quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

UM OLHAR SOBRE AS REVOLUÇÕES DE MANDELA

Maurelio Menezes

Já está na Folha Digital (http://www.folhadoestado.com.br/manutencao/) o artigo desta quinta no qual falo um paralelo entre as estratégias revolucionarias apresentadas por Antônio Gramsci, a Guerra de Posição e a Guerra de Movimento, e a atuação de Nelsona Mandela na luta que levou ao fim do absurdo regime do Apartheid na África do Sul...Voce pode analisa-lo na edição impressa desta quinta na Folha do Estado - MT ou aqui no Blog.


MANDELA, O HOMEM DAS DUAS GUERRAS GRAMSCIANAS...

 
Antonio Gramsci definiu dois tipos diferentes de estratégias revolucionárias para se chegar ao poder: a guerra de movimento e a guerra de posição. Traduzindo de uma forma bem simples, a primeira é aquela em que o enfrentamento é necessário. E a segunda é aquela em que vai se conquistando espaço, posições para futuramente se conseguir mudar o poder hegemônico. Para Gramsci a guerra de movimento era algo próprio de países do Oriente. Já no Ocidente a única possível seria a de posição, ou seja, a conquista de espaços. Para o pensador italiano, quem faz a revolução tem que analisar muito bem qual estratégia adotar, pois se não o fizer, certamente estará fadado a perder.

Na semana passada foi realizada na UFMT o Seminário Temático “Os Movimentos Sociais em Diálogo com a Educação”. Na participação da representante do MST em uma das mesas de debate, ficou claro que os Sem Terra, no Brasil, usam as duas estratégias. Quando partem para o confronto com invasões, ou “trancam” rodovias país afora estão numa guerra de movimento, muitas vezes condenada, como previra Gramsci. Ela foi questionada se não era um contra senso, ao mesmo tempo que agiam desta forma e tinham um modelo próprio de educação, no qual o militante se torna sujeito social na luta, eles disputam vagas nas universidades tradicionais. Lucinéia Freitas disse que não havia contra senso porque, ao mesmo tempo em que o MST  julga necessário o confronto para atingir seus objetivos, sabe que é necessário se conquistar espaços para, aos poucos, fazer sua defesa e até divulgar suas ações. De acordo com ela, o que a mídia mostra em relação ao MST é sempre o que eles classificam de negativo, como as invasões e as interrupções das estradas. Mas nunca mostram o sistema de educação, as “cirandas” e outras ações que também compreendem a luta do movimento.

Analisando a vida e a luta de Mandela, pode-se concluir que também ele aplicou os dois tipos de guerra identificados por Antônio Gramsci. Em 1952, quando Mandela já era personagem central na historia da luta contra o Apartheid, criado oficialmente três anos antes, ele deu Início a uma guerra de movimento sem precedentes na história do país. Criou a “Campanha do Desafio” com um dia de protesto em que os negros foram convocados a usarem os espaços reservados exclusivamente aos brancos. No ano seguinte, em Sophiatown, fez um discurso forte em que afirmou que “os tempos da resistência passiva haviam passado”.

Menos de dez anos depois, já haviam criado o MK, braço armado do Congresso Nacional Africano -CNA-. Foi a fase mais violenta da luta contra o regime do Apartheid. No livro “Nelson Mandela, conversas que tive comigo”, lançado há três anos no Brasil pela Editora Rocco, ele afirma que “Nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas condições.”

Depois de 27 anos de prisão, periodo durante o qual se recusou diversas vezes a negociar com os segregacionistas, Mandela tentava convencer o Presidente Botha a anunciar o fim do Apartheid e afirmava que ele é quem deveria renunciar a violência. Quando Bhota foi atingido por uma doença séria, Frederick de Clerk assumiu o poder e Mandela viu nele as condições para uma negociação como haviam tentado décadas antes. Aí ele retomou a  guerra de posição que acabaria com Apartheid e que devolveria a África do Sul aos sulafricanos de uma vez por todas.

No domingo o corpo dele será enterrado. Mas o que a mídia tem dito nos ultimos dias a seu respeito é apenas parte da história. Há mais, muito mais, inclusive de negativo, mas um negativo que não chega a manchar o que ele foi: a mais completa tradução da luta pela liberdade do poder opressor.

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