Na semana passada durante um encontro com ativostas de movoimentos sociais Leonardo Boff se abriu de forma muito interessante. Mostrou que não gosta de reduzir o debate à politica, pois é preciso muito mais que isso para a transformação da sociedade... Foi um papo muito interessante e depois ele se colocou à disposição para responder a perguntas. Não foi poupado e ai mostrou mais uma vez porque é uma das grandes cabeças desse país, e que vale a pena se lido e ouvido. Algumas das reflexões dele estão abaixo e na Folha do Estado desta sexta feira.... Confira aqui ou lá.
REFLEXÕES DE LEONARDO BOFF SOBRE O
BRASIL DE HOJE
Na semana passada Frei Leonardo Boff esteve dois dias em Cuiabá. No primeiro, fez uma palestra a convite de uma empresa e no segundo fez o que mais lhe interessava: se reuniu com ativistas dos mais diversos Movimentos Sociais. Falou durante cerca de 40 minutos e depois abriu para perguntas em que respondeu a questionamentos sobre política, economia, copa do mundo e educação.
Sobre política fez criticas a seu
amigo, Lula, “de quem privo, além, da amizade, os bastidores de sua vida” , que
era a esperança de mudança dos rumos da nação, mas antes mesmo de ser eleito
com a “malfadada Carta aos Brasileiros” rendeu-se ao neo liberalismo e acabou
fazendo o que seus antecessores fizeram: acordo com o que há de pior na
política brasileira. Citou especificamente a visita de Lula e Haddad à mansão
de Maluf com quem fez um toma lá dá cá, "para ganhar um minuto e meioa a mais na televisão". De acordo com ele, Lula disse “Nem me
fale foi a maior cag.... da minha vida”. Disse também que se Marina sair
candidata e se conseguir se eleger vai matar a causa ecológica... Sobre a Copa
disse que não há mais o que se fazer, pois ela está ai. O que é preciso é se
fiscalizar e exigir que ela deixe de fato um legado para a sociedade. Para
Leonardo Boff, os governos Lula e Dilma são governos de transição para chegarmos
ao governo do bem estar social que todos (ou pelo menos a maioria) almejamos.
Fez uma critica também a Chavez sobre
quem disse que o único mérito que ele teve foi o de enfrentar o Império que
compra da Venezuela 25 por cento do petróleo que importa, o que significa que
também à Venezuela não interessa um rompimento total pelos milhões de dólares
que deixaria de receber.
Num determinado ponto da fala dele,
citou Paulo Freire, para quem “a escola não tem capacidade de mudar o mundo,
mas tem condições de mudar o homem, que transformará o mundo”. Paulo Freire
talvez tenha sido o grande pedagogo da história do Brasil, mas sua Pedagogia
Critica nunca foi usada como deveria nas escolas, tanto que ao morrer, em 1997,
havia mais livros dele publicados no exterior que no Brasil. O pensamento de
Freire sobre educação, foi construído particularmente a partir do pensamento de Gramsci,
que também dava à escola um papel fundamental na transformação da sociedade,
via transformação do homem.
Aproveitei o assunto abordado aqui na
semana passada e perguntei a Leonardo Boff como transformar o homem se o
governo, comprometido com o neo liberalismo, determina a política didático
pedagógica e, portanto, nossa escola é planejada para manter as coisas como
estão, ou seja, sem proporcionar a ninguém
a possibilidade de transformação de nada. Para ele, nossas
universidades, a começar pelas Pontifícias Universidades Católicas, são
chocadeiras do sistema. Nossos jovens saem da universidade prontos para atender
ao mercado. É assim há 500 anos, embora a primeira universidade brasileira,
USP, só tenha sido criada na década de 30 do século passado.
Leonard Boff acredita que essas
mudanças são difíceis e precisam de tempo. De acordo com ele, se se fez menos
do que se esperava, não há como negar que se fez o que era possível. Ele
lembrou que o governo que está hoje no poder nasceu de um movimento social que
depois se articulou como movimento político e conquistou a vitória. Assim, a
articulação dos movimentos sociais é fundamental para criar no cidadão o
espírito critico que ele precisa ter para a transformação duradoura que
queremos. As manifestações de maio e junho deixaram claro que a população está
cansada de uma política de negociatas, de toma lá dá cá. O que a sociedade
quer, hoje, são serviços que funcionem, é uma educação que tenha a qualidade
mínima, o que não existe hoje, é uma saúde para todos.
Pode-se não concordar com muito do que
ele disse nesse encontro com ativistas dos movimentos sociais. Mas não há como
negar. Aí estão pontos que obrigatoriamente têm que ser levados em consideração
como reflexão sobre os caminhos que precisamos trilhar para fazermos de nossa
sociedade pelo menos uma sociedade menos injusta.
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