quinta-feira, 11 de abril de 2013

ÁLCOOL, A DROGA QUE PRECISA SER COMBATIDA

Maurelio Menezes

Entra governo e sai governo e não se toma uma posição clara contra essa  que é a pior droga que existe, a porta de entrada para todas as outras. Os estragos que o álcool faz na familia, e na vida de todos são conhecidos, mas não se toma uma providencia por um motivo simples: a indústria de bebidas é uma grande contribuinte do poder publico, não apenas em impostos, mas como doadora para Caixa 2 de campanhas politicas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde -OMS-, a bebida é mortal para os adolescentes,  além de ser a principal causa de morte em homens entre 15 e 59 anos: 320 mil pessoas entre 15 e 29 anos morrem ao redor do mundo por ano  em consequencia do consumo do álcool. Mais ainda, se considerarmos todas as faixas de idade, de acordo com a OMS, sobe para  2,5 milhões o número de mortes,  número maior que as mortes causadas pela AIDS, tuberculose ou violência física.
Quer outro dado alarmante:  Há 9 anos  o Álcool, conforme dados divulgados pela ONU, é considerado o principal causador de 60 tipos de doenças, como cirrose, epilepsia, diferentes tipos de câncer -como o colorretal, mama, laringe e fígado, e ferimentos, provocados em casa, no trabalho e em acidentes de trânsito.
Só no Estado de São Paulo, o mais populoso do país, a cada 20 minutos uma pessoa é internada por problemas decorrentes do uso do álcool. O custo para os cofres públicos é inestimavel e somente vai diminuir quando houver uma política eficiente de combate a essa droga. Mas, infelizmente, andamos na contramão dessa idéia.  No Brasil, especialmente  no primeiro governo Lula o investimento no combate ao alcolismo diminiu radicalmente. De acordo com pesquisa do economista Daniel Cerqueira, da Fundação Getulio Vargas, do Rio, em 2007,inicio do segundo governo Lula,  o investimento do Governo Federal no combate ao alcoolismo caiu de 413 milhões de reais no final do governo FHC, para 223 milhões. O mais grave é que nesse periodo, pesquisa da UNIFESP revelou que o alcoolismo era o principal problema de saude publica do Brasil, que tinha mais de 10 por cento de suas mortes ligadas a problemas de consumo de alcool.
Enquanto o poder público não toca nessa ferida, para não perder o faturamento (oficial e extra oficial) gerações e mais gerações vão sendo destruidas. Afinal, o uso de alcool por menores de 18 anos  tem entre suas consequencias, a demencia. E, em todas as idades, o consumo excessivo também afeta diretamente o cérebro e leva a mal-estar físico e psíquico, perda do controle, comportamento antissocial, enjoo, vômitos, tontura, ressaca, dor de cabeça e depressão.
Hoje na Folha de S.Paulo, há um depoimento impressionante de uma alcoolatra, dona de casa, Sueli, que hoje tem 46 anos (o jornal se refere a ela como ex-alcoolotra,  o que, de acordo com integrantes do Alcoolicos Anonimos não existe). O depoimento segue abaixo, mas se voce preferir, pode acessar o texto aqui.

 
Foto: Eduardo Knapp/Folhapress
"Fui abandonada pela minha mãe aos seis anos de idade e passei a ser criada pela minha avó. Era uma família que não gerava amor, carinho. Gerava álcool. Meus avós, minha mãe e meu irmão, todos eram alcoólatras, e minha irmã morreu de overdose. Todos já se foram.
Comecei a beber cedo, com 15, 16 anos, por embalo. Ia para os bailinhos nos fins de semana, mas era tímida, tinha vergonha de namorar, de dançar. Aí descobri que depois de algumas cervejas me tornava poderosa. Dançava, namorava, xingava. Aos poucos, comecei a beber também às quintas e às sextasAos 21 anos, engravidei na balada. Foi o meu apagamento. Não lembro de nada. Não sei quem é o pai da minha filha. Mesmo grávida, continuei bebendo e frequentando balada. Tive minha filha. O normal de uma mãe é cuidar de uma filha recém-nascida. Mas comigo isso não aconteceu. Eu largava minha filha com minha avó alcoólatra e voltava para a vida do álcool e das baladas.
Quando minha filha tinha nove meses, resolvi morar com um homem que mal conhecia em São Paulo. Tive sorte, foi um homem que me acolheu, que falou: 'Pare de trabalhar e cuide da sua filha'. Era tudo o que eu queria: alguém para nos sustentar. Mas em vez de cuidar da minha filha, passei a beber mais e mais. Só que em casa. Eram os meus vizinhos quem cuidavam da minha filha.
Depois começaram as brigas, físicas e verbais. Ele chegava em casa do trabalho e queria a esposa. Encontrava uma bêbada. Quatro anos depois, nasceu a minha segunda filha. Também a gerei no álcool.
A partir daí, o descontrole foi total. Era minha filha maior que cuidava da caçula, de mim e da casa. Eu só me lembrava das coisas até o momento que deixava a menor na escolinha, às 10h. Depois, passava na quitanda, comprava bebida [no começo era cerveja, depois passou a ser pinga com açúcar], começava a beber em casa e apagava tudo.
Não me lembrava de buscar minha filha na escola e, às vezes, estava tão bêbada que a tia não deixava que eu a levasse. Comecei a perceber hematomas nas minhas filhas, mas não lembrava que tinha batido nelas no dia anterior.
Um dia, pedi para a menor, que na época devia ter uns cinco anos, comprar uma garrafa de vinho no meio da chuva. Na volta, ela deixou a garrafa cair e pagou caro por isso. Eu dei um coro tão grande que ela ficou dois dias de cama [começa a chorar compulsivamente]. No dia seguinte, eu não lembrava de nada. E ela dizia: 'A senhora me espancou. Eu odeio a senhora, não tenho mãe'. Até hoje ela não me perdoa. Já a maior conseguiu entender que tudo o que eu fiz foi por causa de uma doença chamada alcoolismo, não foi por maldade.
No dia 13 de janeiro de 1998, decidi dar um novo rumo na minha vida. Meu marido chegou em casa e disse que queria se separar. Eu estava bêbada fazendo o bolo do aniversário de 11 anos da minha filha mais velha.
Naquela noite, passei praticamente no banheiro, vomitando. Uma hora, me ajoelhei no chão e pedi: 'Deus, me ajuda porque sozinha eu não consigo'. Veio então o AA [Alcoólicos Anônimos] na minha cabeça.
Liguei para o telefone de plantão e o atendente me indicou uma sala do AA. No dia seguinte, ingressei na irmandade.
A partir daí, comecei a ser mãe de fato. Depois disso, tive mais dois dois filhos, que hoje têm 14 e 11 anos. Eles dizem: 'Mamãe, eu te amo'. Das minhas filhas mais velhas, eu nunca ouvi isso.
Faz 15 anos que nunca mais coloquei uma gota de álcool na boca. Só por hoje."

Nenhum comentário:

Postar um comentário