terça-feira, 26 de outubro de 2010

A ESQUIZOFRENIA AMERICANA (E BRASILEIRA)

Maurelio Menezes

Hoje á tarde numa troca de mensagens  no Twitter com @adrianavandoni sobre a retomada das discussões de formação de Conselhos de Jornalismo e o perigo que isso pode representar. Adriana tascou um esquisofrenia  em vez de esquizofrenia. Nao demorou e @netogabiru a corrigiu @joubertlobato entrou na brincadeira e ai foram varias mensagens bem humoradas. Lembrei-me de um artigo que escrevi em 2002 quando assinava a coluna Olhares no RMTonline comentando o filme Uma Mente Brilhante sobre a vida do Prêmio Nobel de economia John Nash. Decidi então republicar o artigo porque ele cai bem hoje por diversos motivos. Mude o país e você encontrará muitos esquizofrenicos por aqui. Bem pertinho de você. E por motivos e interesses bem diferentes dos que o governo americano tinha pra montar um esquema de espalhador de mentiras. Ou será essa apenas mais uma esquizofrenia minha?


Olhares - Maurelio Menezes

A Esquizofrenia Americana
19/02/2002

Está em cartaz nos cinemas a versão água com açúcar da história de John Nash, matemático que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 1994. Indicado para oito Oscars, inclusive os de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Atriz Coadjuvante, Uma Mente Brilhante mostra a vida conturbada do homem que revolucionou a economia moderna, a partir de uma constatação, que ficou conhecida como O Equilíbrio de Nash.
John Nash provou que a lei da oferta e da procura, desenvolvida por Adam Smith, estava errada. Desde os anos cinqüenta economistas de todo o mundo questionavam essa teoria, mas ninguém provara que ele estava errado, embora tenham surgido alguns arremedos de contestação. Para Nash, e o filme mostra isso muito bem, tudo não passava de um jogo: quando um jogador compreende a estratégia do adversário, fica estabelecido o equilíbrio já que não tem alternativa para alterar sua posição, uma vez que, para cada alternativa, há uma jogada correspondente. Foi o que revolucionou a teoria dos jogos, vertente da economia que analisa a tomada de decisões estratégicas.
A partir dessa constatação tão simples, economistas podem determinar, por exemplo, quando e em que circunstancias empresas e consumidores podem agir de forma irracional. Mas não foi apenas à economia que o conceito de equilíbrio de Nash serviu. Durante a Guerra Fria, o Pentágono usou e abusou da teoria para entender e enfrentar o perigo vermelho. John Nash, inclusive, prestou serviços nesse sentido.
O interessante é que a vida de Nash tem mais em comum com o pensamento do governo americano do que possa se imaginar. Ele foi vítima de esquizofrenia paranóide, uma doença onde personagens que convivem com a pessoa são frutos da imaginação quase sempre associada a uma espécie de teoria da conspiração, onde o mundo está contra o doente. E essa doença é uma marca registrada do big brother. A mais recente manifestação dela é a decisão de se divulgar informações, falsas ou verdadeiras, para se combater o inimigo, influenciando o público estrangeiro a apoiar as ações americanas.
Logo após os atentados de 11 de setembro, foi criado um escritório para desenvolver uma estratégia de marketing. Para comandá-lo foi contratada uma publicitária. Acabou a guerra contra a Al Qaeda? Pois que venha outra, afinal os inimigos estão aí. Não importa se eles são frutos da esquizofrenia paranóide do Pentágono e da Casa Branca.. Eles precisam ser combatidos. Para isso nada melhor que usar, ainda que de forma desonesta, a mais poderosa arma da atualidade, a informação. A divulgação de informações falsas pode ter conseqüências desastrosas? Para o esquizofrênico nada importa a não ser saciar os insaciáveis personagens de seu mundo, aqueles mesmos personagens que nós, os loucos, não acreditamos ser reais. Sim porque, para eles, todos nós somos loucos. Somente eles são normais.
No filme, John Nash tinha certeza que os personagens eram reais. Mas acabou convivendo com a esquizofrenia e passou a relativizar essa certeza a partir de uma constatação brilhante, quase matemática, a de que um dos personagens, uma menina, nunca envelhecia. Depois disso, ele passou a viver melhor. Só resta saber se algum dia os Estados Unidos vão também relativizar as certezas que têm sobre os outros. Se isso acontecer, o mundo vai viver melhor. Afinal, todos nós deixaremos de ser loucos, passaremos a ser normais com todas as loucuras que fazem da vida uma maravilhosa aventura

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