sábado, 21 de agosto de 2010

PRIORIDADE DO GOVERNO DE MT: FAZER POLITICA

Adriana Vandoni
O estado tem mais comissionados e focos de incêndio, que bombeiros

Original publicado em Prosa & Política em 21/08/210


Dias atrás publiquei em Prosa & Politica um comentário feito pelo jornalista Vila, do ClickMT, onde ele afirmava que o número de policiais nas ruas de MT é menor que o número de comissionados. O blog resolveu então buscar mais informações para, através dos números oficiais, traçar qual é a linha de prioridades do governo de Mato Grosso. Os comissionados, antes chamados DAS, agora transformados em DGA, são cargos de indicação política. Raros são os casos em que funcionários de carreiras ocupam um DGA por merecimento, sem a interferência de políticos. As secretarias estaduais são literalmente loteadas. Um caso que ocorreu recentemente e foi relatado ao blog, de um funcionário que chegou para um DGA e afirmou: o deputado fulano quer que eu ocupe um cargo de direção e eu quero o seu. Simples assim. O fato só não foi consumado porque o tal deputado fulano teve sua força reduzida nas últimas semanas.

Ao todo o governo de Mato Grosso tem hoje 7.368 cargos comissionados. Desses, 2.089 sequer possuem vínculo de carreira. Vale lembrar que em 2003, quando Blairo Maggi assumiu o governo, o estado não tinha mais que 600 comissionados.
A justificativa usada pelo ex-secretário de Administração, Geraldo de Vitto, que deixou a secretaria meses atrás, depois do escândalo do superfaturamento na compra de máquinas, de que o Estado cresceu, a arrecadação aumentou, etc, etc, etc., e que “a administração também tem que acompanhar, não pode ficar para trás” (leia aqui), não vale para todas as áreas.
Áreas estratégicas continuam padecendo por falta de pessoal, como a segurança pública. No estado que abriga o município proporcionalmente mais violento do país, o número de comissionados é maior que de policiais nas ruas. Enquanto o estado possui 7.368 comissionados (entre de carreira e não), a Polícia Civil tem meros 1.787 investigadores para cobrir um estado com 141 municípios e quase 3 milhões de habitantes. Segundo dados da Secretaria Nacional de Justiça, de 2003 pra cá, em Mato Grosso na relação habitante por profissional de segurança pública diminuiu 1,92%. Ou seja, o efetivo não tem acompanhado a crescimento populacional.
A situação se agrava mais quando comparado o número dos comissionados com o número de bombeiros. Numa área de 906.069km2, Mato Grosso que todo ano tem uma severa temporada de seca, a cada ano mais rigorosa e propícia a incêndios, o estado possui 903 bombeiros, precários equipamentos e nenhum avião de combate a incêndios. No início de agosto a cidade de Marcelândia foi destaque na midia nacional em função de uma tragédia. O município, 710 quilômetros ao norte de Cuiabá, foi tomado por um incêndio iniciado no lixão da cidade, que destruiu 80% de sua área industrial e queimou cerca de 100 casas. Marcelândia, que todo ano sofre com a seca e com focos de incêndio, não tem corpo de bombeiros. Aguardou por quase 12h a ajuda do município de Sinop, o mais próximo a ter corpo de bombeiros.
Como o estado não possui aeronave própria para combater fogo, um contrato às pressas foi fechado entre o governo e a empresa Tucano Aviação Agrícola, no valor de R$ 1.022.000,00 (um milhão e vinte e dois mil reais) para trabalhar durante dois meses, conforme contrato abaixo.
O absurdo chega a tal forma que na última quinta-feira, dia 19, segundo o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o estado de Mato Grosso registrou 1.317 focos de incêndio. Não temos sequer um bombeiro para cada foco. No ano já foram registrados pelo INPE, 30.451 focos (até o dia 19/08).
Através dos números, constata-se que a prioridade da administração pública do governo de Mato Grosso é fazer política, não buscar o bem estar da população. Em casos trágicos como o do município de Marcelândia e região, que todo ano enfrentam os mesmos problemas de seca e incêndios, o governo, deliberadamente, está assumindo o risco ao não prevenir, nem equipar.

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