sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PESQUISAS FRAUDADAS

Maurelio Menezes

Pesquisas eleitorais são sempre criticadas por aqueles que não pagaram por elas ou que não são por elas beneficiados.Com poucas variações, candidatos normalmente têm o mesmo discurso: Não comento pesquisas porque elas quando são corretas refletem apenas um momento. E eles não estão errados, porque além de refletir apenas um momento muitas vezes refletem apenas os $$$ que por ela foram pagos.
Em relação a refletir o momento, o IBOPE, considerado um dos mais sérios institutos, mas sempre criticado quando o resultado não é o esperado, tem algumas normas de divulgação. Uma das principais é que o resultado somente pode ser divulgado até um determinado dia, porque depois dele perde a validade. Preocupação válida que a maioria dos institutos não tem. Aqui em Mato Grosso, por exemplo, é comum resultados de pesquisas continuarem a serem citados até semanas depois do vencimento do prazo de validade, o que é, no mínimo, suspeito.
Um parâmetro para se saber o tamanho da descrença das sondagens eleitorais está no Google, Ao digitar pesquisa fraudada, em menos de um segundo ele te apresentará quase 900 mil resultados. Não é prá menos. A todo momento se descobre manipulações. Há poucos dias Cesar Maia, economista, estudioso de pesquisas e dados, ao analisar pesquisa do Vox Populi favorável a candidata do PT à presidência (de quem ele é adversário) concluiu que a fraude estava na amostra. De acordo com ele, para que os números da região Sudeste estivessem corretos, a população do Espírito Santo deveria ser bem maior do que ela realmente é.
Essa é uma das fraudes mais comuns, a da amostra. Explicando melhor: numa pesquisa usa-se uma Amostra de um Universo. Universo é, no caso, o numero total de eleitores. Amostra uma parte dos eleitores. Para ser correta, a amostra deve representar cientificamente o universo, ser proporcional em todos os sentidos: sexo, classe social, econômica, cultural, de faixa etária, e principalmente, por localização geográfica. Qualquer distorção na amostra vai fraudar o resultado. Um exemplo: Cuiabá concentra supostos 25% do eleitorado de Mato Grosso. A amostra tem que contemplar esses 25% com todas as suas subdivisões (sexo, idade, classe social, instrução, etc.). Se houver uma variação sequer o resultado estará comprometido.
A legislação eleitoral é falha em todos os sentidos quando o tema é pesquisa. Ela não deveria, por exemplo permitir a divulgação de pesquisas pagas por partidos nem pesquisas sobre eleições estaduais feitas em cidades. Estas até podem ser feitas, mas para consumo interno dos partidos com o objetivo de definir estratégias a serem adotadas nesta ou naquela cidade. Divulgá-las pode até criar um imaginário de vitória para candidatos que estão fora do páreo. A legislação poderia restringir, também, a ação de institutos exigindo, por exemplo, um determinado número de anos de experiência como condição para ter uma pesquisa registrada, já que a cada eleição surge misteriosamente um novo instituto de pesquisa que ninguém sabe de onde veio, mas a maioria das pessoas sabe prá que veio.
O registro puro e simples de uma pesquisa num tribunal eleitoral não significa que ela não seja fraudada, pois o tribunal não a analisa. O correto seria o tribunal ter uma equipe de estatísticos que a analisassem antes da aprovação da divulgação. Um técnico do TRE certa vez comentou comigo que se as pesquisas fossem analisadas pelo próprio tribunal, 90% delas não seriam divulgadas.
Por isso alguns candidatos, inclusive especializados em, no voto, desmentir pesquisas estão certos quando afirmam que a verdadeira pesquisa é a das urnas. E lá, quem vai decidir é você que vai construir o seu olhar sobre cada um dos candidatos a partir de suas convicções e da história desses candidatos em sua relação com a coisa pública, com a educação, saúde, assistência social, etc...

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