Os números não oficiais que havia recebido sobre a consulta para escolha do novo reitor da Universidade Federal de Mato Grosso -UFMT- não estavam muito longe dos oficiais. Lamentavelmente. Eles são, como eu previra, alarmantes e temos, todos, que pararmos um pouco para um exercicio de reflexão sobre o que eles significam. Quando se fala em Universidade hoje a primeira imagem que vem à mente é a de um centro produtor de conhecimento, difusor de cidadania, formador de posicionamentos que possam levar nosso país ser pelo menos um pouco menos injusto que o é hoje.
Quando António Gramsci pensou em transformação da sociedade foi muito claro ao defender a idéia que a transformação permanente somente aconteceria quando houvesse uma elevação cultural das massas. Quando ele se referia a isso não pretendia, com certeza, dizer que era necessário que todos se tornassem cultos, no sentido que o senso comum dá a esse vocábulo. Gramsci pensava em termos de conscientização e da formação de um espirito crítico que levasse a todos (e para ele todos são intelectuais) a definir os caminhos a serem seguidos para se viver numa sociedade menos injusta, mais igualitária. . Com os números da Consulta na UFMT, fica dificil acreditar que um dia isso será realidade, pois afinal, o centro que deveria ser irradiador de um espirito assim mostra-se absolutamente alheio e como afirma o senso comum, "esta se lixando para o que vier por aí".
As informações que tinha é que os três candidatos haviam disputado pouco mais de 8 mil votos num universo de mais de 26 mil. Eles disputaram um pouco mais que isso.
Resumidamente, o quadro final é o que segue:
COLÉGIO ELEITORAL (professores, alunos e técnicos) 26.712 eleitores
ALUNOS VOTANTES ................................................... 7.221
PROFESSORES VOTANTES ....................................... 1.421
TÉCNICOS VOTANTES................................................ 1.432
BRANCOS ....................................................................... 70
NULOS ............................................................................. 201
ABSTENÇÃO .................................................................. 16.367 eleitores
Traduzindo esse resumo, temos que, ao juntarmos a abstenção com os brancos e nulos, teremos um total de 16.664 leitores que simplesmente ficaram alheios ao processo eleitoral que definiu quem vai dirigir uma Instituição que tem um orçamento de 500 milhões de reais e deveria ter uma importância fundamental na vida do Estado. Esse número corresponde a exatos 62,38947 por cento do Colegio Eleitoral. Como há pessoas que não compareceram por motivos justificáveis e aceitáveis como viagem, saúde e coisas do gênero, vamos arredondar para menos: a abstenção chegou ao absurdo de 62 por cento do total.
De quem é a culpa? Dos três candidatos que não conseguiram despertar nos eleitores o interesse pela eleição? Do pouquissimo tempo que se teve para a campanha, o que sempre beneficia um grupo em detrimento de outros? Das sucessivas administrações superiores que ainda vivem o espirito do regime militar e governam há décadas a universidade como se ela fosse um feudo próprio onde se faz, sem ouvir ninguem, o que quiser para atender a interesses que acha correto defender? Do desprezo a que vem sendo submetidos professores, técnicos e alunos ao longo de anos, décadas até? Do governo federal (não apenas do atual), que prioriza a quantidade em detrimento da qualidade e que que, ao pagar salários miseráveis e não dar condiçoes de trabalho e aprendizado a professores, técnicos e alunos, fez com que a universidade se transformasse apenas num burocrático pontinho sem importância na vida de cada um? Ou será de todos nós que não estamos fazendo a nossa parte na construção de um centro formador de cidadãos? Aliás, será que esta é a hora de se procurar culpados ou de se tomar uma providência concreta para que essa realidade se transforme de uma vez por todas?
E quem ganha com isso? O grupo que se reelegeu porque se a abstenção fosse menor poderia ter que disputar um segundo turno e ai a história poderia ser diferente? Os grupos que perderam porque ao não convencer os eleitores que valeria à pena comparacerem perderam a oportunidade de implantar um novo pensamento de gestão na UFMT? Ou será que ganham aqueles que querem destruir cada vez mais a universidade publica, cuja qualidade é a cada dia mais questionada (o curso de Direito, por exemplo, que sempre foi de excelencia, pelo segundo ano consecutivo não consegue o Selo de Qualidade da OAB)?
A atual reitora, reeleita, apresentou na campanha e após ela, sua plataforma. Deveria rasgá-la (como deveriam também os outros candidatos, caso tivessem sido eleitos) e dirigir todas suas energias e de sua equipe no sentido de resgatar a alma da UFMT, uma alma que está hoje no limbo, implorando por socorro. Socorro que, os numeros da eleição (ainda uma vez, eles) mostram que somente será efetivo com uma ação que não foi privilegiada nos últimos anos (e até décadas): fazer de quem realmente é a UFMT (alunos, técnicos e professores) seres humanos que se sintam cuidados e não espoliados.
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