domingo, 1 de dezembro de 2013

PAGANDO UMA DÍVIDA: MEU ARTIGO NA FOLHA DO ESTADO DE QUINTA FEIRA PASSADA

Maurelio Menezes

Como viajei meio às pessas no final de semana, acabei não publicando aqui no Blog meu artigo veiculado na Folha do Estado de Mato Grosso. Desta vez o paapo foi sobre o olhar do pensador espanhol Manuel Castelles sobre os movimentos de rua no Brasil... Agora pago esta dívida:



O OLHAR DE MANUEL CASTELLS SOBRE O BRASIL DAS RUAS

 

Em maio, quando as manifestações de ruas começaram a ganhar corpo no Brasil, Manuel Castells, considerado o principal pensador da atualidade  sobre a sociedade em rede e os movimentos sociais que dela nascem, veio ao Brasil para preparar o lançamento de seu novo livro Network of Outrage and Hope, que traduzido no Brasil seria lançado na Bienal do Livro no Rio, no final de agosto, inicio de setembro pela Zahar Editores, com o  titulo  Redes de Indignação e Esperança – Os Movimentos Sociais na Era da Internet. No livro ele fazia uma análise de movimentos sociais recentes, como a Primavera Árabe, a revolta dos Indignados na Espanha e o Occupy nos Estados Unidos.

Nos vinte dias que passou aqui entre debates e entrevistas, as manifestações cresceram tanto que ele e os editores brasileiros decidiram acrescentar um Posfácio com analise dos protestos no Brasil e antecipar o lançamento do livro para julho, para que ele chegasse às livrarias ainda no calor do grito nas ruas.

Neste Posfácio Castells começa escrevendo “Aconteceu também no Brasil e sem que ninguém esperasse”, E termina afirmando que “Pois o que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens que tudo o que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados.”

Castells bate na tecla de que a alegria de o Brasil sediar mais uma vez uma Copa do Mundo transformou-se “num negócio mafioso de corrupção em grande escala da qual participam empresas de construção, federações nacionais e internacionais e administrações publicas de diversos níveis [...]”.

Para o sociólogo espanhol, que é professor em duas universidades americanas, o grito que ganhou as ruas saiu das entranhas de um país onde há anos adotou-se um modelo de vida que ignora as dimensões humanas e ecológicas do desenvolvimento. Esse modelo, de acordo com ele, que é “centrado no crescimento a qualquer custo”, não assume a nova cultura de dignidade e de vida que não seja baseada no consumo desenfreado.

Ele não passa ao largo da educação, também, e repete uma das lutas dos professores de instituições publicas de ensino superior ao realizarem a maior greve da historia, que parou as universidades por 127 dias: esse modelo não entende que a “escolarização sem uma verdadeira melhoria do ensino não é educação, mas armazenamento de crianças [...]”.

Para Castells, as manifestações que começaram na Tunísia e se estenderam por diversos países, derrubando governos ou fazendo com que eles se mexessem, é um mundo que a “gerontocracia dominante não entende, não conhece e que não lhe interessa [..]” mas que a apavora quando vê seus filhos se comunicando via internet, tomando posições e deixando claro que o poder está saindo do controle deles e migrando para  a juventude.

Quando escreveu o Posfácio, em julho passado, Castells identificou como o mais significativo nas manifestações brasileiras as reações das instituições políticas (e consequentemente daqueles que as defendem ou vivem delas), que classificaram os protestos como demagógicos, golpistas e irresponsáveis. Verdade, mas essas classificações não foram apenas dos empoderados do momento. A oposição torcia quieta para que tudo acabasse logo, porque também ela defende esse modelo, um modelo que não coloca o ser humano como centro das ações a não ser quando se torna necessário usá-los para se atingir algum objetivo político eleitoreiro.  

Castells quando escreveu o Posfácio deixou claro ser uma questão em aberto se as manifestações levariam a uma interação real entre a política das ruas e a política das instituições.

A impressão que se tem hoje, quase cinco meses depois, é que os políticos continuam a agir como se não precisassem prestar contas a ninguém, como alguém que “vê os votos como se fossem seus, seus cargos públicos como direito próprio e suas decisões como indiscutíveis. [...} A democracia foi reduzida a um mercado de votos em eleições realizadas de tempos em tempos, mercado dominado pelo dinheiro, pelo clientelismo e pela manipulação midiática”

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário