segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

BALANÇO DE UM GOVERNO NADA MAIS QUE MODESTO -II

Maurelio Menezes

Aqui no Rio brinca-se muito que  usar o termo flamenguista doente é pleonasmo, já que todos os flamenguistas são doentes. Pode-se aplicar o mesmo aos petistas e especialmente aos lulistas. Para alguns com quem conversei "considerar que o governo de Lula foi nada mais do que modesto é um ultraje". Outros com quem não conversei com certeza compactuam com esse pensamento. Para eles, os números não merecem crédito, porque números que depõem contra o Santo Lula são números conspiratórios de uma direita nacional e internacional, etc., etc. Para eles, por exemplo, nunca antes na história deste país a economia obteve tanto sucesso. Não é o que dizem os fatos.

Um tucano para salvar o PT
A estabilidade da economia nos dias de hoje é consequencia do Plano Real, o mesmo que foi detonado pelo PT, por Lula, que o taxou de mais um estelionato eleitoral, e contra o qual o PT votou e boicotou por 8 anos de todas as formas que pode. Quando assumiu, sem ter política economica alguma, Lula foi buscar no que chamavam de neoliberalistas alguém para conduzir a política economica. Primeiro pensou-se em Arminio Fraga, chamado pouco tempo antes de assecla do megaespeculador Georges Soros. Sem condições de conseguir sua aquiescencia, apelou-se para o tucano de Goiás Henrique Meirelles, ligado radicalmente ao capital internacional, que deu continuidade à política economica tucana, aquela mesma metralhada incansavelmente pela base de Lula. Aqui um mérito de Lula. Consciente que não tinha política economica deu autonomia ao Banco Central, o que garantiu a estabilidade do Real. Mas no que estava além dos poderes de Meirelles, a história foi outra.

Um exemplo: a reforma tributária tão exigida nos tempos de oposição e realmente necessária ao Brasil também foi convenientemente esquecida pelo governo Lula. Para não ficar feio, o governo enviou duas propostas ao Congresso. A primeira em 2003, por orientação do próprio governo, foi retalhada no Congresso e no final teve apenas algumas coisas, todas contrárias ao brasileiro e favoráveis à sanha arrecadadora do Executivo (o que justiça seja feita não é caracteristica apenas desse governo, mas de todos). Um dos pontos aprovados em 2003 foi a prorrogação da CPMF de 0,38% sobre a novimentação financeira. Aliás, a mesma CPMF foi responsável pela maior derrota do governo Lula no Congresso, ao ser derrubada cinco anos depois. A segunda proposta de Reforma Tributária foi enviada ao Congresso em 2008 e até hoje não entrou na pauta de votações, por manobras especialmente da base do governo. Em outra palavras o executivo enviou a proposta para fazer média com a platéia, mas nos bastidores orientou a  base a não aprová-la. Aliás, a sequer discutí-la.

Um dos argumentos que os defensores do Lulismo sempre usam quando se fala em economia é a queda do dolar que há muito tempo est abaixo dos dois reais, depois de, no final do governo FHC, ter chegado a mais de quatro reais. Eles fingem não saber que o dólar somente chegou a esse patamar por causa do risco que o mercado enxergava numa possivel vitória de Lula na eleição de 2002. Depois quando o sistema financeiro percebeu que ele seria muito mais bonzinho com os bancos que todos os governos anteriores, relaxaram. A comprovação disto está no faturamento do sistema financeiro. Nunca antes na história desse país o banqueiros ganharam tanto dinheiro. Nunca os bancos lucraram tanto. Nos 30 primeiros meses do Governo Lula, os banqueiros tiveram um ganho real de cerca de 12% contra uma inflação de menos de um por cento. Em reais as dez maiores instituições financeiras do pais lucraram pouco mais de 23 bilhões e meio de reais.

Mas isso foi apenas o começo. Ao final dos 8 anos de governo os bancos  registram o estratosférico lucro de 420% em relação aos 8 anos do governo FHC. Um dos motivos deste lucro, de acordo com especialistas, foi que os bancos, a partir de 2003, tiveram autorização para cobrar mais tarifas e a emprestar com juros muito elevados se considerados o mercado internacional. Como o Estado é o maior devedor, dinheiro que deveria ser aplicado em Educação, Saúde, Infra Estrutura acabam no bolso dos banqueiros.  Essa situação levou o canditado a presidencia pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, a cunhar o bem humorado termo Bolsa Banqueiro que ele considerava o grande vilão do país hoje.A Divida Pública brasileira hoje está acima do um trilhão e 400 bilhões de reais. o resultado disso é um desastre total. No governo FHC a soma das dividas interna e externa estava em cerca de um trilhão e 100 bilhões, portanto menor do que é hoje apenas a dívida interna. Para se ter idéia do que isso significa, o governo federal paga por mês de juros dessa dívida muito mais que o orçamento anual de ministérios como o da Educação, Saude e de investimentos como o Bolsa Familia.

A linha vermelha marca o inicio do governo Lula
O governo Lula propagandeou que acabou com a dívida externa brasileira. Mentira. O então Ministro Antonio Pallocci pagou sim, antecipadamente, a dívida que o país tinha com o FMI. Mas só e com um detalhe. Para fazer isso aumentou estupidamente a divida interna brasileira. Para se ter uma idéia mais detalhada, em 1999, quando a dívida externa brasileira chegou a seu ponto mais critico, cerca de 225 bilhões de dólares, o país pagou só de juros o absurdo de 60,7 bilhões de dólares.  Em 2007, só de juros da divida interna, o governo Lula pagou 90 bilhões de dólares.

O desastre da economia se estendeu aos salários. O aumento real de pouco mais de 44% do salário mínimo aparentemente afirma o contrário. Mas a leitura desses números deve ser feita de outra forma. De acordo com o DIEESE, que quando oposição o PT usava para exigir aumento do Mínimo, este salário deveria ser hoje de 2 mil e 300 reais. Mas um valor assim quebraria o país, porque os demais salarios foram achatados pelo governo. Joga-se para o público que o poder de compra do brasileiro aumentou. Também não é verdade. O que há de fato é que com o Real estável pode comprar com certeza que o amanhã não reserva surpresas. E podia-se comprar qualquer coisa em até 60 vezes (até a compra de deputados no Mensalão  foi parcelada). escrevi podia porque passada a eleição veio a realidade: há dez dias para você comprar alguma coisa em 60 vezes, precisa dar entrada de 40%. Como ninguem tem esse dinheiro, ou não compra ou paga carissimo por isso. O que as empresas, de concessionarias de carros a lojas de varejo, estão fazendo é simular uma entrada e cobrando juros mais altos para compensar. Assim, a prestação de uma carro, por exemplo, que tinha embutido um juro de algo em torno de 1,2% hoje tem 2,8%.

Tal filho tal pai?
E essa é apenas mais uma das constatações dos numeros que apontam para a inexistencia de uma política economica do governo. Há outros exemplos. Mas eles se mostram desnecessários. E demonstram claramente que Lula realmente é um fenomeno pois termina seus 8 anos com 75% de ótimo e bom apesar de ter comandado um governo realmente nada mais do que modesto. Alias, essa é uma característica da familia Lula da Silva. Afinal, o filho dele, Lulinha transformou-se da noite para o dia de um tratador de animais num bilionário sócio de grupos como o da Rede Bandeirantes de Televisão. (A reportagem que mostrou essa ascensão meteórica publicada pela Veja foi alvo de protesto de Lulinha que processou a revista. A sentença da juiza Luciana Novakoski (confira aqui) é um primor.)

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