quarta-feira, 6 de novembro de 2013

NOSSO PAPO HOJE NA FOLHA DO ESTADO - MT É SOBRE EDUCAÇÃO E ESTADO

Maurelio Menezes


No artigo de hoje na Folha do Estado de MT, trato de um tema que vem sendo debatido ha décadas: o Estado e a Educação transformadora... Defendo a tese que ao Estado não interessa a formação de um cidadão crítico, não porque assim fica mais fácil manipulá-lo, mas porque ao governo nao interessa mudar o poder hegemonico. Assim, o planejamento escolar é feito para provocar mudanças que nçao mudam nada. Se você nçao o ler na Folha do Estado, pode fazê-lo aqui.


O PODER HEGEMÔNICO, UM ENTRAVE PARA UMA EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA

Todo mundo já ouviu, mais de uma vez, inclusive, que a escola tem o poder de transformar a realidade. Já ouviu, também, que ao governo, seja qual for ele, não interessa educar, pois é melhor manter a população como ela está, acrítica, porque assim fica mais fácil manipular o cidadão/eleitor. Esse é um debate bem mais antigo do que parece.

Moisey Pistrak foi um educador socialista que viveu na Rússia, posteriormente União Soviética, nação que nasceu após a revolução de 1917. Ele também defendeu essa ideia em seu principal livro, “Fundamentos da Escola do Trabalho”, lançado em 1924. Para ele o trabalho era o principal ponto de reflexão que vincularia a escola à comunidade. Aí estaria, portanto, o caminho para uma transformação social de fato, já que com essa vinculação seria possível ligar a vida do estudante ao processo de transformação social, o que levaria à construção de uma nova sociedade. Pistrak dirigiu o que seria o modelo da escola socialista, a Lepechinsky, que pretendia levar para o processo didático pedagógico os ideais, concepções e valores do processo revolucionário inicial da União Soviética.

Aí entramos num debate que parece não ter fim: o Estado e a Educação. Quando Pistrak produziu essa experiência, estava representando o Estado. Na ação dele não havia muita diferença com as ações desenvolvidas no Brasil e em outras partes do mundo. Afinal, a produção do conhecimento que possibilita a autodeterminação do povo sempre esteve restrita ao que se convencionou chamar de “elite dominante”.

Apesar do discurso presente em todos os governos, o Estado não age de forma neutra e sequer representa a vontade da sociedade. Ele é o planejador do sistema de ensino e, como tal, planeja para atender aos interesses do grupo que detém o poder hegemônico, ou seja, da mesma forma que age quando cria leis. Aliás, provavelmente daí tenha surgido a brincadeira segundo a qual a justiça é cega, mas é mais cega para uns que para outros.
 
Na época de Pistrak, e de Gramsci que foi seu contemporâneo, os Movimentos Sociais consistiam basicamente nos movimentos operários e partidários e que hoje como afirmou Ilse Scherer-Warren numa palestra aqui em Cuiabá em 2002 são estruturados como “uma rede que conecta sujeitos e organizações de movimentos,  contemplando diversidades culturais e identidades diversas, buscando o reconhecimento social na esfera pública”. Em outras palavras cabe a esses novos movimentos sociais buscarem a transformação que a sociedade exige e que é, sem sombra de dúvidas, a única forma de se criar algo novo em relação a essa mesmice que vimos tendo nos últimos doze governos. Provavelmente o último que tenha tentado fazer alguma coisa no sentido de dar uma formação diferenciada ao estudante tenha sido o de João Goulart, com a experiência da escola em tempo integral criada por Anizio Teixeira e que depois foi adaptada por Leonel Brizola no Rio, mas que acabou perdendo a razão de ser porque tinha mais o objetivo de propaganda política que de real interesse em estabelecer um tipo de educação transformadora. Todos os demais fizeram progressos, uns mais outros menos, mas não tocaram no essencial: a mudança do planejamento escolar que continua a ser estruturado de forma a promover mudanças que não mudam nada. Pelo contrário, mantém o poder hegemônico como ele foi construído há séculos.

As manifestações de maio e junho, que chamo de “Outono/Inverno Brasileiro” numa analogia com a Primavera Árabe, não deve e não pode se resumir ao que foi. Na terça feira, as manifestações voltaram. Convocadas pelo grupo Anonymous, houve protestos em três capitais brasileiras e em diversas partes do mundo como Europa, África, Ásia e Oriente Médio. A rede, que usa as mídias sociais para se comunicar, estabeleceu o cinco de novembro como sendo o Dia Mundial da Resistência e Rebelião Popular.

Coincidentemente, pelo que se tem notícia, o único país onde aconteceram manifestações em que houve confronto com a policia foi o Brasil, mais precisamente em São Paulo (aqui houve manifestações também em Porto Alegre e no Rio). Há poucos dias, numa reunião com o Ministro da Justiça, ficou combinado que as PMs de todos os Estados adotariam o mesmo modus operandi em caso de protestos. Pelo que parece, o combinado não durou uma semana. E ai fica mais uma vez a pergunta: a quem interessa a criminalização dos movimentos sociais? Ou ainda: quem tem medo dos Movimentos Sociais?

 

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