Não...
O título deste artigo não é uma referência à participação da Seleção Brasileira
nas oitavas de final da Copa do Mundo num jogo contra o Chile, que pode
esconder uma desagradável surpresa para todos nós. O que não se pode esquecer é
que num dia 28 de abril, há exatos cem anos, começou o que viria ser chamada de
Primeira Grande Guerra Mundial, que matou alguns milhões de pessoas e que teve,
nas entrelinhas, várias razões inconfessáveis para que ela estourasse.
O
motivo oficial (sempre há um prá tudo) foi o assassinato do herdeiro do trono
da Áustria, o Arquiduque Francisco Ferdinando, em Saravejo, capital da Bósnia.
O assassino era ligado ao grupo Mão Negra, da Sérvia, e por isso a Áustria
declarou guerra à Sérvia. A Rússia ficou do lado da Sérvia e o resultado foi a
declaração de guerra pela Alemanha contra a Rússia. E aí houve um efeito
dominó.
O
verdadeiro motivo, entretanto, foi outro. Nos anos anteriores, especialmente a
partir de 1870, o mundo vivia uma euforia que ficou conhecida como Belle
Époque, com um grande avanço no campo econômico e tecnológico. E os países
ricos tinham certeza que se imporiam aos países pobres. Em outras palavras,
havia no ar um desejo de imperialismo tomando conta do campo político. E havia.também,
um claro sentimento que uma guerra seria inevitável para que as pretensões dos
países ricos fossem alcançadas. Por isso França e Inglaterra assinaram um
acordo que ficou conhecido como Entente Cordiale (Entendimento Cordial) com um
protegendo o outro em caso de agressão. A Rússia aderiu e o acordo passou a ser
chamado de Tríplice Entente. Do outro lado estava a Tríplice Aliança, formada por
Alemanha, Itália (que demoraram muito a se unificar, a Alemanha no final do Séc.
XIX e a Itália no inicio do Séc. XX) e Império Austro Húngaro.
África
e a Ásia haviam sido divididas por França e Inglaterra que viam nos dois
continentes importantes pontos para se produzir ou simplesmente recolher as
matérias primas que suas indústrias necessitavam.
Aí
surgiu uma clara Torre de Babel. A Alemanha, invadiu a África do Sul, que
pertencia ao Império Britânico. Como conseqüência, a Nova Zelândia invadiu
Samoa que era apoiada pela Alemanha. O Japão, que nesta Guerra apoiava a
Inglaterra, atacou portos chineses que abasteciam a Alemanha de carvão.
Resultado: em pouco tempo todos os postos alemães no Pacífico estavam sob
controle da Tríplice Entente.
A
Primeira Guerra ficou conhecida também pela tecnologia de morte que criou. Foi
nela que surgiram os tanques de guerra (1916, inventado pelos britânicos), gás
venenoso usado pela primeira vez pelos alemães em 1915 na invasão da Bélgica.
Os submarinos também foram utilizados como arma e guerra pela primeira vez
pelos alemães, em 1915. No ano anterior, os aviões já estavam sendo utilizados
para matar.
Os
equipamentos de proteção eram pouco eficazes e isso levou a um avanço da
medicina especialmente no que diz respeito a enxertos porque os soldados
voltavam para casa mutilados. Com os homens na linha de frente, as mulheres
foram para o mercado de trabalho, como motoristas, entregadoras de carvão ou
operárias em fábricas, especialmente as de munição.
Os
Estados Unidos somente entraram na guerra em 1917 e foram fundamentais para o
final do conflito. O que levou os americanos a entrarem foi a saída da Rússia. O motivo foi a vitoria dos Bolcheviques na
Revolução Russa, que derrubou o regime dos Czares. E como os EUA tinham acordos
milionários especialmente com Inglaterra e França, não havia outra saída. Aos
poucos, os aliados dos alemães foram abandonando a guerra deixando o país
sozinho e envolvido por uma série de conflitos internos. No dia 9 de novembro de
1918 o Imperador alemão Guilherme II foi derrubado e substituído por um governo
provisório que assinou o tratado de paz, acabando o conflito.
Sábado,
dia 28 terão se passado 100 anos do conflito que matou mais de 10 milhões de
pessoas, deixou milhões inúteis para sempre, destroçou centenas de milhares de
famílias, e com seus antecedentes com certeza mudou para pior o rumo que o
mundo poderia ter tomado.
Sábado
no Brasil, não vai se falar em outra coisa. Não sobre a guerra, mas sobre
Brasil X Chile pelas Oitavas de Final da Copa do Mundo. Sobre a Primeira Guerra
a mídia vai dedicar alguns segundos. Afinal, pra que dar ao brasileiro pão e
conhecimento na forma de uma análise profunda do conflito se o circo está aí
para ele se divertir à vontade?