domingo, 28 de novembro de 2010

OLHARES SOBRE A "GUERRA URBANA" NO RIO - I

Maurelio Menezes

O filósofo francês René Descartes fez da dúvida a principal ferramenta para se biscar um conhecimento seguro. Santo Agostinho preconizava que a dúvida é o principio da sabedoria. Pessoalmente, tenho a dúvida como minha principal conselheira e absolutamente todos os momentos. E não é por outro motivo  que frequentemente duvido de minhas próprias convicções. Por isso mesmo desde o dia em que começou a chamada crise da segurança no Rio venho me questionando o que existe por trás disso tudo? Quais os interesses que estão por trás dessa ação, que começou de repente, sem um motivo aparente? A partir de hoje vou postar aqui uma série de consideçãoes, resultados dessas dúvidas e que compõem meu Olhar sobre essa suposta guerra urbana

Nas ultimas semanas, a cada dia se solidificou mais a imagem da história da Vaca na Sala. Você não conhece a história? O sujeito não aguentava mais tantos problemas em casa, que envolviam a mulher, os filhos, as finanças, a saúde, enfim tudo. Procurou um desses gurus de auto ajuda, que o aconselhou a colocar uma vaca na sala. Dias depois ele voltou a procurar o guru afirmando que a situação piorara muito, porque, além de todos os problemas anteriores, agora tinha a vaca sujando a casa derrubando móveis, enfim, provocando o caos. O guru então lhe sugeriu que tirasse a vaca da sala. Ele seguiu a orientação e dias depois voltou feliz porque todos os problemas provocados pela vaca já náo existiam.
Frequentemente, e em Comunicação,  estudamos e aprendemos isso: numa sociedade do espetáculo como definiu Guy Débord, nada melhor que um espetáculo para se esconder alguma coisa ou se desviar atenção de um problema maior( e se o espetáculo não existir necessário é que ele seja montado). Mas qual seria esse problema? Afinal, os ataques incendiarios a carros e ônibus são reais. Imagens como as que invadiram nossas retinas nos últimos dias não se tratam de ficção. Mas alguns detalhes chamam atenção: a maioria dos veiculos incendiados foram ônibus e Vans, que apoiam o transporte coletivo no Rio. Todos, absolutamente todos, os incêndios foram em locais de bastante visibilidade e em horas sem muito trânsito, ou seja, mandava-se um recado e tinha-se campo livre para fuga. Poucas vezes houve feridos, isto é, os incendiários, traficantes ou não, não queriam atacar a população.


Inauguração da UPP do Morro do Turano
Para se entender o que está acontecendo, talvez seja necessário se voltar um pouco no tempo. No final do ano passado, já de olho na reeleição, Sérgio Cabral criou uma política de segurança em parceria  com o Governo Federal, que por sua vez estava de olho na eleição de Dilma, àquela altura patinando nos 20% das intenções de voto. As UPPS -Unidades de Policia Pacificadora- surgiram como a panacéia para todos os problemas da segurança do Rio e um exemplo para o Brasil. A polícia invadia uma comunidade (estão usando o termo comunidade de forma errada, dando a impressão que se trata de um lugar onde vive um bando de gente pobre, sem voz e sem força) e ficava lá com instalação de dependências definitivas. Seria maravilhoso se não se tratasse apenas de uma peça de propaganda, no melhor estilo de Goebels. As inaugurações das UPPs sempre foram realizadas com com grande pompa e com a presença do Governador e em alguns casos do próprio Lula, que participou da inauguração da UPP do Dona Martha, em Botafogo, Zona Sul do Rio. No primeiro comício de Dilma no Rio, sempre ao lado de Lula, é claro, os dois falaram pelo menos 10 minutos cada um sobre as UPPs. Cada UPP, pela sua configuração, teria um quadro com a média de um policial para cada 30 habitantes, ou seja, apenas para o Rio, seriam necessáros 300 mil policiais para trabalhar exclusivamente nas UPPs. Num dos comícios que fez no Rio, para adoçar os olhos especialmente da classe média, Lula irresponsavelmente cometeu o absurdo de afirmar que o modelo das UPPs seria implantado em todo o país no governo Dilma. Em outras palavras, só para as UPPS teriamos que ter um efetivo de 7 milhões de políciais com equipamentos, armas e tudo que uma unidade exige, o que, todos sabem, é tão possivel quanto o Flamengo ser campeão brasileiro de 2010.

Essa ofensiva com o Exercito, Marinha (aliás, porque não convocaram também a Aeronatitica?), e todas as forças locais tornariam desnecessária a curto prazo novas investidas nas UPPs pois  o tráfico estaria liquidado. Estaria? Qual o lider que foi preso na invasão do Alemão? Não chegaram ao asfalto onde estão os verdadeiros benefeciados do tráfico. Assim até agora tudo foi jogo de cena, tudo propaganda. Tudo pirotecnia para desinformados verem.

Amanhã a gente conversa sobre outro aspecto dessa guerra que não é guerra, desse espetáculo circense montado para desviar a atenção das centenas de problemas do Rio que não é isso, uma terra de ninguém. problemas que o governo Cabral jamais conseguirá resolver, não por ser o governo Cabral, mas por se tratar de problemas acumulados ao longo de séculos de cuidados superficiais, cuidados superficiais presentes também no governo Cabral.

Um comentário:

  1. Nos cariocas ja sabiamos q as UPPs trariam os traficantes para o asfalto. Mas, achavamos q nossos lares seriam saqueados e nos seriamos assaltados, na falta do ponto de venda de droga. É realmente estranho q a açao dos traficantes tenha sido outra. Queima de carros, onibus etc.
    Estou perplexa com os acontecimentos. Só nos resta aguardar o fim da história, ou começo de novo drama

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