Já está na Folha Digital (http://www.folhadoestado.com.br/manutencao/) o artigo desta quinta no qual falo um paralelo entre as estratégias revolucionarias apresentadas por Antônio Gramsci, a Guerra de Posição e a Guerra de Movimento, e a atuação de Nelsona Mandela na luta que levou ao fim do absurdo regime do Apartheid na África do Sul...Voce pode analisa-lo na edição impressa desta quinta na Folha do Estado - MT ou aqui no Blog.
MANDELA, O HOMEM DAS DUAS GUERRAS GRAMSCIANAS...
Antonio
Gramsci definiu dois tipos diferentes de estratégias revolucionárias para se
chegar ao poder: a guerra de movimento e a guerra de posição. Traduzindo de uma
forma bem simples, a primeira é aquela em que o enfrentamento é necessário. E a
segunda é aquela em que vai se conquistando espaço, posições para futuramente
se conseguir mudar o poder hegemônico. Para Gramsci a guerra de movimento era
algo próprio de países do Oriente. Já no Ocidente a única possível seria a de
posição, ou seja, a conquista de espaços. Para o pensador italiano, quem faz a
revolução tem que analisar muito bem qual estratégia adotar, pois se não o
fizer, certamente estará fadado a perder.
Na
semana passada foi realizada na UFMT o Seminário Temático “Os Movimentos
Sociais em Diálogo com a Educação”. Na participação da representante do MST em
uma das mesas de debate, ficou claro que os Sem Terra, no Brasil, usam as duas
estratégias. Quando partem para o confronto com invasões, ou “trancam” rodovias
país afora estão numa guerra de movimento, muitas vezes condenada, como previra
Gramsci. Ela foi questionada se não era um contra senso, ao mesmo tempo que
agiam desta forma e tinham um modelo próprio de educação, no qual o militante
se torna sujeito social na luta, eles disputam vagas nas universidades
tradicionais. Lucinéia Freitas disse que não havia contra senso porque, ao
mesmo tempo em que o MST julga
necessário o confronto para atingir seus objetivos, sabe que é necessário se
conquistar espaços para, aos poucos, fazer sua defesa e até divulgar suas
ações. De acordo com ela, o que a mídia mostra em relação ao MST é sempre o que
eles classificam de negativo, como as invasões e as interrupções das estradas.
Mas nunca mostram o sistema de educação, as “cirandas” e outras ações que
também compreendem a luta do movimento.
Analisando
a vida e a luta de Mandela, pode-se concluir que também ele aplicou os dois
tipos de guerra identificados por Antônio Gramsci. Em 1952, quando Mandela já
era personagem central na historia da luta contra o Apartheid, criado
oficialmente três anos antes, ele deu Início a uma guerra de movimento sem
precedentes na história do país. Criou a “Campanha do Desafio” com um dia de
protesto em que os negros foram convocados a usarem os espaços reservados exclusivamente
aos brancos. No ano seguinte, em Sophiatown, fez um discurso forte em que afirmou
que “os tempos da resistência passiva haviam passado”.
Menos
de dez anos depois, já haviam criado o MK, braço armado do Congresso Nacional
Africano -CNA-. Foi a fase mais violenta da luta contra o regime do Apartheid.
No livro “Nelson Mandela, conversas que tive comigo”, lançado há três anos no
Brasil pela Editora Rocco, ele afirma que “Nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em
que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias,
abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas
condições.”
Depois de 27 anos de prisão,
periodo durante o qual se recusou diversas vezes a negociar com os
segregacionistas, Mandela tentava convencer o Presidente Botha a anunciar o fim
do Apartheid e afirmava que ele é quem deveria renunciar a violência. Quando
Bhota foi atingido por uma doença séria, Frederick de Clerk assumiu o poder e Mandela
viu nele as condições para uma negociação como haviam tentado décadas antes. Aí
ele retomou a guerra de posição que
acabaria com Apartheid e que devolveria a África do Sul aos sulafricanos de uma
vez por todas.
No domingo o corpo dele será
enterrado. Mas o que a mídia tem dito nos ultimos dias a seu respeito é apenas
parte da história. Há mais, muito mais, inclusive de negativo, mas um negativo
que não chega a manchar o que ele foi: a mais completa tradução da luta pela
liberdade do poder opressor.
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