Como viajei meio às pessas no final de semana, acabei não publicando aqui no Blog meu artigo veiculado na Folha do Estado de Mato Grosso. Desta vez o paapo foi sobre o olhar do pensador espanhol Manuel Castelles sobre os movimentos de rua no Brasil... Agora pago esta dívida:
O OLHAR DE MANUEL CASTELLS SOBRE O BRASIL DAS RUAS
Em maio, quando as manifestações de
ruas começaram a ganhar corpo no Brasil, Manuel Castells, considerado o
principal pensador da atualidade sobre a
sociedade em rede e os movimentos sociais que dela nascem, veio ao Brasil para
preparar o lançamento de seu novo livro Network
of Outrage and Hope, que traduzido no Brasil seria lançado na Bienal do
Livro no Rio, no final de agosto, inicio de setembro pela Zahar Editores, com o
titulo
Redes de Indignação e Esperança –
Os Movimentos Sociais na Era da Internet. No livro ele fazia uma análise de
movimentos sociais recentes, como a Primavera Árabe, a revolta dos Indignados
na Espanha e o Occupy nos Estados Unidos.
Nos vinte dias que passou aqui entre
debates e entrevistas, as manifestações cresceram tanto que ele e os editores
brasileiros decidiram acrescentar um Posfácio com analise dos protestos no
Brasil e antecipar o lançamento do livro para julho, para que ele chegasse às
livrarias ainda no calor do grito nas ruas.
Neste Posfácio Castells começa
escrevendo “Aconteceu também no Brasil e sem que ninguém esperasse”, E termina
afirmando que “Pois o que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento
dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens que tudo o
que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados.”
Castells bate na tecla de que a
alegria de o Brasil sediar mais uma vez uma Copa do Mundo transformou-se “num
negócio mafioso de corrupção em grande escala da qual participam empresas de
construção, federações nacionais e internacionais e administrações publicas de
diversos níveis [...]”.
Para o sociólogo espanhol, que é
professor em duas universidades americanas, o grito que ganhou as ruas saiu das
entranhas de um país onde há anos adotou-se um modelo de vida que ignora as
dimensões humanas e ecológicas do desenvolvimento. Esse modelo, de acordo com
ele, que é “centrado no crescimento a qualquer custo”, não assume a nova
cultura de dignidade e de vida que não seja baseada no consumo desenfreado.
Ele não passa ao largo da educação,
também, e repete uma das lutas dos professores de instituições publicas de
ensino superior ao realizarem a maior greve da historia, que parou as
universidades por 127 dias: esse modelo não entende que a “escolarização sem
uma verdadeira melhoria do ensino não é educação, mas armazenamento de crianças
[...]”.
Para Castells, as manifestações que
começaram na Tunísia e se estenderam por diversos países, derrubando governos
ou fazendo com que eles se mexessem, é um mundo que a “gerontocracia dominante
não entende, não conhece e que não lhe interessa [..]” mas que a apavora quando
vê seus filhos se comunicando via internet, tomando posições e deixando claro
que o poder está saindo do controle deles e migrando para a juventude.
Quando escreveu o Posfácio, em julho
passado, Castells identificou como o mais significativo nas manifestações
brasileiras as reações das instituições políticas (e consequentemente daqueles
que as defendem ou vivem delas), que classificaram os protestos como
demagógicos, golpistas e irresponsáveis. Verdade, mas essas classificações não
foram apenas dos empoderados do momento. A oposição torcia quieta para que tudo
acabasse logo, porque também ela defende esse modelo, um modelo que não coloca
o ser humano como centro das ações a não ser quando se torna necessário usá-los
para se atingir algum objetivo político eleitoreiro.
Castells quando escreveu o Posfácio deixou
claro ser uma questão em aberto se as manifestações levariam a uma interação
real entre a política das ruas e a política das instituições.
A impressão que se tem hoje, quase
cinco meses depois, é que os políticos continuam a agir como se não precisassem
prestar contas a ninguém, como alguém que “vê os votos como se fossem seus,
seus cargos públicos como direito próprio e suas decisões como indiscutíveis.
[...} A democracia foi reduzida a um mercado de votos em eleições realizadas de
tempos em tempos, mercado dominado pelo dinheiro, pelo clientelismo e pela
manipulação midiática”
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