder e de ser responsabilizado pelos atos que ocorrem com frequência no CABES.
Apesar do que relatei, por conduta ética e respeito, não divulgo de público os nomes dos três profissionais médicos que assinaram o documento "Laudo Médico Pericial". Mas, coloco-me à disposição das intituições acima nomeadas para fazê-lo.
Magnífica Reitora, mui respeitosamente, venho de público pedir que, ao responder, também de público, a minha carta, informe, as providências que serão tomadas. Como sujestão, providenciar endereço eletrônico específico para que aqueles membros desta UFMT que por ventura queiram oferecer denúncia sobre a prestação do mesmo serviço. Assim, teriam resguardas suas identidades, caso dependam do CABES em algum pleito.
Vou cobrar de Vossa Magnificência e solicitar aos nossos diretores sindicais que acompanhem o que acontece naquele CABES. Conclamo a todos que denunciem.
Afinal, o lugar de vítima não é o meu e com certeza não pode ser o de ninguém. Você que, como eu, foi aviltado, unamo-nos contra essa gente sem preparo humano para tratar com pessoas já fragilizadas, e que só querem fazer valer seus direitos. Sermos tratados com respeito e dignidade é parte fundamental da nossa cura.

Atenciosamente,
Professor João Antonio Botelho Lucidio
Departemento de História/UFMT

2 comentários:

  1. Uma vez eleita, a CHAPA 1 irá imediatamente interceder pelos direitos e danos morais sofriodos por nosso colega.

    Um dos membros da Diretoria vai acompanhar o caso diariamente.

    Força João Antonio

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  2. Infelizmente, somente neste momento tomei conhecimento dessa carta. Mas no mesmo período enfrentei problemas com essas mesmas pessoas. Elas se julgam "deuses" por terem um diploma de medicina. O pior é saber que a maioria dos colegas de profissão deles e que atuam na CABES, são conivente com isso. Passei os anos de 2010, 2011, 2012 e grande parte de 2013, travando uma briga árdua com meus algozes. Pois eles do alto das suas prepotências, sem observar nenhum documento, decretaram que eu passaria os próximos anos em uma batalha que parecia infinita contra as suas arrogâncias. Tudo o que eu relatei, estava devidamente documentado, ao contrário deles que só falavam e não colocavam nada em nenhum documentos, nem mesmo a assinatura desse senhor sizudo, que era quem conduzia a maioria das minhas pericias medicas.

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