terça-feira, 27 de setembro de 2011

MORRE UM POUCO DO JORNALISMO APAIXONADO

Maurelio Menezes

Quem é meu aluno no curso de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso certamente já ouviu esta história. Ela faz parte do meu Planejamento de Curso porque, para mim, representa um jornalismo que, infelizmente, a cada dia está mais esquecido.
Mauro Costa, então repórter de policia do Correio da Manhã do Rio de Janeiro desceu logo de manhã para comprar pão na padaria que ficava ao lado do predio onde morava, em Niterói. Na padaria ficou sabendo de um crime envolvendo o filho do prefeito de São Pedro Da Aldeia, cidadezinha que fica na Região dos Lagos. Ali mesmo começou a dar telefonemas para suas fontes depois de pedir ao jornal que lhe enviasse um fotógrafo e um carro. Quando os dois chegaram sairam direto para o local do crime, Mauro, inclusive usando camiseta regata e com várias anotações feitas no papel de embrulhar pão. No dia em que nos contou essa passagem da vida do Mauro, Dona Neusa, sua esposa, nos disse "O pão e o leite estou esperando até hoje, mas a notícia estava na primeira página do Correio no dia seguinte".
Mauro faz parte de minha história como jornalista. Minha e de tantos outros profissionais da melhor qualidade. Com ele nos dirigindo participamos das principais coberturas jornalisticas do periodo áureo da Rede Manchete. Sob a direção dele assumi algumas vezes a Editoria Nacional do Jornal da Manchete (quando o Paulinho da Luz ia para o exterior coordenar coberturas internacionais como Olimpiadas e Copa do Mundo). Todas as grades coberturas da Rede Manchete transpiravam a paixão do Mauro. Aliás, ele era tão apaixonado que algumas pessoas brincavam que o "M" gigante que existia em cima do predio da sede da emissora era de Mauro de não de Manchete.
Foi ele quem me levou para a o SBT (juntamente com a Márcia Marsillac e com o Paulinho da Luz) onde fui fazer parte da equipe que criou o "Aqui e Agora", cujo projeto concebido e parido pelo Amaury Soares nada tinha a ver com o programa que foi para o ar e que somente se tornaria realidade quando alguns anos depois, já na Globo, Amaury colocou no ar o SP Já embrião do tipo de jornalismo que a Globo passou a fazer no seu Praça Primeira Edição.
Mauro foi Chefe de Reportagem na Rede Globo nos tempos de Armando Nogueira, Alice Maria, Luiz Edgar de Andrade (o melhor texto da história do telejornalismo e que ele levaria para a Manchete anos depois), Edson Ribeiro e outros profissionais sem os quais o jornalismo da Globo jamais alcançaria o nível de hoje.
Quando saiu da Globo, Mauro voltou para o jornalismo impresso. E mudou o jornal O Fluminense, que havia sido o principal jornal do antigo estado do Rio e que perdera muito espaço com a fusão do estado com a Guanabara. Mauro fez dele o terceiro jornal do novo estado. Foi ele quem abriu as portas do jornal para Cidinha Campos,apresentadora do principal programa do radio carioca de então, de cuja coluna fui redator por oito anos (depois eu passaria a assinar a coluna e a fazer reportagens especiais para o jornal).
O Mauro Costa que morreu hoje tinha faro pela notícia. Isso até parece lugar comum. Mas não há nada que o defina melhor, acredito. Não deixou um herdeiro no jornaismo (o Maurinho, seu filho, é musico) mas sem dúvida deixou muitas lições de como fazer jornalismo de forma apaixonada, honrada, ética, profissional. Muitos a aproveitaram a aproveitam ainda hoje.
Como registrou no Facebook há pouco uma de suas mais completas criações, a editora do Jornal Nacional Angela Garambone,depois de escrever sobre a importancia dele em sua vida profissional, "Vamos rezar pra que ele fique bem e em paz!"
Que assim seja. Sempre.

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