quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

HIGIENIZAÇAO... VOCÊ ALGUM DIA CONCORDOU COM ISSO?

Maurelio Menezes


Hoje na Folha do Estado, nosso papo é sobre higienização, o movimento que o poder hegemônico faz para se ivrar daqueles que possam prejudicar seus interesses ou se interpor em seu caminho. O assunto é polêmico, e não é novo. E está presente aqui, ali e acolá.

HIGIENIZAÇÃO, UMA VERGONHA A CAMINHO!

Maranhão. Matança atrás de matança, presos degolados, fuzilados, presídios superlotados. A situação em Pedrinhas lembra uma das cenas iniciais do filme “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”, na qual o personagem de Seo Jorge, no presídio Bangu Um do Rio de Janeiro, faz um acerto de contas com uma facção rival. Sangue jorrando por todos os cantos.

Campinas. Ônibus incendiados. Doze pessoas assassinadas. As primeiras investigações dão conta que há participação da Polícia na chacina. Seria uma vingança pela morte de um policial que reagiu a um assalto no domingo.

São Paulo. Um dos principais shoppings da cidade decide, mesmo desrespeitando a Constituição Federal, decide proibir a entrada de adolescentes desacompanhados e aciona a polícia para impedir os famosos “rolezinhos”. Mas nem todos os jovens são impedidos, de acordo com adolescentes que organizam o rolezinho, ou seja, depende da cor da pele, da aparência, da roupa que usam.

O sociólogo Rudá Ricci vê no rolezinho um movimento social nascente, uma espécie de “Ocuppy da periferia”. Para ele é crueldade compará-los com arrastões. Ativistas de Direitos Humanos e de outros Movimentos Sociais transformaram o rolezinho numa causa. E ninguém deve ficar assustado se nas próximas manifestações de rua haja palavras de ordem a favor do rolezinho.

Cuiabá. Aqui não há, pelo menos que se saiba, envolvimento da policia. A Prefeitura Municipal está começando a desenvolver um programa social que tem o objetivo oficial de dar uma nova oportunidade aos moradores em situação de rua. Numa entrevista ao “Bom Dia Mato Grosso”, dia desses, uma servidora envolvida no programa, afirmou que o grande problema é que alguns desses indivíduos não querem voltar para casa.

Ao se ouvir uma afirmação assim não tem como se fugir de algumas perguntas: qual o motivo de somente 13 meses após a posse a administração municipal estar dando inicio a esse programa? Será que o programa tem relação com o fato de estarmos a cinco meses da Copa quando turistas de pelo menos oito países virão para cá? Será que os Movimentos Sociais que trabalham com essas pessoas foram ouvidos? Ou os Grupos de Pesquisa da UFMT que igualmente têm dezenas de pesquisa sobre o assunto foram ouvidos? Estes grupos, um deles coordenado pelo Professor Doutor Luis Augusto Passos, com certeza têm respostas, inclusive o porque de muitas pessoas em situação de rua não desejarem voltar para casa.

Quando houve a primeira visita de um Papa ao Brasil, os caminhos por onde ele iria passar foram devidamente higienizados pela administração pública. Até um mega outdoor para esconder uma favela em Copacabana foi colocado. E a favela escolhida para sua visita, o Vidigal era urbanizada e ficava (como ainda fica) na frente de um dos principais hotéis da Cidade Maravilhosa, o Sheraton.

No filme “Para sempre Cinderela” a personagem de Drew Barrymore (Danielle de Barbarac), numa das cenas, fazendo se passar por uma baronesa, intercede por um preso e diz para o Príncipe algo como “O que está acontecendo aqui é uma injustiça. Vocês os educam para a pobreza, para a corrupção e quando crescem e roubam uma galinha, vocês o prendem, o julgam de acordo com seus interesses, os condenam e os matam ou os mandam para as Américas”.

Apenas para constar, a história contada no filme teria inspirado o conto de fadas “Cinderela”, Essa versão tem uma narradora, a suposta tataraneta de Danielle, a rainha da França que, desgostosa com a forma como fora contada a vida da “Gata Borralheira”, chama os irmãos Grimm ao Palácio e conta a eles o que realmente acontecera na França do Século XVI.

Ficção ou não, há ai uma verdade: há séculos utiliza-se, de uma forma ou outra, artifícios para a higienização, ou gentrificação, da sociedade. O que se faz hoje não tem muita diferença do que fez Hitler que, ao eliminar judeus, usava o argumento de purificar a sociedade.  E a quem interessa isso? Ou ainda, porque se insiste nisso?

 

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