Maurelio Menezes
O sexto Olhar sobre mulheres que, como Dilma Roussef, foram as primeiras a assumir o comando de seus países é sobre uma mulher cujo sobrenome lembra paz, que fez esforços no sentido de conseguí-la, mas que não pensou duas vezes quando precisou ir á guerra e acabou vitima da violencia, assassinada por dois de seus guarda costas. Os primeiros cinco olhares (acesse clicando nos nomes) foram sobre a israelense (nascida na Ucrania) Golda Meier, a argentina Isabelita Perón, a bela paquistanesa Benazir Bhutto e a alemã Angela Merckel e a britanica Margareth Tatcher. Todas e mais Indira Ghandi, a personagem de hoje, tomaram posse como grandes esperanças e usando como figura de marketing o fato de serem a primeira mulher a governar seus países. Todas, apesar disso e de algumas conquistas, fracassaram no essencial. O motivo? Essas mulheres, como ja escrevi nos Olhares anteriores têm em comum um pequeno detalhe: na campanha nenhuma delas se apresentou como candidata das mulheres ou se preocupou em apresentar propostas especificas para humanização das condições de saúde, educação, emprego, enfim, de qualidade de vida das mulheres. Ela têm em comum, também, o fato de ao longo da vida não terem se destacado como representantes legítimas das mulheres, até por fazerem política num mundo dominado por homens e sua falta de sensibilidade, sua quase tosca relação com a vida, ou seja, biologicamente são mulheres, mas ideologicamente não o foram como por exemplo foram, entre tantas outras, Voltarine de Cleyre e Margaret Sanger no final do sec. XIX, Simone de Beauvoir, Betty Friedan em meados do século passado ou as brasileiras Nisia Floresta e Pagu. Em comum a essas mulheres mais um detalhe, este triste e lamentável: com o fracasso em setores fundamentais, todas, em maior ou menor grau, apesar de conquistas,e com certeza involuntariamente, fizeram muito mal a seus países.
O olhar quase sempre distante, frio, triste até, contrastando com o sorriso das fotos posadas mostra bem o contraste que foi a vida de Indira Gandhi, adorada e odiada por milhões. Apesar do nome, ela não tinha parentesco algum com Mahatma Gandhi. Nascida Nehru, ganhou o Gandhi de seu marido, Feroze, que também não o tinha, mas o acrescentara por motivos políticos. Para alguns teóricos foi uma das mais destacadas políticas da história, porque tinha o raro poder de convencer multidões.
Antes se se transformar, em 1966, na primeira mulher a comandar a patriacalista India, Indira fora Presidente do Congresso e Ministra da Informação e Radiodifusão. Seu primeiro ato foi se unir à esquerda e destruir as lideranças tradicionais do Congresso. Foi considerada uma excelentre estrategista porque concentrou o poder em si própria, escolhendo auxiliares fracos, além de disseminar a cisão no Congresso para criar seu próprio partido.
Em 1971 foi reeleita convencendo a multidão que iria mudar a vida dos indianos (seu slogan era Garibi hatao! ou Acabar com a pobreza!). Não cumpriu, mas a exemplo de Margareth Tatcher fez da guerra uma ação de marketing, transformando o Paquistão em suas Ilhas Malvinas, com um detalhe: na guerra os paquistaneses eram apoiados pelos Estados Unidos. Mesmo assim Indira conseguiu que fosse criada a República de Bangladesh, o que elevou a auto estima do povo que, mais que nunca passou a adorar Indira. Na época, de acordo com o instituto Gallup, o mais conceituado do mundo. Indira era a governante com maior apoio popular no mundo.
A partir daí a ascenção de sua popularidade foi meteórica, mas na década de 70 despencou, quando foi acusada de crimes eleitorais na reeleição de 1971. Ao ser considerada culpada pela Corte, e ter seus direitos suspensos por seis anos, Indira disse que iria dar um tempo na democracia, dando um golpe, declarando Estado de Emergencia, e passando a governar o país de forma ditatorial.
Foi nessa época que tomou suas decisões mais polemicas mas que tiveram grande apoio popular, como, na contramão do que apontavam os economistas, nacionalizar os bancos (muitos bancos provados haviam falido e arrastado parte do depósito do povo com eles). Indira também interrompeu o pagamento de pensão pessoal á casta dos príncipes que haviam perdido o poder com a independencia do pais.
O grande programa de Indira foi realizado na agricultura, onde diversificou a cultura e deu um passo grande no combate à fome no pais.Conhecido como Revolução Verde o programa foi fundamental para que a India se tornasse autosuficiente na produção de cereais, o que praticamente acabou com a importação de grãos pelo país. Esse esforço fez com que ela passasse a ser conhecida como a Mãe da India. Mas nem isso foi suficidente para impedir sua derrota em 1977 que aconteceu extamanente em função das medidas que tomou contra a liberdade, e que levaram o povo a pensar num retrocesso que os levasse ao estado anterior à independencia.
Entre essas medidas, criticadas em todo o mundo livre, estavam a redução das liberdades civis, dissolução das Assembléias oposicionistas, perseguição, prendendo e, de acordo com denuncias, mandando torturar lideres da oposição. Os meios de comunicação foram censurados e boicotados (frequentemente ela mandava cortar a energia elétrica dos prédios onde eles funcionavam). Com maioria no Congresso editou leis cada vez mais duras sempre sem discussão nem debate. Sua derrota em 1977 foi saudada no mundo como a queda de mais uma ditadura.
Apesar do apoio das classes mais pobres e mais jovens, que a levou de volta ao poder em 1979 (ela governou de uma forma mais branda até ser assassinada em 1984), até hoje sua passagem pelo poder é controversa, pelo período ditatorial e pela guerra aos sikhs considerada por muitos como o maior genocídio da história do país e pelo qual a responsabilizam totalmente. Somente na invasão do Santuário Harmindar Sahib seus soldados mataram quase cem soldados sikhs e cerca de 500 civis. As posições belicistas de Indira criaram uma comoção entre seus seguidores que passaram a perseguir os sikhs e em apenas uma destas investidas mataram mais de dois mil inocentes.
Indira foi assassinada por dois guarda costas, Beant Singh, que foi morto no próprio local do assassinato, e Satwant Singh, enforcado quatro anos depois. Indira foi substituida pelo filho mais velho, Ragiv Gandhi, que em 1991 teve o mesmo fim da mãe (o filho mais novo dela, Sanjay, morrera num atentado em que o avião que estava explodiu no ar). A viuva dele, Sônia Gandhi, que é italiana, conseguiu, na base da emoção, formar uma grande coalização e levar o partido do marido à vitória nas eleições de 2004, mas se recusou a assumir o cargo de Primeira Ministra, afirmando que o sangue dos Gandhis não correrá mais pela India.
Feliz e satisfeita após a jornada desta leitura
ResponderExcluirexemplar. Fatos novos somam-se ao pouco conhecimento que eu possuía desta estadista tão controversa.
Certamente que nossa Dilma ROussef será a primeira mulher a nos honrar com a precisão de suas medidas.
Eu também não conhecia Dilma Roussef, só de ouvir falar.
Agora creio que tenho informações suficientes
para dar lastro à minha convicção de que será
um governo à altura das expectativas criadas.
E te agradeço de coração por esta pérola de matéria.