sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O PAPO HOJE NA FOLHA DO ESTADO É SOBRE O MENSALÃO

Maurelio Menezes

O artigo assinado por mim e publicado hoje na Folha do Estado de Mato Grosso,  tem como centro o julgamento do mensalão, as reações apaixaonadas de ambos os lados e sua relação com os Movimentos Sociais, visto por alguns analistas internacionais...



E POR FALAR EM MENSALÃO...


Não existe nada mais velho no Brasil que esse termo, “mensalão” que, salvo raríssimas exceções, é distribuído nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas, na Câmara Federal e no Senado. Mas é engraçado que o corretor do Word não o reconhece, como se ele não existisse nem no vocabulário nem na prática.  

Durante os protestos de maio e junho no Brasil, havia muitos gritos nas ruas. Analistas internacionais foram unanimes à época: os protestos não eram contra este ou aquele partido, contra este ou aquele governo. Não eram nem mesmo contra o capitalismo, embora em muitos cartazes se liam palavras de ordem contra ele. Os protestos eram contra o sistema, como ele está funcionando. E estava (e continua) funcionando mal, muito mal.

No Brasil as análises vieram acompanhadas das paixões políticas partidárias que sempre atrapalham a lucidez do pensar. E agora não está sendo diferente. Quando Lula nomeou Joaquim Barbosa como Ministro do Supremo Tribunal Federal quis, de acordo com alguns analistas, fazer marketing: seria o primeiro Presidente da República a nomear um Ministro negro para a mais alta corte jurídica do país. Agora as mesmas pessoas que enalteceram o fato e afirmaram coisa do tipo “só mesmo um Presidente que veio do povo faria isso” estão tentando crucificar o Ministro que, de eleitor de Lula, acabou se transformando em seu algoz. E nas mídias sociais não raro as agressões a ele são racistas, extremamente violentas e de mau gosto.

Nas manifestações brasileiras um dos gritos das ruas era exatamente a prisão dos mensaleiros. Elas estão sendo realizadas agora, mas falta muita gente, como falta, também, a investigação do mensalão mineiro. Com o inicio do cumprimento das penas dos condenados por acusações pelas quais não têm mais direito a recurso, a voz das ruas finalmente está sendo ouvida? Há quem diga que não. Essa seria apenas mais uma forma de o governo ter a seu favor a implacabilidade no julgamento de quem foge às regras da ética, mesmo que tenha que se cortar na própria carne, para usar uma frase do senso comum.

Outros gritos ouvidos nas ruas estão sendo ouvidos, embora tardiamente. As votações secretas no Congresso vão acabar, mas apenas parcialmente. Há muita coisa a mudar. Paulo Gerbaudo, professor de sociologia do King`s College de Londres, se referindo as manifestações no Brasil, comentou que o protesto que começou com a questão da tarifa de ônibus, acabou se transformando num grande movimento contra a truculência policial, a ineficácia do estado, o autoritarismo, a falta de liberdades e, principalmente, a corrupção. Para ele, esses movimentos promovem uma mudança que é cultural. O próximo passo será saber se as organizações sociais e políticas terão condições de construir um trabalho que eleve às mudanças pedidas nas ruas: mudanças políticas, sociais e econômicas. Mas mudanças de fato.

Para o espanhol Manuel Castells, os movimentos de maio e junho deixaram claro que a maioria dos cidadãos não se sente representado pelas instituições tal como elas estão organizadas hoje. Por isso ele conclui que na era da informação os sujeitos realmente capazes de produzir a transformação da sociedade são os movimentos sociais.

Hoje muita gente brinca nas mídias sociais afirmando que o gigante acordou deu uma espreguiçada e voltou a dormir. Mas para que a tese de Castells se concretizasse seria necessário que os manifestantes rompessem com os códigos do poder dominante e criassem redes alternativas que tivessem por base uma identidade coletiva de resistência. Mas será que estamos preparados para isso? Ou nossas paixões partidárias continuarão a falar mais alto como parece estar acontecendo agora com a prisão dos mensaleiros?

P.S. Dia desses conversando com uma espécie de consultora para quem sempre leio meu texto antes de enviá-lo para a redação, ela comentou que eu estava entrando muito na política e fugindo um pouco da educação. Ai me lembrei mais uma vez de Gramsci, para quem educação e política se misturavam como se fossem uma única coisa, ou seja, para ele, para a política é educativa e a educação é politizante, no sentido mais amplo que se possa conceber política.

 

 

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